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Rendez-vous cultural

Cabaret, Asterix e Obelix e homenagens a Picasso prometem animar a agenda cultural francesa de 2023

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O ano novo revela também o início de uma agenda cultural trepidante para 2023 na França. Pablo Picasso e Marcel Proust serão lembrados em diversos projetos, pelos aniversários de morte. O mundo das artes visuais ainda terá exposições de Degas, Manet, Warhol e Basquiat. A dupla Asterix e Obelix volta às telas esse ano como um dos maiores lançamentos do cinema, enquanto os musicais animam a noite parisiense.

O musical "Cabaret" pode ser assistido no Lido 2 de Paris, na Avenida Champs-Élysées, até 3 de fevereiro de 2023.
O musical "Cabaret" pode ser assistido no Lido 2 de Paris, na Avenida Champs-Élysées, até 3 de fevereiro de 2023. © Julien Benhamou
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Andréia Gomes Durão, da RFI

Nas artes visuais, o mundo lembra os 50 anos da morte do mais francês dos espanhóis, o pintor Pablo Picasso. Além disso, a partir de março, o Museu d'Orsay promove um confronto da obra de Edgar Degas com a de Édouard Manet. Outro “duelo” ocupa a Fundação Louis Vuitton, a partir de abril, com uma centena de telas pintadas a quatro mãos pela dupla Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat.

Enquanto essas mostras não começam, o público já pode visitar “Décadrage Colonial” (Desconstrução Colonial, em tradução livre), no Centro Pompidou, que explora uma densa história da representação do corpo negro. A exposição exibe fotos do próprio acervo do museu. As imagens mostram imagens pseudocientíficos, fantasias exóticas, erotização, e têm como ponto de partida a Exposição Colonial de 1931, em Paris, e as reações que o evento provocou.

É preciso lembrar que a exposição colonial era uma vitrine do império francês, com 8 milhões de visitantes. Uma produção ilustrada, visual, de produtos derivados, com os visitantes convidados a fazerem ‘a volta ao mundo’ em um único dia. E os [artistas] surrealistas, assim como os militantes coloniais da esquerda, se organizam para denunciar essa colonização que é principalmente econômica, mas, também, cultural”, explica Damarice Amao, assistente do gabinete de fotografia do Museu Nacional de Arte Moderna da França e que assina a curadoria da exposição.

"Décadrage Colonial" pode ser visitada no Centro Pompidou, em Paris, até 27 de fevereiro de 2023.
"Décadrage Colonial" pode ser visitada no Centro Pompidou, em Paris, até 27 de fevereiro de 2023. © Centre Pompidou

"Em busca do tempo perdido"

Na literatura, 2023 também continua lembrando os cem anos da morte de Marcel Proust (em 22 de novembro de 1922) e a Biblioteca Nacional da França rende homenagem ao autor com uma exposição que evidencia, principalmente, o processo de produção e criação do escritor francês.

“O que vai impressionar o público é até que ponto Proust trabalha: ele corrige, escreve à mão, escreve nas entrelinhas, cola papéis quando não tem mais espaço, assim como também faz decupagens para ir mais rápido no seu trabalho, porque ele sempre tinha medo de morrer antes de acabar. E foi o que aconteceu no final. É o trabalho de um homem que estava muito doente, e não é uma doença imaginária, ele realmente sofria de asma, o que não se podia tratar na época", revela Nathalie Mauriac Dyer, diretora de pesquisa do Instituto francês de Textos e Manuscritos Modernos e do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês).

Dyer acrescenta que "Ele [Proust] muito frequentemente tinha crises de asma, o que o impedia de trabalhar. Mas quando ele trabalhava, o fazia de uma forma hercúlea, de uma forma feroz”.

Um exemplo dos manuscritos de Marcel Proust, que agora podem ser vistos na Biblioteca Nacional da França.
Um exemplo dos manuscritos de Marcel Proust, que agora podem ser vistos na Biblioteca Nacional da França. © Isabelle Chenu / RFI

Nomeada com o título de sua obra que se tornaria uma das mais importantes da literatura mundial, a exposição “Em busca do tempo perdido” é ambientada na estética da Belle Époque para inserir o visitante na atmosfera mundana vivida por Proust.

Enquanto as editoras competem por lançamentos em torno do autor, histórias em quadrinhos, reedições de sua correspondência, múltiplos romances e ensaios ressuscitam o escritor e sua obra nas livrarias.

Encontro de dois mundos

Já os afeitos à arte mas também à história podem visitar a mostra “Splendeurs des oasis d’Ouzbékistan” (Esplendores dos oásis do Uzbequistão), que ocupa o Museu do Louvre. A exposição traz pinturas murais tiradas dos palácios dos príncipes, joias em ouro, alguns dos mais antigos exemplares conhecidos do Corão, estátuas de perfil grego ou influenciadas pelo budismo. O evento é uma viagem que atravessa sete séculos de história, passando pelas rotas da seda e por uma grande pluralidade de culturas.

“A ideia central é o meio entre dois grandes polos, da história antiga até hoje, com a China a leste e o Mediterrâneo, com suas diferentes civilizações, a oeste. O que faz dessa região da Ásia Central um local de diferentes culturas, que liga também o sul e o norte, como o Cazaquistão atual e até mesmo a Sibéria”, conta Rocco Rante, arqueólogo do Departamento de Arte Islâmica do Louvre, que responde pela curadoria científica da mostra.

A inauguração teve a presença do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, e do presidente uzbeque, Chavkat Mirzioev. São quase 180 obras de valor inestimável e algumas nunca saíram desta ex-república soviética da Ásia Central, que se tornou essencial no jogo diplomático.

Outra exposição, literalmente faraônica, poderá ser visitada a partir de abril, no grande salão de La Villette, que recebe a mostra “Ramsés”. Depois do sucesso de Tutancâmon, o público é convidado a mergulhar no coração do reino de um dos maiores construtores do antigo Egito. Serão mais de 180 peças originais, em que algumas nunca saíram do Egito.

"Ramsés e o Ouro dos Faraós" tratá a Paris um tesouro de mais de 3 mil anos entre joias, máscaras reais, além de móveis dos túmulos inviolados da cidade de Tanis. A exposição também oferecerá uma experiência de realidade virtual para o visitante descobrir o templo de Abu Simbel e a tumba de Nefertari.

Dos quadrinhos para as telas

Dos museus para os cinemas, quem volta à grande tela é uma dupla velha conhecida do público francês. O filme “Asterix e Obelix: O Império do Meio”, dirigido por Guillaume Canet e com um orçamento colossal de € 65 milhões, estreia em fevereiro.

Enquanto isso, outro herói das histórias em quadrinhos, Tintim, inspira “Le Parfum Vert” (O Perfume Verde), um filme de espionagem lúdico e engraçado do diretor Nicolas Pariser. “Eu me dei conta de que alguns desenhos de Tintim se pareciam muito com os filmes de Hitchcock, filmes contemporâneos, dos anos 30, se pareciam muito. Eu assisti tanto que, em um determinado momento, me dei conta de que deveria tentar fazer a mesma coisa, na França, hoje. E foi o que aconteceu: Voilà O Perfume Verde”, resume o cineasta. 

Mas para quem prefere acreditar que Paris é sempre uma festa, como Hemingway, o mundo dos espetáculos também reserva surpresas. Depois de renunciar aos shows de dançarinas com plumas, o Lido de Paris passa a investir nos musicais. E para inaugurar esta nova fase da icônica casa de shows, nada mais glamuroso do que o clássico musical "Cabaret".

O público assiste o espetáculo como se estivesse no Kit Kat Club, com direito a beber enquanto acompanha a performance. "Escolhemos essa forma artística, que consiste em abolir ‘a quarta parede’, quer dizer, o obstáculo entre o público e os artistas”, celebra o novo diretor artístico da casa, Jean-Luc Choplin, para quem "o mundo dos espetáculos nunca irá parar".

Fiel à versão original, "Cabaret" remete o público à atmosfera de perigo da Berlim dos anos 1930, traduzida pelos filmes em preto e branco, explica Robert Carsen, que responde pela mise en scène do show: “Pensei nessa angústia que eu absolutamente queria levar para o palco, de lembrar as pessoas do perigo do avanço da extrema direita, da ideologia que levou, nessa época, a eventos absolutamente inimagináveis, e de se lembrar do perigo disso neste momento. Nós não estamos à salvo, na França, na Europa, no mundo inteiro. Nós vivemos um momento perigoso.”

* Os entrevistados foram ouvidos pelos jornalistas da RFI Muriel Maalouf, Sophie Torlotin, Sébastien Jédor e Isabelle Chenu.

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