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França e Itália entram em conflito sobre acolhimento de navios de migrantes

A tensão aumentou na quarta-feira (9) entre França e Itália a respeito da recepção do Ocean Viking, um dos navios humanitários encalhados no Mediterrâneo com centenas de migrantes a bordo. Paris denunciou a recusa de Roma em aceitar o atracamento do barco.

Imagem de arquivo mostra o Ocean Viking, navio de resgate de migrantes da SOS Meditérranée (6/7/2020).
Imagem de arquivo mostra o Ocean Viking, navio de resgate de migrantes da SOS Meditérranée (6/7/2020). AP - Fabio Peonia
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O navio da ONG SOS Méditerranée, com 234 migrantes a bordo, se dirige para a França depois de lamentar o "silêncio ensurdecedor” recebido da Itália. O episódio deu início a uma troca de farpas diplomáticas entre as duas capitais.

Na noite de terça-feira, representantes da nova primeira-ministra italiana pós-fascista, Giorgia Meloni, agradeceram a França, que, segundo ela, concordou em receber o Ocean Viking em um de seus portos.

Na sequência, autoridades francesas denunciaram o "comportamento inaceitável" dos seus homólogos italianos, "contrário à lei do mar e ao espírito de solidariedade europeia", segundo uma fonte governamental à AFP.

A Itália deve "desempenhar seu papel" e "respeitar seus compromissos europeus", insistiu na manhã desta quarta-feira pela rádio Franceinfo o porta-voz do governo francês, Olivier Véran.

"Existem regras europeias extremamente claras que foram aceitas pelos italianos, que são, além disso, os primeiros beneficiários de um mecanismo europeu de solidariedade financeira", recordou Véran, considerando também "inaceitáveis" as "declarações" do governo italiano e sua "recusa de deixar o barco atracar".

"Os mecanismos diplomáticos ainda estão sendo acionados no neste momento ", acrescentou Véran.

Córsega e Marselha "prontas"

O presidente do Conselho Executivo da Córsega, Gilles Simeoni, afirmou terça-feira à noite que a ilha francesa está "pronta, se necessário, para receber temporariamente o Ocean Viking num dos seus portos".

O prefeito de Marselha (sudeste), Benoît Payan, por sua vez, disse à AFP na quarta-feira que “era uma honra para a França receber o navio”.

Paris e Roma já tinham entrado em atrito há quatro anos em torno do destino do Aquarius, também da ONG SOS Méditerranée, com 629 migrantes a bordo.

"Estamos vivenciando um impasse diplomático entre a França e a Itália, que abre uma brecha para outras situações desse tipo, porque a Itália está claramente desafiando o acordo europeu (de solidariedade) ", observou à AFP o pesquisador Matthieu Tardis, do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

“Não era ideia inicial da SOS Méditerranée pedir para atracar num porto francês; a ONG sempre aplicou a lei marítima, que tenta atracar no porto seguro mais próximo”, observa.

Além do Ocean Viking, vários navios humanitários tiveram de travar duras negociações de desembarque nos últimos dias com o novo governo italiano, o mais de direita desde a Segunda Guerra Mundial. Em campanha, uma das promessas de Giorgia Meloni era observar uma linha dura com os migrantes.

Três desembarques na terça-feira

Roma autorizou inicialmente apenas parte dos sobreviventes que tentaram a travessia entre o litoral do norte da África e a Europa a descer ao cais, para grande frustração das organizações humanitárias.

Três barcos-ambulância foram finalmente autorizados a desembarcar todos os seus passageiros na terça-feira.

Entre eles, o "Rise Above", um navio da ONG alemã Lifeline, que conseguiu trazer todos os 89 migrantes a bordo até o extremo sul da Itália.

Na noite de terça-feira, os navios de bandeira alemã Humanity 1, da ONG SOS Humanity, e o Geo Barents, da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), conseguiram desembarcar cerca de 250 pessoas no porto de Catânia, após o sinal verde dos italianos.

A Itália viu este ano um aumento acentuado nas entradas em seu território por mar, segundo dados do Ministério do Interior, com 88.100 pessoas chegando em suas costas desde 1º de janeiro contra quase 56.000 e 30.400, respectivamente, no mesmo período de 2021 e 2020, períodos sob a crise sanitária de Covid-19. 

(Com informações da AFP)

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