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Em visita à China, Putin busca apoio na guerra contra a Ucrânia e reforçar parceria econômica

O presidente russo, Vladimir Putin, chegou à China nesta quinta-feira (16) para uma visita de Estado de dois dias. Esta é sua primeira viagem ao exterior desde sua posse para um novo mandato de seis anos e a segunda ao país em cerca de seis meses.

Presidente russo afirma que a China compreende as origens e o impacto geopolítico da guerra.
Presidente russo afirma que a China compreende as origens e o impacto geopolítico da guerra. AP - Sergei Bobylev
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Putin foi recebido durante uma cerimônia de boas-vindas em Pequim, em frente ao Salão do Povo, com vista para a Praça da Paz Celestial. A relação China-Rússia "não é apenas do interesse fundamental dos dois países e dos dois povos, mas também é propícia à paz", disse o presidente chinês, Xi Jinping. Putin descreveu a proximidade entre os dois países como "um fator de estabilidade no cenário internacional".

Um dos principais temas da visita é a guerra na Ucrânia e, neste contexto, o apoio à economia russa. A China e Rússia concordam sobre a necessidade de uma "solução política”, que é "o melhor caminho a seguir", disse Xi Jinping, que apareceu ao lado de Putin em uma coletiva de imprensa.

O presidente russo também agradeceu a China por suas "iniciativas" de paz em relação ao conflito, que teve início em fevereiro de 2022. Pequim, que nunca condenou a Rússia, pede que a integridade territorial de todos os países, incluindo a Ucrânia, seja respeitada, e as preocupações de seu aliado russo sejam levadas em consideração.

Em entrevista à agência oficial de notícias Xinhua, publicada na quarta-feira (15), Vladimir Putin elogiou o "desejo sincero" de Pequim de trabalhar para a resolução da crise ucraniana. 

Parceria estratégica

Os dois líderes também assinaram nesta quinta-feira uma declaração para aprofundar a parceria estratégica entre os dois países, segundo a imprensa estatal chinesa.  

A questão econômica é crucial para Moscou em meio à guerra na Ucrânia. A economia russa é alvo de várias sanções ocidentais. Mas, apesar das críticas da comunidade internacional, Xi Jinping defendeu o direito de manter os laços econômicos com os russos.

A China beneficia, em particular, das importações de energia russa a baixo custo. No início de 2022, pouco antes do início da invasão da Ucrânia, os dois países anunciaram uma parceria bilateral descrita como "ilimitada".

O eixo China-Rússia está, desta forma, se posicionando como uma alternativa ao Ocidente, segundo o analista russo Konstantin Kalachev. "Esta é a primeira viagem de Putin após sua posse. Ele pretende mostrar que as relações sino-russas estão atingindo outro nível", avalia. "Sem falar na amizade pessoal visivelmente sincera entre os dois líderes", conclui.

O aumento das visitas russas à China está se transformando em uma "espécie de tradição diplomática", explicou à RFI Emmanuel Véron, especialista em China contemporânea e pesquisador associado do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco).

Segundo ele, a ideia é "mostrar a consolidação da relação russa e chinesa com o Ocidente em geral. A mensagem enviada para parte da Ásia, parte da África, da América Latina e do Oriente Médio é muito clara: há uma alternativa na discussão das questões mundiais”, avalia.

Mas essa aproximação entre os dois países é vista cada vez com mais desconfiança pelos países ocidentais. Nesta semana, o governo russo anunciou que os dois presidentes discutirão principalmente "áreas essencias para o desenvolvimento da cooperação russo-chinesa, e vão trocar ideias sobre questões internacionais e regionais".

O comércio entre a Rússia e a China explodiu desde a invasão da Ucrânia e atingiu US$ 240 bilhões (€ 222 bilhões) em 2023, segundo dados oficiais.

EUA pressionam China

Os Estados Unidos ameaçam sancionar empresas estrangeiras, especialmente bancos, que trabalham com a Rússia. Desde dezembro, Washington autoriza sanções contra bancos estrangeiros ligados à Rússia. O Tesouro americano pode, assim, excluí-los do sistema financeiro global, que é baseado no dólar.  

Os Estados Unidos acreditam que o apoio econômico chinês permite à Rússia aumentar sua produção de mísseis, drones e tanques, e alertou os chineses sobre possíveis consequências caso forneçam armas para o país.

Por isso as exportações chinesas para a Rússia diminuíram em março e abril de 2024 em relação ao período de janeiro a fevereiro, após ameaças de Washington de sancionar instituições financeiras que apoiam o esforço de guerra russo. 

Na prática, a China busca reinventar sua relação os Estados Unidos e age com cautela na cooperação com a Rússia, segundo analistas. Vários bancos chineses, aliás, interromperam ou reduziram suas transações com seus clientes russos.

Os bancos "partem do princípio que é melhor ter cuidado do que fazer algo de que você possa se arrepender mais tarde", diz Alexander Gabuyev, diretor da ONG Carnegie Russia Eurasia Center, baseada na Alemanha. "Poder determinar se os pagamentos estão ligados ao complexo militar-industrial russo representa uma dificuldade considerável para as empresas chinesas, incluindo os bancos", diz.

Durante a visita de Putin, no entanto, especialistas esperam que Moscou e Pequim celebrem sua parceria e assinem vários acordos comerciais. Os dois líderes também devem divulgar uma declaração conjunta e participar de uma recepção que marca os 75 anos de relações diplomáticas entre seus países, de acordo com o Kremlin.

Vladimir Putin também deve se encontrar com o premiê Li Qiang e depois viajar para Harbin, no nordeste, nesta sexta-feira (17), para visitar uma feira de comércio e investimentos.  

(RFI e AFP)

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