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Às vésperas da COP28, companhia inglesa faz primeiro voo transatlântico com combustíveis sustentáveis

O primeiro voo transatlântico movido inteiramente por combustíveis sustentáveis pousou nesta terça-feira às 19h30 GTM, 16h30 pelo horário de Brasília, no aeroporto JFK, em Nova York. O voo, operado pela companhia aérea britânica Virgin Atlantic, decolou do aeroporto de Heathrow, em Londres, por volta das 11h50. A novidade não entusiasmou organizações ambientais, que descrevam a iniciativa como "greenwashing", expressão usada para designar uma propaganda enganosa feita como o objetivo de parecer que empresas são comprometidas com a sustentabilidade. 

Jato da Virgin Atlantic movido a combustível sustentável faz seu primeiro voo transatlântico.
Jato da Virgin Atlantic movido a combustível sustentável faz seu primeiro voo transatlântico REUTERS - PETER NICHOLLS
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"Acabei de desembarcar em Nova York vindo de Londres depois de participar do primeiro voo transatlântico com 100% de combustível sustentável do mundo com a Virgin Atlantic Airlines", disse o parlamentar conservador britânico Henry Smith no X, atestando que tudo havia corrido bem. "Uma conquista significativa da aviação do Reino Unido", acrescentou.

O voo da Virgin é o primeiro “a operar 100% com os chamados combustíveis sustentáveis em ambos os motores, por uma companhia aérea comercial, numa rota de longo curso”, especificou a companhia, num comunicado de imprensa. A empresa também explica que não se trata de um voo comercial ou de carga. 

O bilionário britânico Richard Branson, fundador da empresa, disse estar “muito orgulhoso de estar a bordo” do voo ao lado das equipes “que trabalharam juntas para traçar o caminho para a descarbonização da aviação de longo curso”, de acordo com a Virgin Atlantic. 

O empresário de 70 anos já havia conseguido realizar outro sonho, em julho de 2021: chegar ao espaço a bordo de uma nave construída pela sua empresa Virgin Galactic.

“O voo histórico de hoje (…) mostra como podemos descarbonizar os transportes e permitir que os passageiros continuem a voar quando e onde quiserem”, saudou o ministro dos Transportes britânico, Mark Harper, também citado no comunicado de imprensa. 

Produzidos a partir de óleos usados, resíduos de madeira ou algas, os combustíveis de aviação sustentáveis (SAFs) podem ser usados além do querosene (até 50%) nas aeronaves atuais. Eles são considerados a principal alavanca para a descarbonização do setor nas próximas décadas, mas a sua produção continua a ser incipiente e muito cara. 

Além disso, o SAF é utilizado em motores de combustão que continuam a gerar CO2, ocorrendo a descarbonização no ato de reutilizar materiais vegetais, em vez de extrair hidrocarbonetos. 

O voo acontece em um Boeing 787 equipado com motores Rolls-Royce que funcionam apenas com esse combustível.  

"Impasse tecnológico" 

Em dezembro de 2022, o governo britânico anunciou um aporte de “até 1 milhão de libras” para apoiar este projeto liderado pela companhia aérea Virgin, em colaboração com a Universidade de Sheffield, o fabricante americano de aviões Boeing, o fabricante britânico de motores Rolls-Royce e a gigante BP hidrocarbonetos. 

A associação ambientalista Stay Grounded descreveu a operação como “ecologização de fachada” em um comunicado de imprensa na segunda-feira (27). “Não por acaso, este voo ocorre dois dias antes do início da COP28 em Dubai”, afirma a entidade. “Embora a atenção do mundo esteja focada em um único voo, todos os dias há 100.000 que utilizam combustíveis fósseis. Os substitutos são apenas uma gota no oceano de hidrocarbonetos”. 

Finlay Asher, engenheiro aeroespacial que trabalhou na Rolls Royce, citado pela Stay Grounded, explica que a tecnologia CDA, chamada em inglês SAF, é um “beco sem saída tecnológico” porque não pode ser desenvolvida em escala suficiente para fazer a diferença.  

“Os resíduos utilizados como matéria-prima para o bioquerosene deste voo não estão disponíveis em quantidades suficientemente grandes para ter um impacto significativo nas emissões da aviação”, acrescenta Doug Parr, cientista do Greenpeace. 

"Além disso, o CO2 proveniente da captura direta do ar e o hidrogênio verde produzido por eletrólise - ambos utilizados para produzir e-querosene - são de produção muito dispendiosa. 

(Com informações da AFP)

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