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Rendez-vous cultural

Artistas estrangeiros que influenciaram Paris no pós-guerra são tema de exposição na França

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É o fim da Segunda Grande Guerra e o início de um novo capítulo também na história da arte. À sombra dos anos de conflito, o mundo vive um renascimento cultural, animado por trocas estéticas e um grande fluxo de artistas em todas as direções. Paris é um dos epicentros dessa revolução de cores e formas.

Obra do venezuelano Jesús Rafael Soto que integra a exposição Paris et Nulle Part Ailleurs, no Museu da Imigração, no 12° distrito da capital francesa.
Obra do venezuelano Jesús Rafael Soto que integra a exposição Paris et Nulle Part Ailleurs, no Museu da Imigração, no 12° distrito da capital francesa. © Museu Nacional da História da Imigração de Paris
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Por Andréia Gomes Durão, da RFI

É isso que tenta traduzir a exposição Paris et Nulle Part Ailleurs (Paris e nenhum outro lugar), em exibição no Museu da Imigração, no 12° distrito da capital francesa. “Paris era um centro de efervescência excepcional. Para um artista estrangeiro, a Paris dos anos 1950 e 1960 tem um papel central para a criação artística de vanguarda”, destaca o curador da exposição, Jean-Paul Ameline.

Eles vêm do Líbano, Marrocos, Romênia, Islândia, Japão, Cuba, Hungria, Senegal, de países da América-Latina, de toda a parte, para vivenciar, mas também transformar, o surgimento de novas visões artísticas, nos campos da abstração, da figuração e da arte cinética.

“Havia cerca de 7 mil a 8 mil artistas estrangeiros presentes em Paris nesses anos do pós-guerra, o que é evidentemente enorme. Nós escolhemos 24 que são característicos de diferentes tipos de expressão neste momento. Não mostramos apenas pinturas e esculturas, mas também colagem de objetos, que são importantes, e instalações, porque Paris era também um lugar onde outros movimentos se desenvolviam”, acrescenta Jean-Paul Ameline.

“Eu penso, por exemplo, no cinetismo, a arte do movimento, do deslocamento, uma ideia que é muito fortemente desenvolvida pelos artistas estrangeiros em Paris”, continua.

Obra do húngaro Victor Vasarely exposta no Museu da Imigração de Paris.
Obra do húngaro Victor Vasarely exposta no Museu da Imigração de Paris. © Photo RMN - Gerard blot

Exílio

A exposição narra a experiência do exílio, voluntário ou não, e a relação plural que se estabelece seja com o país de origem, seja com o país que passa a acolher esses artistas. “O exílio é voluntário, muito poucos partem porque são perseguidos em seus países. São escolhas de criação para desenvolverem seus trabalhos”, explica o curador.

“Essa relação vai determinar o discurso de suas produções, como acontece, por exemplo, com o artista senegalês Iba N’Diaye. “Ele chega a Paris nos anos 1940, e ele se apaixona pela pintura clássica do Louvre, acreditando que a arte é universal e se limitar a uma arte tipicamente africana é cair no exotismo. Ele recusa o exotismo. Ele se engaja no Museu do Homem, no serviço de iconografia, utiliza temas africanos em sua pintura, mas é também uma arte impregnada de pinturas de Rembrandt, de Velasquez, e outros”, exemplifica Jean-Paul Ameline.

“É a ideia de um artista que vai além de todas as fronteiras, um tipo de pioneiro que marca uma época importante, uma época de transformação da arte em Paris”, conclui o curador.

Daniel Spoerri
Daniel Spoerri © image Centre Pompidou, MNAM-CCI

França, terra de liberdade?

Mas Paris et Nulle Part Ailleurs se propõe também a mostrar a pluralidade desses artistas muitas vezes interpretados de uma forma homogênea. Suas motivações para migrarem para Paris, como seus discursos serão pautados – ou não – pela experiência do exílio, a influência dos anos vividos em território francês, a construção de uma nova linguagem, mas também, algumas vezes, uma desconstrução de uma França idealizada como uma terra de asilo e liberdade.

“Então esses artistas, que querem encontrar na França uma terra de liberdade, são também, às vezes, testemunha de situações de racismo, como Hervé Télémaque mostra tão bem em suas obras. Afinal, nós ainda estamos em uma França, nesses anos 1960 e 1970, que não está livre de preconceitos, de racismo, ou mesmo de um racismo ordinário, entre aspas, que esses artistas estrangeiros colocam muito bem em evidência em algumas de suas obras”, observa o historiador de arte Eric, enquanto visita a exposição.

Obra de Erró exposta no Museu Nacional da História da Imigração de Paris.
Obra de Erró exposta no Museu Nacional da História da Imigração de Paris. Philippe Migeat

Mas ainda que a diversidade de experiências vividas por esses artistas possa muitas vezes parecer dissonante, em suas realizações, mas, também, decepções na capital francesa, o fato é que os anos passados em Paris no período pós-guerra serão para sempre uma marca indelével em suas produções.

“No que diz respeito às feridas do passado, porque frequentemente esse é um exílio não desejado, obrigado pelo fracasso social e político, em Paris esse passado ganha uma outra cor, um outro olhar, uma outra tradução. Esses artistas são enriquecidos, se tornam mais doces, ou são ampliados pelo que descobrem aqui”, avalia a professora Michelle ao contemplar as obras.

Paris et Nulle Part Ailleurs reúne obras de Shafic Abboud (Líbano), Eduardo Arroyo (Espanha), André Cadere (Romênia), Ahmed Cherkaoui (Marrocos), Carlos Cruz-Diez (Venezuela), Dado (Montenegro), Erró (Islândia), Tetsumi Kudo (Japão), Wifredo Lam (Cuba), Julio Le Parc (Argentina), Milvia Maglione (Itália), Roberto Matta (Chile), Joan Mitchell (Estados Unidos), Véra Molnar (Hungria), Iba N’Diaye (Senegal), Alicia Penalba (Argentina), Judit Reigl (Hungria), Antonio Seguí (Argentina), Jesús Rafael Soto (Venezuela), Daniel Spoerri (Romênia), Hervé Télémaque (Haiti), Victor Vasarely (Hungria), Maria Helena Vieira da Silva (Portugal) e Zao Wou-Ki (China).

A exposição pode ser visitada até 22 de janeiro no Museu da Imigração, no Palais de la Porte Dorée.

Obra do artista argentino Antonio Seguí exposta em "Paris et Nulle Part Ailleurs".
Obra do artista argentino Antonio Seguí exposta em "Paris et Nulle Part Ailleurs". © Museu Nacional da História da Imigração de Paris

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