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Salvini afirma "ter prestado serviço" à Itália ao tentar impedir chegada de barco de migrantes ao país

O vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini disse nesta sexta-feira (12) que “prestou um serviço” à Itália ao bloquear a chegada ao país de um barco de migrantes, em agosto de 2019, quando era ministro do Interior. Ele é julgado, em Palermo, por impedir o desembarque de 147 imigrantes, inclusive crianças, e pode ser condenado a 15 anos de prisão. 

O ex-ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, enfrenta processo por ações contra migrantes.
O ex-ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, enfrenta processo por ações contra migrantes. Guglielmo Mangiapane/Reuters
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"Considero que prestei um serviço útil ao país. Assumo plena responsabilidade pelo que fizemos com resultados nunca antes obtidos (...) não só em termos de combate ao tráfico de seres humanos, mas sobretudo em termos de vidas salvas”, declarou durante seu julgamento em Palermo, na Sicília, que pretende determinar se Salvini impediu ilegalmente o desembarque destes migrantes num porto italiano.

Salvini, líder do partido anti-imigração A Liga e aliado da primeira-ministra de extrema direita Giorgia Meloni, rejeita firmemente as acusações contra ele pelos fatos ocorridos em agosto de 2019.

Ele é acusado de ter usado sua posição como ministro para bloquear 147 migrantes no mar, recusando-se a deixá-los desembarcar de um navio de resgate da ONG espanhola Open Arms enquanto o estado de saúde das pessoas a bordo se deteriorava rapidamente.

Salvini pode pegar até 15 anos de prisão por “sequestro”, com o agravante de haver menores a bordo do navio.

Conhecido por suas posições populistas, Matteo Salvini, 50 anos, recorreu repetidamente a ataques contra migrantes para fortalecer seu capital político.

As travessias de migrantes caíram 90% sob a política restritiva que ele impôs nos últimos anos, enquanto as mortes de migrantes diminuíram pela metade, disse ele.

O site italiano de fact-checking Pagella Politica especifica, por outro lado, que o número de chegadas começou a diminuir no verão de 2017 e que, apesar do número absoluto de mortes ter diminuído, ele aumentou em porcentagem em comparação ao número de migrantes que chegaram à costa italiana durante este período.

Segundo dados do Ministério do Interior, cerca de 120 mil migrantes chegaram às costas italianas em 2017, cerca de 23.400 em 2018 e 11.500 em 2019.

Dados da Agência de Migração das Nações Unidas (OIM) mostram que 2.337 migrantes morreram ou desapareceram no Mediterrâneo em 2018 – e não apenas na costa da Itália – em comparação com 1.885 em 2019, 1.449 em 2020 e 2.048 em 2021.

Salvini, que fez parte do primeiro governo de Giuseppe Conte (de junho de 2018 a agosto de 2019), impôs o fechamento dos portos italianos aos navios de ONGs que resgatavam migrantes.

Epidemia de sarna

Salvini justificou esta política por razões de segurança, dizendo que se tratava de uma luta contra os contrabandistas. Ele reiterou, na sexta-feira, com e-mails como prova, que a decisão de impedir o barco Open Arms de atracar foi tomada com o acordo de todo o governo, incluindo Giuseppe Conte, com quem as relações estavam prejudicadas.

Os migrantes, retidos a bordo durante três semanas, foram finalmente autorizados por decisão judicial a desembarcar em Lampedusa, uma pequena ilha italiana ao largo da costa da Tunísia.

Durante seu depoimento, os membros do Open Arms explicaram que a saúde física e mental dos migrantes estava em perigo, e que eles enfrentavam, inclusive, uma epidemia de sarna. Alguns deles, desesperados, chegaram a se atirar no mar, despertando a indignação de associações humanitárias.

Salvini se defendeu dizendo que “a situação não era de risco”. Ele sublinhou ainda que a política do governo Conte era autorizar o desembarque de migrantes apenas após um acordo de redistribuição noutros países da União Europeia (UE), reconhecendo que isso equivalia a exercer "uma forma de pressão" sobre a UE.

Estes acontecimentos ocorreram no meio de uma crise política, depois de Salvini ter retirado o seu apoio ao governo Conte, numa tentativa de provocar novas eleições, que esperava ganhar.

Mas Conte conseguiu formar uma nova coligação sem A Liga e, em 2020, o Senado votou pelo fim da imunidade parlamentar do antigo ministro.

O governo Meloni também adotou uma linha dura em relação às ONGs de resgate de migrantes, agora obrigadas a chegar ao porto italiano que lhes foi atribuído, muitas vezes muito longe do local onde os migrantes foram resgatados, o que não lhes permite permanecer na região para prestar uma possível assistência a outros migrantes em perigo.

Uma política sem resultados convincentes até agora: mais de 157 mil migrantes chegaram a Itália em 2023, em comparação com cerca de 105 mil em 2022.

(Com informações da AFP)

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