França suprime voos domésticos curtos para priorizar viagens de trem
A proibição de voos curtos no caso da existência de trens que façam a mesma viagem, com duração inferior a 2h30, entrou em vigor por decreto nesta terça-feira (23) na França. Trajetos aéreos entre o aeroporto de Orly, na periferia de Paris, e as cidades de Nantes, Bordeaux e Lyon já foram suprimidos. O objetivo é priorizar o transporte ferroviário, mais sustentável.
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A medida foi determinada pela lei Clima e Resiliência de 22 de agosto de 2021. O texto já havia começado a ser aplicado, mas foi temporariamente suspenso devido a uma investigação realizada pela Comissão Europeia. Parte do setor aéreo francês contesta a lei, considerando-a contrária ao princípio de livre prestação e inadaptada à luta contra as mudanças climáticas.
A proibição não diz respeito a voos com conexão. A lei determina as condições de aplicação: o trajeto de trem deve ter a chegada obrigatória nas mesmas cidades onde os voos foram suprimidos. "As frequências devem ser suficientes e os horários apropriados, levando em consideração as necessidades de transporte dos passageiros fazendo o trajeto em questão", diz o texto.
Atualmente, apenas três trajetos se encaixam na determinação: entre o aeroporto de Orly, na periferia de Paris, e Nantes, Bordeaux (oeste) e Lyon (centro-leste). Por isso as ligações aéreas com essas três cidades foram suprimidas.
Já os voos entre o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, e Rennes (noroeste) e Lyon, ou entre Lyon e Marselha (sul), são mantidas em razão "do estado atual da oferta ferroviária", indica o site do governo service-public.fr. As viagens de trem disponíveis para esses trajetos "não permitem chegar de manhã cedo ao aeroporto Charles de Gaulle ou ao aeroporto Saint-Exupéry (no caso do voo entre Lyon e Marselha) ou de viajar no final da noite", reitera o texto.
Proibições simbólicas
A Airlines for Europe (A4E), a maior associação de companhias aéreas europeias, criticou nesta terça-feira o que classifica de "proibições simbólicas" e pediu que os governos apoiem "soluções reais e significativas" para reduzir as emissões da aviação.
"A Comissão Europeia, em sua própria avaliação de proibição de voos na França, reconhece que proibir esses trajetos terá apenas consequências insignificantes", indicou o diretor-geral interino da A4E, Laurent Donceel.
Em comunicado, Donceel - que representa Air France, KLM, Lufthansa, Ryanair, British Airways, entre outras - também lembrou que as companhias aéreas se comprometeram a zero emissão de CO2 até 2050, através de combustíveis de origem não-fóssil e aeronaves movidas a eletricidade ou a hidrogênio.
A ONG Transport & Environment (Transporte e Meio Ambiente), também considerou no início de dezembro que "a proibição de voos curtos dentro da França é uma medida simbólica que terá, infelizmente, pouco impacto sobre as emissões.
Já o ministro francês encarregado dos Transportes, Clément Beaune, comemorou a publicação do decreto dizendo que era "uma etapa essencial" e "um sinal forte". "Essa medida é a primeira no mundo que inscreve na política do governo o encorajamento aos transportes menos poluentes", disse.
O decreto é válido por três meses. O impacto da medida será avaliado em um prazo de 24 meses.
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