Financiar a transição climática vira dor de cabeça para governo francês
A França se encontra diante de um desafio colossal: como financiar a transição ecológica? O assunto é tema de manchete e editoriais da imprensa nesta terça-feira (23). A terceira versão da estratégia nacional de baixo carbono (SNBC) está sendo revisada atualmente pelo governo francês e deve estabelecer os esforços que cada setor da economia deve fazer para reduzir suas emissões de carbono, explica o Les Echos.
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O planejamento ecológico foi uma das promessas de campanha do presidente Emmanuel Macron para seu segundo mandato.
Um relatório elaborado pelo economista Jean Pisani-Ferry em parceria com a inspetora de finanças Selma Mahfouz, divulgado na segunda-feira (22), mostra que a França deve reduzir 55% de suas emissões no período de 2021 a 2030, o equivalente a 150 milhões de toneladas de CO2, se quiser honrar suas metas. Esse corte drástico indica que o país terá de fazer em dez anos o que foi feito em três décadas, porém, em um contexto de reindustrialização estratégica do país. Os setores de transportes, construção civil e indústria serão os mais afetados e terão de diminuir dois terços de suas emissões atuais.
Em entrevista ao Le Monde, Pisani-Ferry, próximo de Macron, diz que este esforço representará um "choque negativo para a economia", num primeiro momento. O economista adverte que a dívida pública irá aumentar o equivalente a 10 pontos adicionais do PIB, ou seja, um montante entre € 250 e € 300 bilhões até 2030. Dez anos mais tarde, em 2040, o cenário pode ser pior, com uma dívida pública representando 25 pontos do PIB. Em resumo, a França terá de realizar uma revolução industrial, mas em um contexto político e social potencialmente tenso.
Para financiar a transição climática, os autores do estudo não têm muitas cartas na manga. Pisani-Ferry sugere eliminar despesas e investimentos do Estado nocivos para o clima, "endividamento público como investimento de futuro" e a criação de um imposto excepcional e temporário de 5% sobre o patrimônio financeiro de 10% dos franceses de maior renda, assinala o jornal L'Opinion.
Revolução industrial e cultural
Na avaliação do jornal Libération, se Macron seguir esta última recomendação, isso representaria "uma verdadeira revolução cultural", já que toda a política econômica do governo tem sido baseada na redução dos impostos e da carga tributária paga pelas empresas.
Entretanto, criar mais um imposto para financiar a transição climática não é uma alternativa consensual. Analistas financeiros questionam se a medida teria de fato resultado prático. A tendência é que sabendo que o governo irá aumentar a tributação de determinadas aplicações financeiras, esses produtos perdem atratividade e as pessoas procuram outras formas de garantir uma poupança.
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