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"É o fim do grupo Wagner como foi criado em 2014", diz especialista francês após discurso de Putin

Em um breve discurso na televisão na noite de segunda-feira (26), Vladimir Putin afirmou ter evitado um "banho de sangue" após a rebelião do grupo Wagner. O presidente russo deixou os combatentes mercenários com três opções: voltar para casa, juntar-se ao exército russo ou seguir o seu líder, Yevgeny Prigozhin, que o Kremlin afirma ter enviado para Belarus.

Iêvgueny Prigojin, chefe do grupo Wagner, em Rostov-on-Don, Rússia, em 24 de junho de 2023.
Iêvgueny Prigojin, chefe do grupo Wagner, em Rostov-on-Don, Rússia, em 24 de junho de 2023. © ALEXANDER ERMOCHENKO / REUTERS
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O presidente russo Vladimir Putin se apresenta como a principal garantia de paz na Rússia, afirma Cyrille Bret, pesquisador do Instituto Jacques Delors, think thank criado em 1996, com sede em Paris.

Com esse discurso, o chefe de Estado russo pretende fechar o parêntese da tentativa de golpe e da exibição de força paralela, do qual ele certamente sairá fortalecido, analisa Bret. "O episódio mostrou que o sistema que ele havia construído de dividir e governar entre diferentes clãs em uma competição feroz poderia escapar de seu controle", diz.

"É o fim da empresa privada Wagner tal como ela foi criada, em 2014", garante.  Para o especialista, o pronunciamento do líder russo deixou bem claro qual será o destino dos integrantes e da hierarquia do grupo Wagner.

"Independentemente do uniforme que usem, do local de operações para onde serão enviados, e do nome que recebam, os integrantes desse grupo serão reintegrados à cadeia de comando clássica, normal, das Forças Armadas russas. Eles serão capazes de servir aos interesses russos na África ou em qualquer outro lugar", diz Bret.

Informações desta terça-feira (27) do Ministério da Defesa russo anunciam que estão em andamento os preparativos para transferir o equipamento militar "pesado" do grupo Wagner para o exército russo, confirmando a análise do especialista francês.

"No curto prazo, a autoridade do presidente russo foi enfraquecida, pois seus oponentes e os vários círculos de tomada de decisão viram que, com armas na mão, é possível desafiar Vladimir Putin e seu mais alto comando militar, e que o apoio internacional é pequeno. No entanto, a médio e longo prazo, é possível que o presidente russo use o episódio de revolta armada para realizar um expurgo no aparato militar russo e nas empresas mercenárias, segundo o especialista.

"É o fim do grupo Wagner"
Grupo Wagner
Grupo Wagner © REUTERS / ALEXANDER ERMOCHENKO

Maquiavel

Para o pesquisador, Vladimir Putin entendeu que a divisão dos poderes militares com dois chefes não é mais sustentável e constitui um risco. "Maquiavel estava certo ao apontar que o destino inevitável das tropas mercenárias é se voltar contra seus comandantes", diz, em referência ao filósofo e historiador do Renascimento, considerado o fundador do pensamento e da ciência política moderna. 

"No final, acho que Vladimir Putin aprendeu a lição. Ele está reintegrando todas as forças armadas na mesma cadeia de comando, sob suas ordens e sob sua autoridade", conclui Bret.

(Com RFI e AFP)

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