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Escritor dissidente australiano é condenado à pena de morte na China, acusado de espionagem

O escritor dissidente australiano Yang Jun foi condenado na segunda-feira (5) à pena suspensa de morte por espionagem na China, disse Pequim, cinco anos após ter sido detido numa rara visita a seu país natal.

Um homem passa diante da Corte de Pequim antes do tribunal do australiano Yang Jun, preso há cinco anos. Ele foi condenado a uma pena de morte suspensa, por espionagem.
Um homem passa diante da Corte de Pequim antes do tribunal do australiano Yang Jun, preso há cinco anos. Ele foi condenado a uma pena de morte suspensa, por espionagem. AFP - NICOLAS ASFOURI
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O cidadão australiano nascido na China está preso desde 2019 sob acusações de espionagem e estaria com problemas de saúde.

O escritor, cujo pseudônimo é Yang Hengjun, negou as acusações, dizendo a apoiadores que foi torturado num local de detenção secreto e que temia que confissões forçadas pudessem ser usadas contra ele.

A sentença que recebeu é uma das mais pesadas dos últimos anos, em um julgamento público por espionagem.

Yang, que conquistou muitos seguidores no exílio por seus romances de espionagem e por pedir maior liberdade em sua terra natal, foi condenado na segunda-feira por um tribunal de Pequim "em um caso de espionagem", disse o Ministério das Relações Exteriores.

O tribunal “concluiu que Yang Jun era culpado de espionagem, condenou-o à morte com execução suspensa por dois anos e confiscou todos os seus bens pessoais”, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.

Camberra, sede do governo australiano, condenou a pena de morte, avaliando que ela poderia ser comutada para prisão perpétua, após um período de dois anos, durante o qual Yang permaneceria preso.

“O governo australiano está chocado com este resultado”, disse a ministra das Relações Exteriores, Penny Wong, em entrevista coletiva. “Comunicaremos a nossa resposta nos termos mais fortes”, disse o ministro australiano.

Wong disse que o embaixador chinês na Austrália, Xiao Qian, seria convocado para ouvir a objeção do governo. “Quero reconhecer a angústia aguda que o Dr. Yang e sua família sentiram hoje, após anos de incerteza”, disse ela.

O veredicto e a sentença de Yang foram repetidamente adiados desde seu julgamento a portas fechadas por acusações de segurança nacional em maio de 2021, disse ela. Camberra pediu “padrões básicos de justiça, justiça processual e tratamento humano”. “A Austrália não cederá na defesa da justiça para os interesses e bem-estar do Dr. Yang, incluindo tratamento médico apropriado”, disse o ministro. “Os australianos querem ver o Dr. Yang reunido com a família”, disse Wong.

A pena de morte suspensa é vista como um passo para trás nas relações entre a Austrália e a China, que pareciam estar aquecendo.

O jornalista australiano Cheng Lei foi libertado em outubro, após mais de três anos de detenção sob acusações de espionagem, consideradas como tendo motivação política.

Os amigos de Yang disseram no ano passado que ele temia morrer na prisão sem tratamento médico adequado para um cisto no rim.

“Se algo acontecer com a minha saúde e eu morrer aqui, as pessoas de fora não saberão a verdade”, disse ele numa nota compartilhada com amigos e apoiadores. “Se algo acontecer comigo, quem pode falar por mim?”, acrescentou.

Tensões desde caso com Huawei

A Human Rights Watch também condenou a sentença “catastrófica”.

“Depois de anos de detenção arbitrária, alegações de tortura, um julgamento fechado e injusto, sem acesso à escolha de advogados – uma sentença tão severa como esta é alarmante”, disse Daniela Gavshon, diretora da Human Rights Watch na Austrália.

As tensões entre Camberra e Pequim aumentaram em 2018, quando a Austrália excluiu a gigante chinesa das telecomunicações Huawei da sua rede 5G.

Depois, em 2020, a Austrália pediu uma investigação internacional sobre as origens da Covid-19 – uma ação que a China considerou ter motivação política.

Em resposta, Pequim impôs tarifas elevadas sobre as principais exportações australianas, incluindo cevada, carne bovina e vinho, ao mesmo tempo que suspendeu as suas importações de carvão.

A maior parte dessas tarifas foi levantada durante o atual governo de centro-esquerda do primeiro-ministro Anthony Albanese, que fez uma viagem a Pequim em novembro de 2023, saudando os progressos como "muito positivos".

No entanto, as tensões mantêm-se no que diz respeito à segurança, à medida que a Austrália se aproxima dos Estados Unidos num esforço para atenuar a crescente influência da China na região do Pacífico Sul.

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