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Braço político do ETA, coalizão separatista registra guinada em eleições regionais no País Basco

Considerada herdeira do extinto grupo armado nacionalista ETA, a coalizão EH Bildu registrou um avanço histórico no domingo (21) nas eleições no País Basco espanhol. No entanto, ao contrário do que as pesquisas previam, a legenda separatista de esquerda não conseguiu chegar em primeiro lugar.

Pello Otxandiano (centro), candidato da coalizão separatista de esquerda EH Bildu, em Bilbao, no País Basco, norte da Espanha, em 21 abril de 2024.
Pello Otxandiano (centro), candidato da coalizão separatista de esquerda EH Bildu, em Bilbao, no País Basco, norte da Espanha, em 21 abril de 2024. © Vincent West / Reuters
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Do total de 75 assentos no Parlamento regional, a EH Bildu passou de 21 a 27 cadeiras e alcançou o mesmo número de deputados que os moderados do Partido Nacionalista Basco (PNV), que dominam a política local desde as primeiras eleições democráticas regionais, em 1980.

A EH Bildu não esconde esperar um dia chegar à liderança da região. "Demos um passo gigante. Entramos em uma nova era", declarou na noite de domingo (21) Pello Otxandiano, candidato a chefe do governo basco. "Vamos continuar a trabalhar humildemente, como sempre, pelo povo", reforçou o presidente da coalizão, Arnaldo Otegi. 

A EH Bildu ganhou seis cadeiras em relação à configuração anterior, e o PNV perdeu quatro. Já em número de votos, o PNV recebeu quase 30 mil a mais do que a EH Bildu.

Com o empate de deputados, cabe ao Partido Socialista de Pedro Sánchez escolher entre dois partidos, cujo apoio é indispensável para governar. O cenário mais provável é que o chefe de governo espanhol ofereça seus 12 deputados ao PNV para permanecer no poder, como já ocorreu em diversas ocasiões.

Forte apoio entre os jovens

Cerca de 1,8 milhões de eleitores - de uma população total de 2,2 milhões - foram convidados às urnas para eleger os 75 deputados do Parlamento basco. Dirigida por um ex-membro do ETA, Arnaldo Otegi, a EH Bildu atraiu a atenção dos jovens ao apostar em uma estratégia eleitoral que colocou as reivindicações separatistas em segundo plano para focalizar em questões sociais. 

"A maior parte dos jovens que votam hoje não conheceu o terrorismo", explicou a eleitora basca Elena Garcia. Segundo ela, "se o eleitor é de esquerda e preocupado com o social, ele vota na EH Bildu", reiterou.

Seis anos após a dissolução do ETA, apontado como o responsável da morte de mais de 850 pessoas em quatro décadas, a EH Bildu quer mostrar que se distanciou do grupo armado, avalia Eva Silvan, cientista política da consultoria Silvan&Miracle, no País Basco espanhol.

"A EH Bildu aborda as mudanças climáticas, feminismo, moradia e se conecta com as preocupações dos mais jovens, uma geração que começa a votar e que não conheceu o terrorismo", avalia Silvan.

Apesar das tentativas da coalizão de se desvencilhar do passado, o ETA voltou ao centro da campanha já que o candidato da EH Bildu, Pello Otxandiano, se recusou a classificar a organização separatista armada de "terrorista". Pressionado pela classe política espanhola, ele acabou pedindo desculpas, mas sem expressar uma verdadeira mudança de posicionamento. 

Posição desconfortável por Pedro Sánchez

A votação, acompanhada com muita atenção por toda a Espanha, colocou o Partido Socialista em uma posição de mediador da rivalidade entre o PNV e a EH Bildu. As duas legendas são aliadas indispensáveis do governo minoritário de Sánchez. No entanto, desde o início da campanha, os socialistas deixaram claro que não se aliariam com os separatistas de esquerda. 

Segundo o candidato socialista Eneko Andueza, o braço político do ETA "tem uma dívida com a sociedade basca". "Enquanto não condenarem o terrorismo, não assinaremos nenhum acordo com eles", reiterou. 

A aliança entre os socialistas e o EH Bildu no Parlamento espanhol também é alvo de intensos ataques da oposição de direita, que acusa a legenda governista de "dar carta branca aos herdeiros do ETA". 

Depois de Madri, o País Basco tem a renda per capita mais alta da Espanha, com uma média de quase € 36 mil anuais por habitante. A região contribui com 5,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da Espanha (a região de Madri contribui com 19,4%), segundo dados da Caixabank Research. O País Basco também é a região com menor índice de desemprego do país (7,9%), segundo dados do governo regional 

(RFI com AFP)

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