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"A gente está se sentindo um pouco abandonado": brasileiros pedem ajuda para sair da Ucrânia

Desde a manhã desta quinta-feira (24), brasileiros que vivem na Ucrânia multiplicam os apelos por ajuda nas redes sociais. A Rússia deu início a um ataque militar ao país vizinho durante a madrugada, com bombardeios aéreos e disparos de mísseis contra as principais cidades ucranianas. Por enquanto, a orientação da Embaixada do Brasil em Kiev é "deslocar-se por meios próprios para outros países a oeste" do território ou seguir a recomendação oficial do governo ucraniano "de não sair" de casa.

Parte da população de Kiev se dirigiu às estações de trem para tentar deixar a capital, depois do ataque da Rússia nesta quinta-feira (24).
Parte da população de Kiev se dirigiu às estações de trem para tentar deixar a capital, depois do ataque da Rússia nesta quinta-feira (24). AP - Emilio Morenatti
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O engenheiro brasileiro David Abu-Gharbil, 30 anos, vive em Kiev há alguns meses e, segundo ele, é impossível deixar a capital ucraniana neste momento. "Alguns aeroportos já foram atacados e corre o risco de nenhum espaço aéreo mais funcionar", afirma. "A gente não está conseguindo sair, as estradas estão lotadas, os trens estão lotados, está tudo lotado", disse o brasileiro, em entrevista à jornalista Taíssa Stivanin, da RFI.

O engenheiro confirma que o governo ucraniano orientou a população de Kiev a permanecer em casa. "Vou sair para ir no supermercado comprar comida para estocar, caso não tenhamos mais mantimentos", afirmou. 

Abu-Gharbil havia conversado com a RFI há dez dias, quando expressou sua calma e otimismo sobre a situação. No entanto, o tom mudou, e o brasileiro diz que, agora, está "meio preocupado". 

"Realmente a coisa ficou tensa de um dia para o outro. Desde ontem [quarta-feira (23)] esse sentimento ficou mais intenso. A gente percebeu essa mudança na fisionomia e no olhar e aí sabíamos que algo iria acontecer", relata.

No entanto, o engenheiro tenta não entrar em pânico. "Agora é aguardar, ficar em casa e se proteger, da melhor forma possível", disse. Mas ele ainda tem esperança de que a situação possa ser revertida: "Vamos ver o que acontece e torcer para isso parar".

Abu-Gharbil afirma que a comunidade brasileira na Ucrânia está se coordenando por conta própria, e por enquanto não há muitas informações sobre como deixar o país. 

O engenheiro David Abu-Gharbil, de 30 anos, chegou em dezembro a Kiev.
O engenheiro David Abu-Gharbil, de 30 anos, chegou em dezembro a Kiev. © Divulgação

"A gente pede apoio ao governo do Brasil"

Em um vídeo publicado no Twitter, jogadores brasileiros dos clubes Shaktar Donetsk e do Dynamo Kiev, acompanhados por suas esposas e filhos, reclamam da falta de informações. Reunidos em um hotel na capital ucraniana, eles relatam a escassez de combustível na cidade e o fechamento do espaço aéreo. 

"A gente pede apoio ao governo do Brasil, que possa nos ajudar", diz um dos jogadores do grupo. Os atletas também pedem que o vídeo seja compartilhado "ao máximo de pessoas".

"A gente está se sentindo um pouco abandonado, porque a gente realmente não tem o que fazer, não sabe o que fazer", diz uma das mulheres. "As notícias não chegam até nós, a não ser as do Brasil", explica, dizendo que as famílias deixaram suas casas às pressas para se abrigar no hotel, levando "apenas uma peça de roupa" e sem saber "se vai ter comida". 

Embaixada pede que brasileiros se desloquem para o oeste da Ucrânia

A Embaixada do Brasil em Kiev está se comunicando com os cidadãos por meio de mensagens publicadas em sua página no Facebook, orientando os brasileiros a seguir as instruções das autoridades locais e acompanhar as notícias. 

Na última mensagem postada na manhã desta quinta-feira, uma nota afirma que "após uma série de ataques a alvos militares e estratégicos por todo o país, a situação na maior parte das regiões ucranianas é no momento relativamente estável". No entanto, a recomendação é de "deslocar-se por meios próprios para outros países a oeste da Ucrânia (...) o tão logo possível". 

No entanto, a mensagem lembra que a recomendação oficial do governo ucraniano para o momento é de ficar em casa, "tendo em conta grandes engarrafamentos nas saídas da cidade". 

"Aos brasileiros que não puderem deixar o país de modo seguro, a embaixada orienta a procurar um local seguro para o momento, longe de bases militares, instalações responsáveis pelo fornecimento de energia e internet e áreas responsáveis pela produção de energia elétrica", enfatiza a nota, prometendo manter a comunicação com os cidadãos ao longo do dia.

Alguns internautas criticam a atitude das autoridades consulares brasileiras. "Sério? Vocês não vão oferecer suporte algum? Falaram que não precisava evacuar a Ucrânia ainda, e agora que estamos sendo bombardeados não existe nenhum plano de resgate?", diz um dos comentários.

Em uma breve mensagem enviada à jornalista Taissa Stivanin, da RFI, o embaixador brasileiro na Ucrânia, Norton de Andrade Mello Rapesta, expressou sua consternação com a situação. "Agora é tarde. Vamos aguardar hoje, ver o que acontece e vamos nos organizando", disse. 

(Texto de Daniella Franco)

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