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Justiça italiana entra em fase final de julgamento contra mafiosos da 'Ndrangheta

Mais de 300 supostos integrantes da 'Ndrangheta, a mais rica e poderosa das máfias italianas, enfrentam nesta semana a última fase do julgamento iniciado há quase três anos pela Justiça da Itália. Algumas das penas podem alcançar até quase 5.000 anos de prisão. O tribunal deve anunciar o veredito nesta semana.

Policial em uma das ruas de Vibo Valentia, na Calábria, onde atua a 'Ndrangheta
Policial em uma das ruas de Vibo Valentia, na Calábria, onde atua a 'Ndrangheta AFP - GIANLUCA CHININEA
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Desde janeiro de 2021, 13 juízes de Calábria passaram milhares de horas ouvindo as testemunhas, incluindo mafiosos arrependidos que aceitaram colaborar com a justiça e falar sobre as atividades da família Mancuso e de seus associados. 

O clã, um dos mais importantes da 'Ndrangheta, controla a província de Vibo Valentia, na Calábria, no sul da Itália, uma das regiões mais pobres do país.

A 'Ndrangheta é a mais rica e poderosa das máfias italianas e detém o monopólio do tráfico de cocaína na Europa. Presente em quase 40 países, a máfia controla a região da Calábria, corrompe o governo e amedronta a população.

"O julgamento tem como alvo uma das famílias mais importantes da 'Ndrangheta, baseada na Calábria e com ramificações internacionais", explicou Antonio Nicaso, especialista em máfia. 

O julgamento, que acontece em um bunker com grande dispositivo de segurança na cidade de Lamezia Terme, é o mais importante contra a máfia em mais de três décadas. Os 322 réus são acusados de associação mafiosa, tráfico de drogas, extorsão, agiotagem e lavagem de dinheiro, entre outras acusações.

O líder da máfia em Vibo Valentia, Luigi Mancuso, 69 anos, está sendo julgado separadamente, após ser detido em 2019 durante uma operação que resultou na prisão de mais de 300 supostos mafiosos.

Depoimentos de arrependidos

O Ministério Público pediu 30 anos de prisão para vários colaboradores próximos de Mancuso, que eram responsáveis pelas relações com outras máfias. No banco dos réus estão executivos de empresas, prefeitos e funcionários públicos, incluindo um comandante da polícia.

Um dos acusados mais famosos é o advogado Giancarlo Pittelli, 70 anos, ex-deputado e senador pelo partido 'Forza Italia' de Silvio Berlusconi, que pode ser condenado a até 17 anos de prisão por suposto papel de intermediário entre o clã e o mundo político.

Outros 67 acusados já foram condenados depois que optaram por um processo acelerado. Os depoimentos mais impactantes foram apresentados por quase 50 criminosos arrependidos, incluindo um sobrinho de Luigi Mancuso.

Entre vários temas, eles revelaram segredos sobre a ocultação de armas em cemitérios ou ambulâncias utilizadas para transportar drogas. Eles também explicaram como a água municipal era desviada para regar plantações de maconha.

Cabeças de golfinho

Aqueles que expressavam oposição à máfia encontraram cachorros mortos, cabeças de cabra e até cabeças de golfinhos na porta de suas casas, além de terem carros incendiados e as vitrines destruídas.

Alguns "dissidentes" também foram agredidos e atingidos por tiros. Outros desapareceram e os corpos nunca foram encontrados. A 'Ndrangheta se desenvolveu de maneira discreta durante décadas, enquanto as autoridades concentravam os esforços para combater a Cosa Nostra, a máfia siciliana retratada em filmes como "O Poderoso Chefão".

O primeiro grande julgamento contra a 'Ndrangheta aconteceu em 1986, em Palermo, e terminou com a condenação de 338 mafiosos. Analistas consideram que a 'Ndrangheta, formada por quase 150 famílias calabresas, fatura quase US$ 50 bilhões por ano em todo o mundo.

Com a ajuda da Interpol, a Itália conseguiu nos últimos anos apertar o cerco aos criminosos. Isto permitiu que as forças policiais ao redor do planeta identificassem e impedissem as atividades da 'Ndrangheta em seus territórios.

Mas, apesar do julgamento, os analistas consideram pouco provável que o grupo mude seu modo operacional.

(Com informações da AFP)

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