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Acordo global para reduzir emissões do transporte marítimo decepciona por falta de ambição

Um acordo internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do frete marítimo, um setor altamente poluente, foi promulgado nesta sexta-feira (7) pela Organização Marítima Internacional (IMO). O texto, porém, é menos ambicioso do que o esperado e acabou sob uma chuva de críticas de ONGs ambientalistas.

Porto de Lianyungang, na China. Setor do transporte marítimo é responsável por 3% emissões mundiais de CO2. (22/10/2021)
Porto de Lianyungang, na China. Setor do transporte marítimo é responsável por 3% emissões mundiais de CO2. (22/10/2021) VCG via Getty Images - VCG
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"Os Estados-membros da IMO (...) adotaram uma estratégia para reduzir os gases de efeito de estufa provenientes do transporte marítimo, com metas melhoradas", escreve a organização da ONU, no comunicado de imprensa publicado nesta manhã.

O acordo apresenta "uma ambição conjunta aprimorada para alcançar a neutralidade de carbono do frete marítimo internacional até 2050" e visa reduzir as emissões de CO2 "em uma média de pelo menos 40% até 2030, em comparação com 2008". O compromisso prevê, ainda, metas "indicativas" (portanto não vinculativas) de redução das emissões poluentes em pelo menos 70% até 2040, com uma meta de ao menos 80%, ainda na comparação com 2008.

O secretário de Estado francês do Mar, Hervé Berville, por sua vez, saudou um “grande passo na nossa corrida rumo à neutralidade climática” antes da adoção de “medidas vinculativas”. “Nós nos sentamos à mesa das negociações com ambições mais fortes do que o acordo final obtido”, admitiu ele, no entanto, “mas é inegavelmente um sucesso (...) obtido por unanimidade, em que a França desempenhou plenamente o seu papel”.

Nas negociações esta semana na sede da IMO em Londres, a União Europeia pedia um objetivo mais ambicioso de emissões líquidas zero em 2050, com duas etapas intermediárias: redução de 29% em 2030 e 83% em 2040.

Os Estados insulares do Pacífico, particularmente ameaçados pelo aquecimento global, quiseram ir mais longe. Apoiados pelos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, pediam a diminuição de 96%, até 2040.

Meta bem abaixo do desejado 

Em 2018, a IMO deu às transportadoras a meta de cortar suas emissões de CO2 em 50% até 2050, em comparação com 2008, o que foi considerado amplamente insuficiente.

Por outro lado, muitos grandes exportadores como China, Brasil, Argentina, entre outros, forçaram o pé no freio, alegando que metas muito rígidas beneficiariam os países ricos em detrimento dos países em desenvolvimento. Eles se opuseram, em particular, ao projeto de um imposto sobre o carbono, apoiado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e por empresas como a gigante do frete marítimo Maersk.

Um possível imposto agora só aparece no projeto de acordo em uma série de medidas propostas para reduzir as emissões de frete. O secretário-geral-adjunto da Câmara Internacional de Navegação (ICS), Simon Bennett, elogiou um acordo "histórico" que "envia um sinal muito forte aos operadores de navios e especialmente aos produtores de energia", que devem agora fornecer "combustíveis marítimos sem emissões de gases de efeito estufa em quantidades elevadas para que uma transição tão rápida seja possível".

A maioria dos 100 mil navios do setor, que transportam 90% das mercadorias no mundo, são movidos a óleo combustível pesado. O transporte marítimo é responsável por cerca de 3% das emissões globais de CO2, segundo a ONU.

O representante das Ilhas Marshall, Albon Ishoda, julgou que a nova estratégia "permite um aquecimento global limitado a 1,5ºC e compromete o setor rumo a uma transição energética justa". "Mas ainda há muito trabalho a fazer para que o aquecimento limitado a 1,5ºC (...) se torne uma realidade", insistiu, segundo o texto de seu discurso ao final das reuniões, ao qual a AFP teve acesso.

"Profundamente preocupado"

As ONGs ambientais foram críticas ao acordo: elas pediam uma meta de -50% até 2030 e neutralidade de carbono até 2040. O texto final “infelizmente não correspondeu às expectativas”, lamentou Harjeet Singh, diretor de estratégia de política global da Climate Action Network International, insistindo na “óbvia disparidade” com os objetivos do acordo de Paris.

O Greenpeace também considerou o pacto "muito fraco" em um setor que "há muito tempo (...) opera fora do nosso campo de visão".

“O nível de ambição do acordo é muito inferior ao necessário para manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC, e a redação do texto é vaga e não vinculativa”, lamentou, por sua vez, a associação Clean Shipping Coalition.

“Os representantes da sociedade civil estão profundamente preocupados”, insistiu a Ocean Campaigns.

Com informações da AFP

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