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De olho em voto popular, Macron revê reforma da previdência e é chamado de “eleitoreiro” por Le Pen

Bastou um dia de campanha de segundo turno para que o presidente francês, Emmanuel Macron, mudasse seu tom e afirmasse que está pronto a negociar os termos da reforma da aposentadoria. Candidato à reeleição, Macron tenta conquistar votos à esquerda, sobretudo entre eleitores de Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa), nesse ‘sprint’ final. Sua adversária, Marine Le Pen, representante da extrema direita, denuncia uma “manobra eleitoreira” a doze dias do pleito. 

O atual presidente francês e candidato à reeleição Emmanuel Macron fala com apoiadores e profissionais de saúde em Mulhouse, leste da França, terça-feira, 12 de abril de 2022 .
O atual presidente francês e candidato à reeleição Emmanuel Macron fala com apoiadores e profissionais de saúde em Mulhouse, leste da França, terça-feira, 12 de abril de 2022 . AP - Jean-Francois Badias
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"Votei em você, mas me arrependo. Você não gosta muito dos aposentados", afirmou uma senhora ao presidente em uma cidade operária no norte da França, na primeira saída de Macron às ruas antes do segundo turno.

A imagem negativa foi construída em torno do projeto do candidato do partido República em Marcha que, desde seu primeiro mandato, tenta implementar uma reforma que amplia de 62 para 65 anos a idade mínima de aposentadoria na França.

Diante da força da extrema direita e de sua rejeição entre classes populares, o presidente decidiu mostrar sua flexibilidade e dizer que o tema não é um “dogma”, em um claro aceno à esquerda.

“Não vou dizer que mudo de opinião do dia para a noite, mas eu estou aberto para discutir e fazer revisões no meu projeto”, afirmou Emmanuel Macron nesta terça-feira (12), durante sua campanha em Mulhouse (leste), cidade onde Jean-Luc Mélenchon, do partido da esquerda radical França Insubmissa, teve maioria dos votos no último domingo (10).

O centrista afirma agora que a idade mínima pode ser negociada com forças políticas e sindicais. O presidente francês tenta, com isso, se aproximar de um eleitorado popular.

Mudança de postura

A reforma da aposentadoria é uma promessa do primeiro mandato que Macron não conseguiu implementar. Em sua primeira tentativa de passar o projeto na Assembleia Nacional, o presidente travou um braço de ferro com sindicatos e demonstrou uma postura inflexível que levou a meses de greves e manifestações pelo país, arrefecidas pela pandemia de Covid-19.

Ainda que impopular, o projeto voltou para seu plano de governo na campanha presidencial e serviu de argumento para opositores atacarem o centrista por sua falta de sensibilidade aos problemas das classes populares.

Agora em campanha corpo a corpo, o presidente martela a ideia de que sem reforma não será possível continuar a financiar a aposentadoria da população. "Não é verdade que possamos pagar nosso modelo social se não alongarmos [o tempo de trabalho]", afirmou em Mulhouse.

Tentando inverter a tendência e conquistar esse público, Macron afirma que vai ampliar o piso das aposentadorias a € 1.100 a partir de julho deste ano, mais alto que o proposto por Le Pen, no valor de € 1.000.

Marine Le Pen durante coletiva de imprensa sobre democracia e o exercício do poder em Vernon, França, 12 de abril de 2022.
Marine Le Pen durante coletiva de imprensa sobre democracia e o exercício do poder em Vernon, França, 12 de abril de 2022. REUTERS - SARAH MEYSSONNIER

Manobra eleitoreira

Em retaliação, a candidata de extrema direita, que teve 23,1% de votos no primeiro turno, aposta na estratégia de desacreditar as promessas do rival. "É uma manobra por parte de Emmanuel Macron para tentar recuperar ou pelo menos atenuar a oposição dos eleitores da esquerda", afirmou Le Pen em entrevista à rádio France Inter

"Não se pode esperar nada de Emmanuel Macron nesta área. Ele irá até o fim nesta obsessão. A aposentadoria aos 65 anos é sua obsessão", acrescentou.

A discussão sobre aposentadoria ganha força no momento em que a inflação e o poder de compra são as grandes preocupações do eleitorado francês. Por isso, Macron vai precisar conquistar uma parte dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon, que teve 21,95% dos votos e ficou de fora do segundo turno. 

Mas para o diretor de campanha da França Insubmissa, Manuel Bompard, os "ajustes" sugeridos pelo presidente ainda são insuficientes para tornar sua reforma previdenciária aceitável.

"Se Emmanuel Macron quer vencer, ele precisa levar em conta a configuração particular desse segundo turno e o fato de que ele vai precisar de votos de eleitores que não apoiam seu projeto. Ele vai precisar aceitar a ideia de mudar seus planos em um certo número de questões para convencer o povo francês", afirmou Bompard, em entrevista ao canal Public Sénat.

(Com informações da Reuters)

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