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Os quatro meses decisivos que antecederam o ataque da Rússia à Ucrânia

Embora as origens da invasão russa da Ucrânia remontem a vários anos, os últimos quatro meses foram decisivos para a escalada militar entre Moscou e Kiev. Relembre os momentos cruciais desta operação que resultou na invasão do território ucraniano nesta quinta-feira (24), numa verdadeira crônica anunciada da guerra.


Um voluntário do batalhão Azov no intervalo após um exercício militar perto da cidade de Mariupol.
Um voluntário do batalhão Azov no intervalo após um exercício militar perto da cidade de Mariupol. AFP PHOTO/ GENYA SAVILOV
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Em novembro passado, movimentos incomuns de tropas na fronteira ucraniana preocuparam os norte-americanos, que enviaram Williams Burns, ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, para conversar com os serviços de inteligência do Kremlin.

Era 2 de novembro. No final do mês, o governo de Kiev estimava que 92.000 soldados russos estavam posicionados nas fronteiras do país e que mísseis balísticos russos estavam armazenados na área.

A partir de 15 de novembro, os Estados Unidos reforçaram sua presença no Mar Negro e realizaram exercícios. Uma "provocação" segundo Vladimir Putin, que se referiu assim ao episódio no telefone com o presidente francês Emmanuel Macron.

Em dezembro, provocações e negociações

No início de dezembro, o presidente russo Vladimir Putin anunciou suas exigências. Uma garantia de que a Ucrânia jamais iria aderir à OTAN, para a qual ele dizia preparar dois tratados, e a retirada das forças da Aliança dos países do antigo espaço soviético.

Isso não é novidade: o dirigente russo sempre se recusou a ter tais forças em suas fronteiras. Ao mesmo tempo, o presidente norte-americano, Joe Biden, acenava com a ameaça de sanções no caso de uma invasão: o gasoduto Nord Stream 2, que é altamente estratégico para a exportação de gás russo, poderia ser usado como "alavancagem".

Dez dias depois, Moscou enviou soldados para Belarus para exercícios militares, e, por volta do Natal, a OTAN reforçou sua presença nos países do Leste Europeu que são membros da Aliança do Atlântico Norte.

Washington colocou então 8.500 soldados em alerta máximo. Moscou lançou novas manobras perto da Ucrânia e na Crimeia. De 14 a 16 de janeiro, um vasto ataque cibernético, que Kiev atribui a hackers russos, afetou sites institucionais, militantes e de mídia ucranianos.

Fevereiro: Aceleração das negociações

Em 2 de fevereiro, após o anúncio dos exercícios militares russos e bielorrussos, em meados de fevereiro, Washington redistribui 3.000 soldados para a Europa oriental e, ao mesmo tempo, as partes iniciam uma sequência diplomática muito intensa.

Acontecem então uma série de telefonemas diários, viagens à Ucrânia e a Moscou, que hoje poderiam ser descritos como uma sequência de "pôquer": Putin falava fino e grosso, prometendo paz num dia, e guerra no outro. As declarações dos Estados Unidos naquela época eram muito alarmistas.

Cinco dias depois, ainda tentando embaralhar as linhas, Putin disse que estava pronto a se comprometer, depois de uma reunião com o presidente francês... Então os exércitos russo e bielorrusso iniciaram manobras em grande escala. A OTAN insistiu no risco real de um novo conflito armado na Europa, e a França anunciou possíveis reforços militares na Romênia.

Em meados de fevereiro, o Kremlin anunciou uma retirada parcial de suas forças para as fronteiras ucranianas, e explicou que nunca houve qualquer questão dessas forças permanecerem no lugar, mas a OTAN e Washington disseram que não viram nenhum sinal de desescalada.

É neste momento que as coisas se aceleram. A partir de 17 de fevereiro, ocorrem mais confrontos no leste da Ucrânia. O exército russo aumentou suas forças em 7.000 soldados, enquanto os serviços secretos norte-americanos contaram mais de 150.000 ao longo da fronteira.  Dois dias mais tarde, o exército ucraniano anunciou a morte de dois de seus soldados.

A ruptura de 21 de fevereiro 

Apesar de tudo, nasceu uma última réstia de esperança na segunda-feira, 21 de fevereiro. O Palácio do Eliseu anunciou que os presidentes russo e norte-americano haviam aceitado o princípio de uma reunião. Essa esperança foi frustrada pelo Kremlin, que negou e considerou a reunião "prematura". 

E então, no mesmo dia, Putin fez um discurso extremamente ofensivo na televisão russa, no qual reconheceu a independência das repúblicas separatistas de Donbass.

O Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, disse numa declaração que considerava a decisão da Rússia "uma violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia". Os Estados Unidos anunciaram sanções contra as regiões separatistas. A Alemanha e a França também condenaram o discurso russo, mas deixaram a porta aberta para a diplomacia. 

Mas todas as peças já estavam no lugar: as novas repúblicas separatistas reconhecidas pedem ajuda à Rússia no dia 23 de fevereiro, e a iminência de uma intervenção militar russa, a partir de então, não dava mais margens para dúvidas.

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