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"Uma carnificina está acontecendo na Faixa de Gaza", diz embaixadora palestina na França

Dois dias após um massivo ataque do grupo Hamas em Israel, a população de Gaza teme por seu futuro. Bombardeados e cercados pelo Exército isralense, os mais de dois milhões de habitantes do enclave não têm nenhuma perspectiva diante da preparação de uma imensa operação no território, afirma a embaixadora palestina na França, Hala Abou-Hassira. 

A embaixadora palestina na França, Hala Abou-Hassira, nos estúdios da RFI.
A embaixadora palestina na França, Hala Abou-Hassira, nos estúdios da RFI. © RFI
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"Falei com a minha família por telefone e todo mundo está bloqueado, cercado, tomado como refém na Faixa de Gaza", afirma. "São famílias, crianças, mulheres que não têm nenhum lugar para onde ir, nenhum abrigo ou refúgio", alerta, em entrevista à RFI.

Em retaliação ao ataque do Hamas, no sábado (7), Israel promete ser implacável e prevê sua maior operação militar no enclave, com atuações de todas as suas forças: aérea, terrestre, marítima e espacial. "Os ataques devem visar primeiramente os centros de comando do Hamas e suas tropas, os bombardeios virão de todos os lugares. Em paralelo, o exército se prepara para entrar em Gaza", prevê Alexandre Grinberg, do Instituto para a Segurança e a Estratégia de Jerusalém, salientando a possibilidade de morte de muitos civis.

Os bombardeios contra Gaza em retaliação ao ataque do Hamas tiveram início no fim de semana e já destruíram escolas, hospitais e residências de civis. Nesta segunda-feira (9), o governo israelense ordenou o fim do abastecimento de água no território palestino. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pediu aos habitantes de saírem do enclave, uma recomendação que irrita Hala Abou-Hassira. 

"Ir para onde? Israel isolou o território", diz a embaixadora referindo-se ao bloqueio imposto há 17 anos ao local, que impede que a população circule livremente. "Hoje também não há mais energia elétrica em toda a Faixa de Gaza, o abastecimento de gasolina foi cortado, faltam matérias-primas, medicamentos, os hospitais são bombardeados, as ambulâncias são bombardeadas", ressalta.

Paralelamente, a Comissão Europeia anunciou nesta segunda-feira que examinará os € 691 milhões de ajuda concedidos aos territórios palestinos. "O tamanho do terror e da brutalidade contra Israel e seu povo marca um ponto de virada", afirmou o comissário europeu Olivier Varhelyi. "Não podemos continuar como se nada tivesse acontecido", completou.

O metrô de Gaza: uma armadilha

Apesar da certeza de que as forças israelenses são imensamente superiores às do Hamas, especialistas preveem que o exército de Netahyanu também terá muitas baixas. Um dos principais motivos é a grande rede de túneis subterrâneos que o grupo armado criou, chamado de "o metrô de Gaza". São centenas de caminhos debaixo da terra entre os 14 quilômetros de fronteira entre o enclave e a região do Sinai egípcio, onde circulam combatentes, armas e material contrabandeado. 

Uma parte da rede é conhecida pelo exército israelense, mas boa parte é secreta e pode complicar as operações. Dentro dos túneis também há lançadores de foguetes e armamentos, em outros caminhos, armadilhas já teriam sido preparadas contra os soldados de Israel. 

"Para combater em um terreno como esse, seriam necessárias informações mais aprofundadas que os israelenses não dispõem", afirma Colin Clarke, diretor de pesquisa do Centro Soufan, em Nova York.

"Todos sabemos que serão combates longos e difíceis com muitas perdas", observa Grinberg. Segundo o especialista, o perigo subterrâneo também ameaça os combatentes do Hamas, "que podem ser igualmente encurralados" pelo próprio exército israelense.

Reféns israelenses

Outro ponto complexo da futura operação israelense em Gaza são as dezenas de reféns israelenses e estrangeiros tomados no fim de semana pelo Hamas. "A sociedade israelense não perdoará o governo se as vidas dos reféns não forem uma prioridade. A pressão da opinião pública é enorme e Netanyahu sabe disso perfeitamente", aponta Sylvaine Bulle, socióloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), especialista em Israel.

Mas para o pesquisador do think-tank INSS, de Tel Aviv, Israel não parece querer negociar a vida dos reféns atualmente. “Com todo o pesar e toda a dor, o problema dos reféns não será a prioridade agora”, diz, sem rodeios. "Israel tratará desta questão apenas quando acabar com o Hamas", prevê. 

O grupo armado indicou nesta segunda-feira que executará um refém a cada ataque de Israel contra infraestruturas civis.

Diante de um massacre anunciado nos dois campos, a embaixadora palestina faz um apelo para que a crise seja transformada em "oportunidade política para colocar um fim à origem dos problemas". "Todos estão se dando conta da dimensão gigantesca que a agressão israelense tomará. Nada justifica assassinar civis inocentes dos dois lados", salienta.

Abou-Hassira também lembra que Israel tem a obrigação de proteger a população civil de Gaza. "Temos que colocar um fim à política de 'dois pesos, duas medidas. Quando vemos que os palestinos são desumanizados, as crianças palestinas são desumanizadas, que as vidas dos palestinos não contam, é preciso proteger suas vidas também. Israel deve colocar um fim à sua agressão, colocar um fim à ocupação", conclui.

(RFI e AFP)

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