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Grécia continua buscas por centenas de desaparecidos no que pode ser a pior tragédia do Mediterrâneo

A Grécia continua na manhã desta quinta-feira (15) as buscas por possíveis sobreviventes do naufrágio de um barco de pesca que levava migrantes no Mar Mediterrâneo. A embarcação estaria carregando mais de 700 pessoas, segundo relatos. Até o momento, 104 sobreviventes foram resgatados nessa tragédia, que já registra ao menos 78 mortos. 

Destaque na imprensa francesa para o naufrágio perto da Grécia que matou dezenas de migrantes; mais de 100 foram resgatados com vida.
Destaque na imprensa francesa para o naufrágio perto da Grécia que matou dezenas de migrantes; mais de 100 foram resgatados com vida. © AP
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Dois barcos de patrulha, um helicóptero e seis outras embarcações continuam a percorrer as águas da costa do Peloponeso, uma das áreas mais profundas do Mediterrâneo, em busca das centenas de desaparecidos.

Setenta e oito corpos foram resgatados até agora no sudoeste da Grécia, conforme a guarda costeira grega.

"Esta pode ser a pior tragédia marítima dos últimos anos na Grécia", disse a representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Stella Nanou, em entrevista à televisão pública ERT.

Na quarta-feira (14), o porta-voz do governo, Ilias Siakantaris, disse haver relatos de que 750 pessoas estariam a bordo do velho barco, uma embarcação de pesca superlotada e em situação precária. 

A Grécia declarou três dias de luto após essa tragédia, que ocorre em meio à campanha eleitoral para as eleições gerais de 25 de junho, a segunda em um mês.

Barco superlotado e sem salva-vidas

Uma imagem de baixa qualidade transmitida pela guarda costeira mostrou uma velha traineira azul superlotada, com dezenas de pessoas amontoadas no convés de proa à popa.

"O barco de pesca tinha de 25 a 30 metros de comprimento. Seu convés estava cheio de pessoas, e presumimos que o interior estava igualmente cheio", enfatizou Nikolaos Alexiou, porta-voz da guarda costeira na ERT.

Até o momento, 104 pessoas foram resgatadas e levadas ao porto de Kalamata. Entre os sobreviventes, as autoridades gregas dizem que há apenas homens: sírios (47), egípcios (43), além de 12 paquistaneses e dois palestinos. Nenhum usava colete salva-vidas.

No entanto, as testemunhas confirmam que havia mulheres e crianças dentro da embarcação. "Não sabemos o que havia no porão, mas sabemos que vários contrabandistas têm trancado as pessoas lá dentro", disse o porta-voz do governo.

Um sobrevivente disse aos médicos do hospital de Kalamata que havia visto cerca de cem crianças no porão do barco, segundo a ERT.

De acordo com as equipes que estão recebendo os sobreviventes, os refugiados estão em estado de choque. Os migrantes estariam há cerca de seis dias no mar em condições insalubres.

Versões contraditórias

O navio de pesca saiu da Líbia em direção da Itália na última sexta-feira (9) e coletes salva-vidas não foram distribuídos para que mais pessoas pudessem caber na embarcação, segundo reportagem do jornal Le Monde

Um navio mercante teria se aproximado para fornecer mantimentos à embarcação de migrantes. A guarda costeira grega teria chegado à noite na mesma região, confirmando a presença de grande número de pessoas a bordo, mas eles teriam expressado "o desejo de seguir a viagem em direção à Itália", segundo comunicado da Frontex, agência responsável pela vigilância das fronteiras europeias.

No entanto, o jornal francês Libération denuncia versões contraditórias. Segundo o diário, Nawal Soufi, um voluntário que atua no serviço de emergência Alarm Phone, que presta assistência a embarcações de migrantes no Mediterrâneo fornecendo dados de GPS às autoridades, deu uma versão completamente diferente. Seu testemunho, publicado nas redes sociais, relata pedidos de socorro chocantes desde a manhã de terça-feira (13). 

Segundo Soufi, naquele que era o quarto dia de viagem do navio, as reservas de água haviam se esgotado, seis pessoas já estavam mortas e duas em estado crítico. A situação piorou quando um dos navios mercantes se aproximou e atirou garrafas de água à embarcação de migrantes, provocando um movimento de massa das pessoas a bordo.

Em um dos últimos pedidos de socorro ao Alarm Phone, segundo o relato do voluntário, um dos migrantes informou que o capitão da embarcação havia fugido em um bote inflável, deixando-os à deriva. 

"Até quando vamos aceitar que crianças, mulheres e homens morram afogados, tentando, a qualquer preço, fugir da fome, miséria e violência, para se refugiar na Europa?", questiona o jornal Libération em um editorial enfurecido.

O diário faz um apelo para que as autoridades revisem urgentemente as políticas de acolhimento de refugiados que, segundo o texto, "não convencem as pessoas de vir à Europa, mas as assassinam". 

(Com AFP)

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