França lança plano transversal para poupar 10% da energia usada no país; saiba como
A França detalhou nesta quinta-feira (6) um plano nacional para cortar em 10% o uso da energia no país em dois anos, em meio à alta dos preços e riscos de abastecimento na Europa após o início da guerra na Ucrânia.
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O plano de “sobriedade energética” apresentado pela ministra da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacher, visa não apenas enfrentar a crise atual, como colocar a França nos trilhos de uma redução do consumo a longo prazo, com vistas a atender os objetivos do país no combate às mudanças climáticas. A ministra esclareceu que o governo optou por medidas para evitar desperdícios e estimular iniciativas inovadoras, em vez de promover uma “caça às bruxas”, com metas obrigatórias para empresas e particulares.
Todos os setores da sociedade serão envolvidos, afirmou a ministra. A principal recomendação, com cumprimento imediato na perspectiva dos dias frios que já começaram a chegar, é não ultrapassar a temperatura de 19°C no sistema de aquecimento dos apartamento e escritórios franceses. A calefação, junto com os transportes, representam as maiores fontes de consumo energético no país.
Nos depósitos ou nas empresas desocupadas durante a noite, o objetivo é baixar para 16°C e até 8°C, quando um destes locais ficar pelo menos 48h fechado, à exceção das creches e estabelecimentos de saúde. O período de aquecimento dos imóveis poderá ser reduzido, conforme a evolução das condições meteorológicas.
“A queda do consumo de energia deve se inscrever num período longo de tempo. Não é um efeito de moda, durante um inverno. É uma nova maneira de pensar e agir”, sublinhou a primeira-ministra, Élisabeth Borne, ao complementar o projeto.
Transportes, varejo, lazer e cultura
Nos transportes, o governo vai estimular a prática de caronas, com incentivos – numa valor ainda não anunciado – para novos usuários a partir de 1° de janeiro de 2023. As empresas receberão ajuda para viabilizar a expansão do uso de serviços de aluguel de bicicletas elétricas pelos empregados, enquanto os funcionários públicos deverão respeitar um limite de velocidade a 110 km/h nas estradas, quando estiverem usando um carro de serviço.
No serviço público, o subsídio fixo de teletrabalho subirá 15%, para € 2,88 por dia, para limitar o consumo de combustível. Os serviços públicos também serão incentivados a reunir os funcionários nas áreas aquecidas dos imóveis durante o inverno.
O varejo se comprometeu a reduzir 30% da luz nas lojas quando há presença do público e em 50% antes da chegada dos clientes, e quer suspender o ar condicionado durante a noite. Anúncios e letreiros de néon serão extintos quando os shopping centers fecharem.
Na indústria, estão previstas análises em massa dos diagnósticos energéticos das plantas industriais e uma generalização da iluminação LED. A recarga da bateria de veículos e carrinhos elétricos deve ser escalonada, para evitar os horários de pico (8h às 13h e 18h às 20h).
No lazer e nos esportes, a temperatura da água das 4.000 piscinas públicas será reduzida em 1°C, conforme o público a frequentá-las, assim como a das saunas e outros estabelecimentos termais, que terão o horário de funcionamento reduzido.
Nos estádios, o tempo de iluminação antes ou depois das partidas será reduzido em 50% para competições diurnas e em 30% à noite. A temperatura dos ginásios será colocada em modo de proteção contra congelamento, em caso de tensão na rede.
O museu do Louvre desligará a sua famosa pirâmide às 23h e o Palácio de Versalhes apagará suas fachadas às 22h, a exemplo de outras iniciativas na área cultural. Nos cinemas, os operadores reduzirão a iluminação, o uso de sinalização e o aquecimento.
Plano a longo prazo
A objetivo de reduzir 10% do consumo refere-se aos índices de 2019, antes da pandemia de Covid-19. No futuro, a ambição francesa é cortar 40% do consumo energético até 2050, quando Paris promete descarbonizar a economia.
“Todo mundo deve se comprometer porque nós estamos em uma situação de urgência pelo planeta e as gerações futuras, mas também pela nossa independência”, frisou Pannier-Runacher, enquanto a Europa acelera o passo para se livrar dos combustíveis russos, em especial o gás natural.
“É uma luta que não vai acabar em 2022-2023. É um trabalho para os 30 anos à frente”, destacou, ressaltando que o plano francês contém sobretudo medidas de “bom senso”. “A questão é sair das energias fósseis e termos realmente energias abundantes, a baixo preço, que não prejudiquem o planeta.”
A ministra esclareceu que € 800 milhões serão liberados para “acompanhar os gestos de sobriedade energética no parque imobiliário, nos transportes e prédios públicos”.
Com informações da AFP e Reuters
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