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Macron precisa intensificar campanha se não quiser perder presidência para Le Pen, diz especialista

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O segundo turno da eleição presidencial na França de 2022 é um repeteco de 2017, mas o resultado se anuncia muito mais apertado e a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, nunca esteve tão perto do Palácio do Eliseu. Angélica Saraiva Szucko, especialista em integração regional e União Europeia da Universidade de Brasília, diz que a falta de uma campanha de corpo a corpo, com temas do cotidiano, nessas duas semanas “pode custar a presidência” ao candidato à reeleição, Emmanuel Macron.

Campanha presidencial recomeça na França com duelo Le Pen-Macron
Campanha presidencial recomeça na França com duelo Le Pen-Macron REUTERS - BENOIT TESSIER
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As primeiras pesquisas de intenção de voto para o segundo turno da eleição presidencial francesa indicam uma vitória apertada de Macron com 54% dos votos contra 46% para Marine Le Pen, do partido Reunião Nacional. O presidente centrista, do partido A República em Marcha (LREM), enfrenta a eleição em uma posição menos confortável que há cinco anos, quando venceu com 66% dos votos, apoiado por uma “frente republicana” formada pelos partidos tradicionais para barrar a ascensão de Le Pen.

Neste ano, com exceção dos candidatos de extrema direita, os outros derrotados declararam direta ou indiretamente apoio a Emmanuel Macron.

O candidato do partido de esquerda radical França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que teve um excelente desempenho no primeiro turno e chegou em terceiro lugar, pediu a seu eleitorado que não dê nenhum voto a Marine Le Pen.

Os votos de Mélenchon devem ser distribuídos entre os dois candidatos e serão decisivos para o resultado final. Boa parte desses votos deve ir para a Le Pen por conta de alguns posicionamentos vinculados à União Europeia. O Mélenchon também tem sido muito crítico à União Europeia e seus eleitores, ainda que partindo de uma extrema esquerda para uma extrema direita, se identificam de algum modo com a Marine Le Pen”, lembra Angélica Szucko.

Outro fato importante é a abstenção desses eleitores de esquerda no segundo turno. “As pesquisas indicam que aproximadamente metade dos eleitores de Mélenchon não deve ir votar. Isso também deve ser um fator decisivo para que a disputa seja mais acirrada porque não haverá uma transferência direta dos votos do Mélenchon”, aponta a especialista em relações internacionais.

Angélica Saraiva Szucko do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, especialista em integração regional e União Europeia
Angélica Saraiva Szucko do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, especialista em integração regional e União Europeia © Arquivo pessoal

Corpo a corpo

A guerra na Ucrânia marcou a campanha atípica do primeiro turno da eleição presidencial francesa. Muitos temas importantes, como a questão climática ficaram de fora. O presidente Emmanuel Macron não participou de nenhum debate e fez apenas um comício porque “havia uma leitura de que ele não deveria estar fazendo campanha para a presidência enquanto estava acontecendo uma guerra no continente Europeu”, salienta a pesquisadora da UnB.

Inicialmente, o conflito impulsionou o centrista, mas o aumento dos preços da energia favoreceu a líder da extrema direita que defende o poder aquisitivo dos franceses e fez uma campanha de corpo a corpo, muito mais próxima dos eleitores.

“O fato da Marine Le Pen defender políticas econômicas que tentem de alguma forma proteger mais os franceses e o fato dela fazer campanhas mais próximas, visitando as pequenas cidades, a impulsionou no final”, indica a especialista.

As estratégias de campanha dos dois candidatos nas próximas duas semanas serão determinantes. “Macron precisa participar desse debate que pode ter um retorno positivo para que os eleitores sejam motivados a sair de casa para votar também. Esse é outro ponto interessante. Não só ele precisa conquistar votos de outros candidatos, mas ele precisa que essas pessoas estejam dispostas a votar porque os eleitores da extrema direita da Marine Pen, com certeza, vão sair de casa para votar no dia 24. Ela nunca teve uma chance tão palatável de chegar ao cargo da Presidência”, acredita a especialista do Instituto de Relações Internacionais.

Duas visões europeias

A pesquisadora em Relações Internacionais ressalta que uma eventual vitória da “eurocética” líder da extrema direita representaria “uma virada muito grande na política francesa para a União Europeia”. Segundo ela, essa eleição presidencial francesa reflete, mais uma vez, a divisão vista em vários outros países entre um lado mais pró-União Europeia, mais globalista, representado por Macron, e outro lado muito mais nacionalista e protecionista, representado por Le Pen”.

Por isso, o debate desse segundo turno precisa estar focado “nas questões do dia a dia que são essas questões que movem o cidadão a votar, mais do que em discussões sobre o conflito em curso entre Rússia e Ucrânia”.

Angélica Szucko conclui que se “Emmanuel Macron ficar pensando muito nas questões globais talvez não consiga conquistar votos. Vamos ver como ele vai lidar com isso nessas duas semanas porque o fato dele não fazer uma campanha muito próxima pode lhe custar a presidência”.

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