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Próxima Parada: Paris 2024

Breakdance estreia como esporte olímpico em Paris com missão de atrair jovens

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A cada edição de uma Olimpíada, a cidade-sede pode escolher quatro modalidades esportivas que quer incluir no evento, com o aval do Comitê Olímpico Internacional (COI). Para 2024, Paris escolheu três esportes que já haviam aparecido nos Jogos de Tóquio: skate, surfe e escalada. A novidade será o breakdance, modalidade que mistura dança e esporte escolhida com o objetivo de atrair o público jovem. 

Nascido da cultura hip-hop, o breakdance aparecerá pela primeira vez nos Jogos Olímpicos em 2024.
Nascido da cultura hip-hop, o breakdance aparecerá pela primeira vez nos Jogos Olímpicos em 2024. © Urbazon
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Cristiane Capuchinho, da RFI

A escolha ousada tem como objetivo aproximar os tradicionais Jogos Olímpicos de um público jovem. Essa foi a explicação dada, em 2019, pelo presidente do Comitê Olímpico, Tony Estanguet. 

"O breakdance traz um universo que atualmente não existe nos Jogos. Ele tem essa conexão com um público jovem, a facilidade do formato da competição apresentado como uma batalha. E, [através dessa modalidade] conectaremos os Jogos com um universo musical", afirmou Estanguet à época.

A entrada do breaking valoriza uma cultura urbana, nascida na periferia, que ocupa cada vez um lugar mais central.

"A cultura hip-hop está em todos os lugares. A moda se inspira no hip-hop, a música mais vendida, em especial aqui na França, é a música hip-hop", lembra o treinador de breaking da Federação Francesa de Dança, Abdel Mustapha. "A entrada do breaking nos Jogos Olímpicos apenas acentua essa evolução do breakdance e do hip-hop para o mainstream."

O hip-hop nasceu como cultura de rua nos Estados Unidos, na década de 1970, e ganhou as periferias nos anos 1980.

"A cultura hip-hop veio de bairros pobres dos Estados Unidos para cá pela semelhança das situações. Se você voltar a origem do hip-hop, ele foi criado para evitar brigas e mortes. No hip-hop, os confrontos acontecem por meio da arte, do rap ou da dança. Assim, você tem um grupo contra outro, representando uma identidade, um bairro", afirma François Gustave, instrutor de breaking em Toulouse. 

A partir dos 1990, o movimento explode na França para denunciar as desigualdades sociais, a violência da periferia e o preconceito racial. O rap, o grafite e o break dance conquistam a juventude francesa, de cores e origens muito diferentes.

Resistência

As batalhas são o momento alto dessa mistura de dança e esporte. Muitas vezes, elas acontecem em um formato de arena. Com os bboys e as bgirls duelando dentro de um palco central, ao som de um DJ e com o público delirando ao redor. Isso tudo filmado por celulares e transmitido em tempo real pelas redes sociais.

A entrada do breaking no evento mais tradicional dos esportes sofreu resistência da comunidade. Muitos temem mudanças na modalidade e perda de traços importantes, como seu formato aberto a improvisações.

Antes da inserção em Paris 2024, o breakdance foi experimentado na Olimpíada da Juventude de 2018, em Buenos Aires.

"Havia um temor de que a modalidade do break fosse distorcida, que a dança ficasse codificada demais, que houvesse passos obrigatórios, roupas obrigatórias, que não fosse necessariamente um DJ tocando a música, mas simplesmente um sistema de som. Mas os Jogos Olímpicos da Juventude mostraram o breaking e batalhas de break dance como costumamos ver, com DJ e com jurados de nossa comunidade", lembra Abdel Mustapha, da Federação Francesa de Breaking. 

Periferia como símbolo

Em Paris, em 2024, os atletas vão ocupar a praça da Concórdia, local de prestígio no final da avenida Champs Élysées e não muito longe do palácio presidencial. A escolha foi simbólica, assim como a decisão do Comitê dos Jogos de Paris de colocar sua sede a dez quilômetros dali, em Seine Saint-Denis, periferia pobre da capital francesa.

Segundo os organizadores, o objetivo era que o dinheiro investido para a realização dos jogos se tornasse equipamentos novos ou renovados para a população mais vulnerável.

Um dos poucos equipamentos construídos para os Jogos é a Vila Olímpica, edificada nesta região da periferia. Após o megaevento, a promessa é que os 2 mil apartamentos sejam vendidos, uma parte deles com preços acessíveis para a população.

No entanto, o pesquisador Alexandre Faure, da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais, é cético. Para ele, é importante lembrar que o discurso feito na hora de apresentar uma candidatura de cidade-sede é um texto de propaganda dito em contexto específico.

"Essas promessas têm que ser lidas por duas óticas diferentes. Uma que é a de conseguir ser escolhido como sede dos Jogos. A segunda é a realidade econômica do país e o que acontecerá no momento dos Jogos", diz. Faure não descarta a possibilidade de que a venda dos novos apartamentos da Vila Olímpica levem à gentrificação dessa área periférica. 

A expulsão das populações mais pobres para áreas mais longínquas cada vez que há melhorias urbanas em uma cidade não seria uma novidade na história olímpica.

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