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A Semana na Imprensa

Golpe abortado na Rússia visava ministro da Defesa, mas mostra ao mundo fragilidade de Putin

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Nunca dantes no país de Tchekov e Dostoievski um golpe-relâmpago, anunciado em um dia e abortado no outro, abalou tanto as estruturas da Era Putin no império russo pós-soviético. Pelo menos é o que acreditam as revistas semanais francesas, que destacam nas capas desta semana as possíveis fissuras do poder do presidente russo. As fragilidades foram expostas ao mundo após o curioso episódio do golpe liderado e abortado por Yevgeny Prigozhin, bilionário e poderoso chefão da milícia inspirada no nome do compositor alemão Wagner.

Máscaras de Putin (presidente da Rússia), Prigojin (chefe da milícia Wagner) e Lukashenko (presidente do Belarus) numa loja em São Petesburgo.
Máscaras de Putin (presidente da Rússia), Prigojin (chefe da milícia Wagner) e Lukashenko (presidente do Belarus) numa loja em São Petesburgo. AP - Dmitri Lovetsky
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A trama é boa, mas o vilão ainda está para ser determinado. Putin? Prigozhin? Shoigu? As possibilidades são muitas, de acordo com as revistas francesas que chegam às bancas neste fim de semana. Mas "na guerra entre chefes de gangues poderosas", destacada em sua capa pela revista Le Point, "o mestre do Kremlin parece mais fraco do que nunca", avalia L'Obs, que traz como manchete "Putin, o poder fissurado".

"Ao incentivar o crescimento de milícias privadas, o presidente russo colocou em prática uma estratégia que saiu pela culatra. Mas que repercussões essa crise terá na guerra na Ucrânia e no cenário internacional?", questiona a revista. "Raramente o Kremlin foi tão brando com uma rebelião armada. No entanto, nunca antes a autoridade de Vladimir Putin foi tão desafiada", lembra a L'Obs.

"Para explicar a passividade de suas forças de segurança e a facilidade desconcertante com que o comboio de mercenários chegou à região de Moscou, o presidente russo explicou em um discurso que havia dado instruções para 'evitar um banho de sangue'. Ao poupar o grupo Wagner, Putin alegou ter frustrado a vontade do Ocidente, "de que os soldados russos se matassem uns aos outros", publica. "Na verdade, o ex-gângster de Leningrado segue dando asas à rebeldia contra o alto comando de Putin: 'Mostramos o nível de organização que o exército russo deveria ter', provocou Prigozhin", detalha a L'Obs. 

A revista ressalta que "o que acendeu o pavio foi a decisão do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, de subjugar as milícias privadas, forçando-as a assinar contratos de cooperação, o que significava o fim do grupo Wagner". Mas mesmo se o golpe "saiu pela culatra", ele atingiu diretamente a credibilidade do Estado-maior russo, acredita L'Obs.

"Encouraçado Potemkin"

A revista francesa L'Express parafraseia o filme de 1925 do famoso cineasta russo, Serguei Eisenstein, "O Encouraçado Potemkin", para evocar um "Encouraçado Putin". O filme retrata a revolta de marinheiros em 1905. Para a revista francesa, a rebeldia contra Vladimir Putin estaria longe de acabar.

"Mesmo se o regime não caiu, e o homem de cabeça raspada [Prigojin], que representava uma ameaça existencial para Putin, foi enviado para Belarus, Putin, o eterno garantidor da ordem e da estabilidade, não foi capaz de impedir a rebelião. Os russos descobriram um líder incapaz de resolver as disputas de poder entre seu ministro da Defesa e o indomável Prigojin que, se quisesse, poderia ter realizado o impensável: sitiar Moscou!", avalia L'Express.

Para a publicação, "a desonra suprema foi que o chefe do Kremlin teve que se rebaixar a ponto de pedir a Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, que ele considera seu vassalo, para negociar o fim da corrida a Moscou". "Putin está sempre falando sobre soberania nacional, mas teve que pedir ajuda de fora do país, e ainda por cima de um parceiro menor", declarou à revista Andrei Soldatov, um jornalista russo no exílio. "Isso não tem precedentes e é muito embaraçoso", analisa L'Express.

Nos círculos de poder russo, diz-se que Putin não consegue mais controlar as pessoas mais próximas a ele, colocando todo o sistema em risco. "Um sistema confortável, baseado na captura da riqueza do país, mas que a guerra na Ucrânia interrompeu, reduzindo os recursos. A crise política claramente vai piorar, porque a paralisia do aparato estatal, que já havia se tornado aparente, continuará", prevê a revista. "Outros clãs poderiam então se levantar contra o 'czar'". Para a publicação francesa, "a era pós-Putin parece ter começado".

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