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Em entrevista exclusiva à RFI, presidente Macron pede “conciliação para salvar planeta"

Uma cúpula para mudar os mecanismos de ajuda aos países para acelerar a transição energética. Esse foi o objetivo do presidente francês, Emmanuel Macron, ao organizar a Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento, que começou ontem e terminou nesta sexta-feira (23), em Paris. O evento reuniu cerca de 40 líderes mundiais, entre eles o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Emmanuel Macron em entrevista exclusiva à RFI, France24 e France Info.
Emmanuel Macron em entrevista exclusiva à RFI, France24 e France Info. © RFI
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Antes do final da Cúpula, Macron concedeu uma entrevista exclusiva nesta manhã para a RFI, a France24 e a France Info. 

O objetivo não é "fazer mais uma cúpula", afirmou Emmanuel Macron. Trata-se de "tentar conciliar" a luta contra a pobreza, a luta pela biodiversidade e a luta contra as mudanças climáticas. "Salvar o planeta é tentar reconciliar" um mundo dividido. "Estamos vivendo um momento de ruptura e riscos", afirmou o chefe de Estado.

Para isso, "o planeta está aqui", em Paris: "o primeiro-ministro chinês, o presidente brasileiro, o presidente sul-africano e muitos outros líderes, o Senegal, a Costa do Marfim, o Vietnã, os Estados Unidos, a Europa".

Trata-se de uma oportunidade de recuperar a confiança entre alguns países do Norte desenvolvido e do Sul, sufocados pela pobreza histórica e calamidades climáticas, dois flagelos que alimentam a espiral insustentável do endividamento. Para isso, fluxos financeiros maciços devem ser injetados nessas economias.

Na véspera, perante uma audiência de líderes majoritariamente da África e países em desenvolvimento, o chefe de Estado apelou para "um choque de financiamento público" mas também para um maior envolvimento do setor privado, porque, disse, "há um muito dinheiro no mundo".

Para Emmanuel Macron, a cúpula também não é uma oportunidade para justificar uma política climática francesa que seria insuficiente, considerando que a França foi criticada por inação climática em 2020 e 2021. "A inação climática valeu para a França no período de 2015 a 2018", retrucou o chefe de Estado, "desde então, não fomos condenados". Pelo contrário, enfatizou ele, "aumentamos pela metade nossas reduções de emissões no período de 2017 a 2022 e continuamos".

Conciliar desenvolvimento e combate às mudanças climáticas

"Nenhum país deve ter que escolher entre reduzir a pobreza e proteger o planeta": esses desafios devem ser enfrentados "ao mesmo tempo", declarou o presidente francês.

"A França tem um efeito cascata para todo o planeta e estamos cumprindo nossos compromissos", "porque aumentamos nossa ajuda pública ao desenvolvimento em 50%". No entanto, a ajuda pública ao desenvolvimento (APD) francesa, de 0,5% de sua renda nacional bruta em 2022, continua aquém dos 0,7% a serem alcançados para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU para os países desenvolvidos.

Em relação ao desenvolvimento, não se deve "colocar ninguém em uma situação em que precise escolher entre pobreza, clima e biodiversidade", repetiu ele, recusando-se a se colocar como um professor que diria "você não tem o direito de desenvolver tal projeto porque não é bom para o planeta", "quando na Europa há países que estão reabrindo usinas a carvão. Isso é completamente absurdo".

Tomando como exemplo o Senegal, que recebeu na quinta-fira uma ajuda de 2,5 bilhões de euros para desenvolver energias renováveis, o uso de seu gás como "energia de transição" não é incompatível com a redução das emissões, afirmou Macron. "Mas alcançar 40% de energias renováveis até 2030, considerando que eles também usarão gás, é uma meta importante para o Senegal, e isso justifica nosso comprometimento", que "permitirá ao Senegal se desenvolver".

Reestruturar a dívida

"Se você cancelar a dívida da noite para o dia, no dia seguinte, ninguém mais emprestar", advertiu Emmanuel Macron, que acredita que "é necessário ter modelos de financiamento sustentáveis". Portanto, a dívida deve passar por uma reestruturação. "Fizemos isso para o Chade" e "ontem para a Zâmbia".

Macron lembrou que nos últimos 15 anos, quando uma dívida era reestruturada, muitos países recorreram à China, principalmente no continente africano, acabando por endividar ainda mais as nações.

Para evitar esse fenômeno, a China deve ser incluída “num quadro global”, o da OCDE, “isto é, que define o que é uma dívida que é sustentável”. “A dívida não é uma coisa ruim quando ela permite dar um impulso inicial”, disse o chefe de Estado.

“Todos os países mais ricos, China incluída, devem estar à volta da mesa”, afirmou, explicando ter falado sobre o assunto com o presidente Xi Jinping, bem como com o primeiro-ministro chinês, atualmente em Paris. “Nossa abordagem para financiar economias na África não é mais a correta”, concluiu.

Em relação ao financiamento global, “temos de concordar em gastar mais”. “O Banco Mundial e o FMI estão mudando completamente sua lógica e vão colocar muito mais recursos públicos”, prometeu.

Mas para Emmanuel Macron, a ajuda aos países em desenvolvimento deve passar pela mobilização de atores do setor privado. “Para cada euro de dinheiro público, é preciso mobilizar um euro de dinheiro privado". Um objetivo que ele considera possível para países em desenvolvimento, países de renda média e países emergentes. Mas, para o chefe de Estado, esse aumento do financiamento privado passa necessariamente por uma redução dos riscos econômicos e políticos que travam os investimentos nos países emergentes, de forma a garantir investimentos viáveis.

Um imposto sobre a riqueza para o clima?

Em uma carta aberta escrita antes da cúpula, 140 especialistas econômicos e ambientais pediram aos líderes reunidos em Paris um imposto sobre grandes fortunas para financiar os danos relacionados ao clima sofridos pelos países mais pobres.

Questionado sobre a possibilidade de estabelecer um "imposto sobre a riqueza para o clima" à escala global, Emmanuel Macron preferiu sugerir outras soluções, como um imposto sobre as transações financeiras ou um imposto sobre as passagens de avião. Medidas já em vigor na França, mas que, para serem eficazes, devem ser generalizadas. “A tributação internacional em um único país não funciona. Porque não é um imposto internacional e penaliza o país em questão”, insistiu o presidente francês.

Outra proposta a ser discutida seria um imposto sobre o transporte marítimo, que emite 3% das emissões globais. Segundo cálculos do FMI, tal imposto poderia gerar entre 30 e 140 bilhões de dólares por ano. O assunto deve ser debatido em julho na cúpula da Organização Marítima Internacional. Novamente, Emmanuel Macron defendeu uma mobilização para obter um acordo com a China.

Rússia, a grande ausente

Membro dos Brics e grande produtor de hidrocarbonetos, a Rússia é a principal ausente desta cúpula. Mas para Emmanuel Macron, essa ausência é sobretudo a prova do seu isolamento no panorama internacional, um ano e quatro meses depois do início da sua ofensiva na Ucrânia.

"A Rússia colocou-se sozinha numa situação de não mais respeitar o direito internacional, de se tornar uma das únicas potências coloniais do século XXI ao travar uma guerra de império com a sua vizinha, a Ucrânia", denunciou Emmanuel Macron.

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