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Europa busca maior cooperação na luta contra o câncer após dois anos de pandemia

A crise sanitária foi particularmente difícil para os pacientes que vivem com um câncer e, em muitos casos, operações tiveram que ser desmarcadas para que os hospitais pudessem atender os casos de Covid-19. Em outros, houve atraso no diagnóstico da doença. A situação dos doentes quase dois anos após o início da pandemia é um dos temas dos eventos que marcaram, nesta sexta-feira (4), o Dia Mundial da Luta contra o Câncer.

A epidemia de Covid-19 atrasou diagnósticos e tratamentos de pacientes com câncer
A epidemia de Covid-19 atrasou diagnósticos e tratamentos de pacientes com câncer REUTERS - VIOLETA SANTOS MOURA
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De acordo com um estudo publicado no final de 2020 pela Unicancer, Federação francesa que reúne 19 estabelecimentos privados especializados em cancerologia, a estimativa é que haja até 6 mil mortes a mais de pacientes com a doença, ligadas diretamente às consequências da pandemia.

Na França, a situação melhorou nos hospitais com a chegada das vacinas, mas o impacto ainda é palpável. Segundo dados da Liga contra o câncer, no país, cerca de 93 mil diagnósticos não puderam ser realizados. Os lockdowns e medidas de restrição sucessivos também limitaram o acesso aos tratamentos.

Para intensificar a cooperação entre os países da Europa, o governo francês organizou, nesta quinta e sexta-feira, o Encontro Europeu do Instituto Nacional do Câncer. Cerca de 150 especialistas de diversos países se reuniram para discutir cinco temáticas: o câncer infantil, tumores graves, prevenção, retorno à vida ativa e direito ao esquecimento – muitos pacientes têm seus pedidos de crédito recusados por seguradoras, por exemplo, que têm acesso a seus dados médicos.

O ministro francês da Saúde, Olivier Véran, participou do Encontro Europeu promovido pelo Instituto Nacional do Câncer
O ministro francês da Saúde, Olivier Véran, participou do Encontro Europeu promovido pelo Instituto Nacional do Câncer STEPHANE DE SAKUTIN AFP/Archivos

Nesses últimos dois dias, o grupo, que incluiu o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, também discutiu a cooperação internacional na luta contra o câncer – fundamental para enfrentar a crise sanitária.

“Um dos nossos objetivos é aumentar a mobilização em nível europeu e desenvolver ações e desenvolver ações em termos de pesquisa”, frisou Thierry Breton, diretor do Instituto Nacional do Câncer, durante uma entrevista coletiva por videoconferência, após o evento. Uma das metas, disse, é diminuir a taxa de incidência da doença no continente.

O primeiro ano da epidemia trouxe efeitos catastróficos, ressalta a OMS (Organização Mundial da Saúde). Dos 163 países que integram organização, 122 tiveram seus setores de doenças não-transmissíveis afetados. Após o primeiro lockdown, um terço dos países europeus tiveram que interromper parcialmente ou totalmente o atendimento aos pacientes com câncer.

“Em algumas situações, não foi possível compensar o atraso”, reconheceu o hemotologista francês Norbert Ifrah, presidente do Instituto Nacional do Câncer da França ao ser questionado pela RFI Brasil sobre quais ações poderiam ser implementadas para remediar os diagnósticos tardios e os tratamentos interrompidos – muitos pacientes tinham medo de pegar Covid-19 no hospital.

“Tentamos organizar o tratamento dos doentes da melhor forma possível, adaptando a cada situação. Substituindo, por exemplo, uma quimioterapia por um tratamento oral”, exemplificou. Mas, paradoxalmente, frisa, a epidemia também gerou oportunidades para a que a saúde entrasse no centro das discussões públicas. “Foi uma oportunidade para abordar mais questões relacionadas à saúde”, disse.

O especialista francês também lembra que 40% dos cânceres são evitáveis e o cigarro continua sendo um dos principais fatores de risco. O tabaco é responsável por um terço das mortes provocadas pelo câncer, que mata 10 milhões de pessoas todos os anos.

O cigarro é, de maneira geral, responsável por quase 40% dos casos de câncer
O cigarro é, de maneira geral, responsável por quase 40% dos casos de câncer Getty Images

Casos devem aumentar

Com o aumento da esperança de vida, a tendência é que haja um aumento de cerca de 40% do número de casos da doença em todo o mundo nos próximos 20 anos. Mas, paralelamente, a pesquisa e a prevenção também avançam, explica Eric Solary, presidente do Conselho Científico da Fundação francesa ARC, dedicada à pesquisa contra a doença.

“Vamos progredir no tratamento e na cura, porque seremos capazes de prevenir e de diagnosticar precocemente”, diz. “Isso é essencial e depende de políticas públicas, porque passa também pela prevenção ligada ao tabaco ou a outras exposições tóxicas”, completa.

Outra aposta é o surgimento de novas ferramentas de inteligência artificial, que vão proporcionar uma análise mais precisa de imagens de radiologia por exemplo. Os equipamentos, diz o especialista, devem estar disponíveis nos próximos anos.

A mamografia é o exame de referência para depistar o câncer do seio
A mamografia é o exame de referência para depistar o câncer do seio © Getty Images/Keith Brofsky

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