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Na eleição mais concorrida em 20 anos, Erdogan enfrentará oposição unida no domingo

É "a eleição do século" para os turcos. Neste domingo, 14 de maio, acontecem as eleições presidenciais e legislativas na Turquia. Há 20 anos no poder, Recep Tayyip Erdogan é novamente candidato e enfrentará Kemal Kiliçdaroglu, líder da coalizão de oposição. As pesquisas apontam um resultado muito próximo entre os dois candidatos.

A poucos dias da eleição, presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esquerda) apareceu atrás do líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, nas pesquisas de intenções de votos.
A poucos dias da eleição, presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esquerda) apareceu atrás do líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, nas pesquisas de intenções de votos. © Ozan Kose / AFP
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Alexis Bedu, correspondente da RFI, com agências

É a primeira vez em duas décadas que o líder encara uma oposição unida. Muharrem Ince, um dos quatro candidatos à eleição presidencial, anunciou nesta quinta-feira (11) que se retira da disputa – uma surpresa que prejudica Erdogan. Nas últimas pesquisas, o líder do partido Memleket (Pátria), de 59 anos, aparecia com entre 2% e 4% das intenções de voto.

Vários membros importantes de seu partido renunciaram nos últimos dias, preocupados com o fato de que a candidatura de Ince pudesse dispersar os votos da oposição para derrotar Erdogan. Ince justificou sua decisão afirmando que a aliança da oposição liderada por Kiliçdaroglu "vai colocar toda a culpa nele" se perder o pleito.

Nas eleições de 2018, Incer já concorreu com Erdogan, representando na época o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), e perdeu no primeiro turno. Depois, deixou a siga, a principal da oposição, e lançou em maio de 2021 seu próprio movimento, uma organização nacionalista laica.

Kiliçdaroglu, que agora é preside o CHP e também lidera uma aliança que reúne seis partidos, está em uma boa posição contra Erdogan – que tem perdido popularidade inclusive em seus bastiões eleitorais. Nesta semana, a pesquisa de opinião Konda apontou que o presidente teria 43,7% dos votos e Kilicdaroglu, 49,3%.

Desilusão após terremoto

Nurdagi, no distrito de Gaziantep, é uma cidade dizimada desde o terremoto de 6 de fevereiro. Oitenta por cento dos edifícios caíram ou foram destruídos pelo tremor. Ocupado consertando uma escavadeira, Ali, um pai de família de cerca de 40 anos, aponta para o prédio onde morava com a família: “Cinco pessoas morreram ali”, conta.

Com um boné do AKP na cabeça, partido do presidente, Ali é um eleitor fiel de Erdogan, mas este ano não votará nele, nem em seu partido nas eleições legislativas. “Um partido no poder há 20 anos deveria ter garantido a segurança destes edifícios. A responsabilidade é deles. Sempre apoiei Erdogan até agora, mas desta vez , eu e minha família não vamos votar nele”, afirmou à reportagem da RFI. "O governo é criminoso, mas nós também somos culpados, porque votamos nele todos esses anos e não deveríamos”, disse.

O prefeito de Nurdagi, do AKP, foi preso duas semanas após o terremoto. A população atingida pela tragédia denuncia uma conivência histórica entre as autoridades locais e alguns construtores sobre as regras urbanísticas.

Cinco anos atrás, Recep Tayyip Erdogan conquistou 76% dos votos na localidade, bem acima de seu desempenho nacional. Para alguns eleitores, apesar dos problemas, o presidente ainda é visto como a única solução para o país.

"Quando eu era criança, esperávamos horas para ir ao hospital, para abastecer o carro. Era só uma vez por semana. Tudo isso mudou”, garante. "Nosso povo é ingrato. Tayyip fez o possível. Respeito todas as pessoas que votam em partidos de esquerda, mas não vimos nada de concreto deles. Não tivemos benefícios”, avalia.

Contexto econômico delicado

Erdogan tem a vantagem da sua onipresença no país e na diplomacia. O principal programa de seu governo, "O Século da Turquia”, ainda seduz muitos eleitores, apesar da inflação galopante, em torno de 50%, segundo números oficiais. Economistas indicam que, na realidade, o índice é muito maior.

Além disso, o nível de endividamento da população é enorme: os créditos não pagos ultrapassam 30 bilhões de liras turcas, ou cerca de US$ 1,5 bilhão. O contexto econômico desfavorável pode influenciar a votação.

“As pessoas estavam acostumadas com a inflação em torno de 5 a 10% e, de repente, nos encontramos com 80% de inflação, algo que elas não aceitam bem”, aponta Haluk Tukel, economista em Istambul e consultor de empresas.

“Os turcos acreditaram muito no que Erdogan lhes dizia, mas estão começando a acreditar cada vez menos, especialmente nas promessas que ele faz se for reeleito. A pergunta muito simples que todos fazem é: 'Você governou por 20 anos, por que não fez tudo isso?’”, complementa.

Vendedor de batatas no mercado de Sultanbeily, em Istambul, aposta que "os preços vão cair" se oposição vencer as eleições de domingo (14).
Vendedor de batatas no mercado de Sultanbeily, em Istambul, aposta que "os preços vão cair" se oposição vencer as eleições de domingo (14). © Alexis Bédu / RFI

O preço da cebola tornou-se o símbolo da alta dos preços. No mercado de Sultanbeily, em Istambul, antigo reduto do AKP, o quilo da cebola está a 28 liras turcas (US$ 1,43). As palavras dos clientes e comerciantes são duras sobre o presidente em exercício.

"Todos estão à espera das eleições. Se Kemal Kiliçdaroglu chegar ao poder, os preços vão cair, tenho certeza", diz um vendedor, antes de um cliente acrescentar: “Todos nós fazemos horas extras para sobreviver. O atual governo tem que sair, senão o país vai acabar em pouco tempo”.

O segundo turno da eleição presidencial está previsto para 28 de maio.

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