Acessar o conteúdo principal

Influência russa no Parlamento europeu: Bélgica investiga denúncias de corrupção de eurodeputados

O Ministério Público Federal belga abriu uma investigação sobre suspeitas de corrupção de eurodeputados após a identificação de uma rede de influência financiada por Moscou. O tema será discutido na próxima semana, na cúpula da União Europeia – e a dois meses da realizações de eleições para renovar o Parlamento europeu.

Serviços secretos da República Tcheca identificaram rede para influenciar deputados europeus a favor da Rússia. (Foto ilustrativa, 10/04/2024)
Serviços secretos da República Tcheca identificaram rede para influenciar deputados europeus a favor da Rússia. (Foto ilustrativa, 10/04/2024) © AP - Geert Vanden Wijngaert
Publicidade

No final de março, a República Tcheca revelou que seus serviços de inteligência identificaram uma rede financiada e orquestrada por Moscou para difundir propaganda  a favor da ofensiva russa na Ucrânia, por meio do site Voice of Europe. A Bélgica então indicou que, segundo os seus serviços, os eurodeputados “receberam dinheiro” para transmitir mensagens da Rússia no âmbito europeu.

“As nossas autoridades judiciais confirmaram que esta interferência está sujeita a processo”, disse o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, nesta sexta-feira (12). “Os pagamentos em dinheiro não ocorreram na Bélgica, mas as ingerências, sim”, explicou, ressaltando que o seu país é sede de diversas instituições europeias.

O processo junto ao Ministério Público Federal foi aberto com base em uma norma que pune a interferência por meio de “doações, empréstimos ou vantagens” recebidas de pessoa ou organização estrangeira, confirmou à AFP um porta-voz da instituição. A lei prevê pena de prisão de seis meses a cinco anos e multa de € 1.000 a € 20.000.

Com sede em Praga, o portal Voice of Europe – que segue no ar – divulga artigos muito críticos da ajuda ocidental à Ucrânia, e dá amplo espaço aos líderes políticos de extrema direita do continente. Pelo menos 15 lideranças ultraconservadoras já foram entrevistadas.

A imprensa na Alemanha e na República Checa afirma que este site também serviu como meio de financiamento de candidatos às eleições europeias considerados aceitáveis ​​por Moscou, com pagamentos em dinheiro a políticos de seis países: Polônia, Hungria, Alemanha, França, Bélgica e Holanda.

Objetivos de Moscou 'são claros’

Segundo os serviços de inteligência belgas, “os objetivos de Moscou são claros: ajudar a eleger mais candidatos pró-Rússia para o Parlamento Europeu”, nas eleições de junho, “e reforçar o discurso pró-Rússia dentro desta instituição, o que é extremamente preocupante”, insistiu M. De Croo.

“Temos a responsabilidade de defender o direito de cada cidadão ao voto livre e seguro”, frisou, sem especificar quem eram os deputados suspeitos.

Além dos processos judiciais nacionais, “devemos agir a nível europeu”, salientou o primeiro-ministro belga. "Precisamos de mais ferramentas para lutar contra a propaganda e a desinformação russa”, frisou.

Segundo ele, o Ministério Público Federal vai solicitar "nos próximos dias" uma reunião "de emergência" da Eurojust, a a agência judicial da UE, e o assunto será discutido nas próximas quarta e quinta-feira durante uma cúpula de líderes dos países-membros do bloco, em Bruxelas.

"Precisamos examinar se os atuais mandatos da Procuradoria Europeia e do OLAF [Organismo Europeu Antifraude] são suficientes para enfrentar esta ameaça russa. Se não for esse o caso, devemos alargar estes mandatos", especificou Alexander De Croo.

A República Tcheca já incluiu na sua lista negra nacional um empresário próximo do Kremlin, Viktor Medvedchuk, e o jornalista Artem Martchevsky, suspeito de estar envolvido com o esquema de corrupção de eurodeputados. Segundo De Croo, a questão da inclusão dos dois nomes em uma lista de pessoas vetadas de entrar na UE será evocada.

Centenas de milhares de euros ou criptomoedas

De acordo com uma investigação da revista alemã Spiegel, o dinheiro foi entregue em espécie aos eurodeputados envolvidos durante reuniões em Praga, ou transferido em criptomoedas, num total de “várias centenas de milhares de euros”.

Maximilian Krah e Petr Bystron, os principais candidatos do partido de extrema-direita alemão AfD nas eleições europeias, negaram ter recebido dinheiro de fontes pró-Rússia, depois de terem sido questionados a respeito de entrevistas que deram ao site.

O veículo tcheco Denik K afirmou que os serviços secretos do país tinham gravações de áudio confirmando o pagamento de dinheiro de origem russa a Petr Bystron.

Já abalado desde dezembro de 2022 pelo chamado caso “Catargate”, sobre suspeitas de corrupção de eurodeputados envolvendo o Qatar e Marrocos, o Parlamento Europeu disse, no final de março, que “examinaria as conclusões das autoridades tchecas”.

Os líderes dos grupos que reúnem os Liberais e os Verdes no Parlamento, por sua vez, pediram a abertura de uma investigação interna “imediata e transparente”, em cooperação com as autoridades nacionais.

Com informações da AFP

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.