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Fim de campanha eleitoral na Turquia é marcado por tensão e ataques de Erdogan a candidato opositor

Em um clima de tensão e temor de violência, a campanha eleitoral chega ao fim na Turquia, onde 61 milhões de eleitores se preparam para ir às urnas neste domingo (14). As eleições presidenciais e legislativas se anunciam as mais disputadas em duas décadas: as pesquisas de intenções de voto colocam o líder da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, à frente do presidente Recep Tayyip Erdogan, que busca um terceiro mandato.

Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esquerda) enfrenta seu maior rival em 20 anos de poder, Kemal Kilicdaroglu (direita).
Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esquerda) enfrenta seu maior rival em 20 anos de poder, Kemal Kilicdaroglu (direita). © Cagla Gurdogan & Murad Sezer, Reuters - Montage RFI
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Anne Andlauer, correspondente da RFI em Istambul, com AFP

Opositores insultados, difamados, comparados a terroristas, alvos de pedradas. O país não via uma campanha tão tensa como essa desde os anos 1970, relata o jornalista turco Kemal Can, que cobre a política do país há décadas.

“O que chama a atenção, e sem precedentes, é o fato de que essa violência é abertamente incentivada pelas mais altas autoridades do estado, que o candidato da oposição é apontado diretamente como alvo e que essas provocações são desencadeadas por falsas informações divulgadas pelas autoridades”, afirma.

Kemal Kiliçdaroglu, 74 anos, lidera uma aliança de seis partidos da oposição, que vão da direita nacionalista à esquerda democrática. Ele chegou a pedir para os seus apoiadores que fiquem em casa durante a noite da eleição, evocando a possível presença de "elementos armados" nas ruas.

A oposição espera vencer já no primeiro turno, no domingo, para evitar uma tensão ainda maior até a realização da segunda votação, prevista para 28 de maio.

Eleição acirrada

Erdogan, 69 anos, representa o partido conservador-islâmico AKP e está determinado a continuar por mais cinco anos na presidência da Turquia.

O país, de 85 milhões de habitantes, foi profundamente transformado pelo presidente, e que passa hoje por uma grave crise econômica. Erdogan adotou uma prática cada vez mais autocrática do poder – com 16.753 indiciamentos por "insultar o presidente” em 2022, segundo os números do Ministério da Justiça.

Na oposição, o movimento liderado pelo CHP (laico, social-democrata), fundado pelo pai da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, recebeu o apoio inédito do partido pró-curdo HDP, a terceira maior força política do país.

Em caso de vitória, o opositor será o 13º presidente da história da República da Turquia – que completa 100 anos em 2023 –, sucedendo o longo mandato de Erdogan, o mais longevo desde a queda do Império Otomano.

Fator religioso

Kiliçdaroglu abordou rapidamente o que poderia representar um obstáculo para sua campanha: o fato de pertencer ao alevismo, em um país predominantemente sunita. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, o candidato reconheceu publicamente sua adesão a este ramo heterodoxo do islã.

O social-democrata promete "justiça, lei e apaziguamento" em todos os temas, da economia até o poder aquisitivo (a inflação na Turquia superou 85% em outubro), incluindo as liberdades públicas.

Já Erdogan, que conta com 30% de eleitores fiéis, recheia as promessas de campanha com números e injúrias: acusa os rivais de conluio com os "terroristas" do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), ataca seus vínculos com o Ocidente e suas "conspirações", além de apresentá-los como "pró-LGBT" que querem "destruir a família”.

Além disso, chamou o adversário de "alcoólatra e embriagado, enquanto o seu ministro do interior, Süleyman Soylu, afirmou que "o Ocidente poderia transformar a votação em um golpe”.

Observação internacional

O Conselho da Europa, que enviará 350 observadores ao país, além dos designados pelos partidos, declarou que existe a preocupação com a lisura do processo eleitoral e o "estado da democracia" na Turquia. O vice-presidente do CHP, Oguz Kaan Salici, se mostrou otimista. "Não vivemos em uma república das bananas", declarou.

De acordo com um diplomata que pediu anonimato, a Turquia está apegada ao princípio das eleições. "Mesmo na época em que os militares davam um golpe de Estado a cada 10 anos, eles colocavam seu poder em jogo nas urnas", disse.

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