Acessar o conteúdo principal

Oposição de Macron ao acordo UE-Mercosul tende a ser temporária, avalia a imprensa francesa

A posição de isolamento do presidente Emmanuel Macron na União Europeia, depois de ter dito que continuaria a se opor ao acordo de livre comércio com o Mercosul, é vista pela imprensa francesa, nesta sexta-feira (2), como uma manobra política temporária, até os resultados das eleições de junho no Parlamento Europeu. 

O presidente francês, Emmanuel Macron.
O presidente francês, Emmanuel Macron. © LUDOVIC MARIN / AFP
Publicidade

 

Macron tenta evitar uma ampla vitória da extrema direita nas eleições europeias e o vexame de ver seu partido sair derrotado das urnas. As pesquisas de intenção de voto indicam a liderança dos nacionalistas, o que fez o líder francês incorporar expectativas desse eleitorado em seus discursos.

Os partidos populistas franceses e de outros países europeus surfam na onda de insatisfação dos agricultores para criticar as políticas liberais de Bruxelas. Caso a extrema direita venha a formar uma grande bancada no Parlamento Europeu de Estrasburgo, a própria segurança da União Europeia poderia ficar comprometida, já que a maioria dos partidos extremistas, seja de direita ou de esquerda, são pró-Rússia.

Na reportagem "Acordo Mercosul: a França menos contrária do que parece", o site de informação Mediapart entrevistou vários especialistas sobre essa aparente posição isolada de Macron.

Melindrado com a concessão sobre o SUS?

O veículo recorda que a oposição de Paris ao tratado com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai não é nova e foi manifestada por Macron desde 2019, no auge das queimadas promovidas pelo governo de Jair Bolsonaro. Não haveria, então, nada de novo, à parte uma questão apontada por uma economista. Com as recentes concessões feitas pela Comissão Europeia ao Brasil, entre elas a exclusão da participação de empresas europeias nas licitações do SUS, Macron pode ter ficado ressabiado, já que era o setor de maior interesse para a indústria farmacêutica francesa.

O site de notícias recorda que a França tem defendido outros acordos comerciais. A grande maioria dos eurodeputados macronistas votaram a favor dos tratados de livre comércio assinados recentemente pela Comissão Europeia com o Vietnã e a Nova Zelândia. O tratado Ceta, entre o bloco e o Canadá, foi aprovado pela base do governo na Assembleia de Deputados e só não foi analisado ainda pelo Senado porque Macron não tem maioria na casa e quer ter certeza de sua ratificação. Por essas e outras razões, ambientalistas franceses acreditam que a oposição da França será temporária, uma manobra política pré-eleitoral do líder centrista.

Em seu editorial, o jornal conservador Le Figaro diz que até poucos meses atrás a palavra "soberania" cheirava a naftalina na Europa. Ao mesmo tempo, o veículo não vê razão para que a França perca a experiência acumulada no setor agrícola. "Esta necessidade de soberania, de reapropriação, evocada em todos os níveis do poder Executivo, deveria ter sido óbvia há muito tempo. Ela teria evitado uma série de erros estratégicos!", diz Le Figaro.

Quem perde é a ecologia

Os ecologistas franceses ficaram furiosos com a decisão do governo de ceder à pressão dos grandes produtores e congelar a aplicação do plano "Ecofitossanitário 2030", que deveria ter sido detalhado em janeiro e previa e redução de 50% do uso de pesticidas nos próximos anos. 

Em sua manchete, o Libération diz que a ecologia saiu derrotada da crise agrícola e critica duramente o retorno do conceito de "soberania" no discurso do governo e da Comissão Europeia, apesar dos riscos relacionados com as eleições no Parlamento de Estrasburgo.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.