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Tragédia: naufrágio na Grécia aconteceu em rota migratória até então desconhecida

Um navio de pesca que transportava cerca de 750 migrantes naufragou na noite de 13 a 14 de junho, no largo da Grécia, enquanto tentava chegar à Itália. A embarcação seguia uma rota pouco conhecida, mas cada vez mais utilizada, partindo do leste da Líbia. Apenas 104 pessoas foram resgatadas e as chances de se encontrar sobreviventes diminuem.

Migrantes que foram resgatados em alto mar ao largo da Grécia junto com outros migrantes, depois que seu barco virou, são vistos dentro de um galpão, usado como abrigo, no porto de Kalamata, Grécia, em 15 de junho de 2023.
Migrantes que foram resgatados em alto mar ao largo da Grécia junto com outros migrantes, depois que seu barco virou, são vistos dentro de um galpão, usado como abrigo, no porto de Kalamata, Grécia, em 15 de junho de 2023. REUTERS - POOL
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Pode ser a pior tragédia no Mediterrâneo desde abril de 2015, quando outro navio naufragou, provocando a morte de cerca de 800 migrantes.

Na noite de 13 a 14 de junho, um barco de pesca partiu de Tobruk, na Cirenaica, e virou perto da península do Peloponeso. Um porta-voz do governo grego informou que o navio teve uma pane e afundou em quinze minutos em águas muito profundas.

Conforme os relatos dos sobreviventes, cerca de 750 pessoas estavam a bordo, incluindo dezenas de crianças. Até agora, apenas 104 foram resgatadas, e as esperanças de encontrar mais sobreviventes diminuem com o passar do tempo.

Esse novo drama chama a atenção por vários motivos. Primeiro, devido à nacionalidade dos sobreviventes. Enquanto os migrantes que atravessam o Mediterrâneo Central vindos da Tunísia e do oeste da Líbia são em sua maioria provenientes da África subsaariana, a maioria desses migrantes eram do Egito, Síria e Paquistão.

Embora a presença de egípcios não seja surpreendente - Tobruk está apenas a 150 km da fronteira egípcia – o fato de haver sírios e paquistaneses é intrigante. Isso mostra a evolução constante das rotas migratórias, que surgem e desaparecem segundo as medidas implementadas pelos Estados atravessados, além da situação econômica e geopolítica. "Quando uma rota se fecha, outra se abre", resume Flavio Di Giacomo, porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM) na Itália.

Uma rota cada vez mais utilizada

Por muito tempo, a rota usada por sírios e paquistaneses era a dos Bálcãs. A multiplicação dos bloqueios pelos guardas costeiros gregos - uma prática ilegal conforme a lei europeia - levou os migrantes a buscar novas rotas.

A Líbia, devido principalmente à sua posição geográfica, naturalmente se tornou uma porta de entrada para a Europa. A maioria chega diretamente de avião para Benghazi, no nordeste, ou por estrada vinda do Egito. Mas em vez de seguir para a região de Trípoli, no oeste, em frente à Sicília, eles agora tentam chegar à Itália diretamente de Tobruk, no leste.

"Até setembro, apenas 15% das partidas da Líbia eram feitas a partir da Cirenaica. Observamos um aumento nas partidas de Tobruk ou Benghazi a partir de outubro", confirma Flavio Di Giacomo.

Desde então, a situação começou a se inverter. Dos cerca de 22.000 migrantes que partiram da Líbia desde o início do ano, a OIM observa que cerca de 13.000 deles saíram de Cirenaica. Essa escolha é parcialmente ditada pela instabilidade do país, pelos riscos de sequestro, assassinatos e tortura, mas também pelas operações de interceptação realizadas pelos guardas costeiros do governo de Trípoli, que controla o oeste. O controle no lado leste, por outro lado, é mais permissivo.

Por quanto tempo? No início de maio, o marechal Khalifa Haftar, o homem forte do leste da Líbia, foi à Itália, onde se encontrou com a presidente do Conselho, Giorgia Meloni, o ministro do Interior e outros altos funcionários italianos. O foco das discussões foi a imigração clandestina.

Após seu retorno, milhares de egípcios sem documentos foram enviados de volta para casa, segundo as autoridades de Benghazi. "Há rumores de um aumento nas prisões na Cirenaica pelas forças do marechal Haftar", confirma Flavio Di Giacomo, da OIM. Os traficantes, portanto, estão se apressando para fazer partir o maior número possível de migrantes.

Maiores riscos

Essa nova rota para a Europa, mais longa, aumenta os riscos enfrentados pelos migrantes. Além disso, os barcos de pesca usados para a travessia, capazes de transportar centenas de pessoas, estão em péssimas condições.

Outra preocupação é a falta de prontidão dos guardas costeiros europeus. "Os guardas costeiros italianos, malteses ou gregos esperam muito tempo antes de iniciar as operações de resgate, especialmente quando os barcos não parecem ter problemas. Mas mesmo que aparentemente não apresentem problemas, eles podem afundar de um momento para outro!", alerta Flavio Di Giacomo.

"Isso é totalmente irresponsável, pois esses barcos não estão em condições de navegar. Eles representam riscos graves para as pessoas a bordo. Os Estados têm a obrigação de resgatar esses barcos, trazer as pessoas para terra firme e, em seguida, examinar as situações individuais", acrescenta Vincent Cochetel, enviado especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados para o Mediterrâneo Central e Ocidental.

Antes desse último naufrágio, a Organização Internacional para as Migrações contabilizou 1.039 mortes no Mediterrâneo desde o início do ano. Isso sem contar os chamados "naufrágios fantasmas", dos quais não se sabe nada além dos corpos que são resgatados, o que poderia dobrar esse número.

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