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Radar econômico

Economista defende "ajuste" de plano de austeridade na Grécia

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A dificuldade de os gregos conseguirem formar um novo governo elevou os temores das lideranças europeias de que o país não seja capaz de honrar os acordos firmados com o FMI e a União Europeia em troca de ajuda financeira. O economista Jérôme Creel, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica, considera que será necessário um ajuste do plano de austeridade em vigor no país para conciliar as exigências dos europeus com as aspirações dos parlamentares eleitos no último domingo.

Líder de esquerda, Alexis Tsipras, foi eleito com discurso contra a austeridade.
Líder de esquerda, Alexis Tsipras, foi eleito com discurso contra a austeridade. REUTERS/EUROKINISSI
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A votação foi marcada por uma onda de rejeição à austeridade imposta pelos credores da Grécia, e a discordância dificulta a formação do novo governo. Diante da crise política, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, voltou a evocar uma eventual saída da Grécia da zona do euro, afirmando que as economias que adotam a moeda única suportariam a retirada do país. Schäuble considera que os mecanismos de defesa contra a crise existentes hoje são mais resistentes do que há dois anos, quando explodiu a crise das dívidas no continente.

Em entrevista à RFI, o economista Jérôme Creel, especialista em política orçamentária europeia do Observatório Francês de Conjuntura Econômica, acha que a Europa deveria dar mais sinais de solidariedade aos gregos antes de falar em saída da zona do euro.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, voltou a falar sobre a saída da Grécia da zona do euro. Você acha o momento apropriado para pressionar os gregos?
Eu acho que sem dúvida é cedo demais, e principalmente, eu espero que isso não aconteça, porque ainda é muito difícil prever as reações do mercado, saber como eles encarariam a saída da Grécia da zona do euro. Mas se interpretarem essa alternativa como uma solução necessária para que a Grécia retome o crescimento, e se isso não provocar conseqüências para os outros membros da zona do euro, por que não? Entretanto, o risco é que a crise econômica que afeta a Grécia atinja também outros Estados da zona do euro, mesmo se os outros Estados não cometeram os mesmos erros orçamentários que a Grécia. Um país como Portugal teve déficits públicos elevados no passado e poderia ser o próximo candidato a sair da zona do euro – e isso daqui a não tanto tempo. Este prazo seria ainda mais curto se outro Estado já tiver deixado o bloco. Eu acho prematuro falar de saída da Grécia da zona do euro, e isso me parece também perigoso, porque seria prejudicial ao conjunto da zona do euro e à sua estabilidade.

Algumas lideranças europeias, a exemplo do ministro alemão, parecem perder a paciência com o país. Você acha que falta solidariedade a um membro da zona do euro, que enfrenta dificuldades tão graves para sair da crise?
As considerações do ministro alemão não são propriamente uma falta de solidariedade, porque a solidariedade foi amplamente negociada e disponibilizada para a Grécia. O que poderia acontecer agora seria mais uma renúncia, uma anulação dos compromissos assumidos pelas autoridades gregas. Ou seja, se houver fala de solidariedade, desta vez ela viria do lado dos gregos, que não cumpririam a sua parte nos contratos. Eu acho que é preciso tentar sair desta queda de braço entre os diferentes chefes de Estado e de Governo. Seria muito adequado se a Europa fizesse uma declaração comum em favor da Grécia, para tentar ajustar os esforços de rigor que são feitos atualmente pelos gregos e outros que são pedidos aos gregos para o futuro. A solução precisa ser suportável para ir adiante. Acho que as condições econômicas do conjunto da zona do euro são tão desfavoráveis, com previsão de recessão para esse ano, que não seria o momento de afundar ainda mais a Grécia, assim como não é o momento de impor austeridade para todos.

Edwald Nowotny, presidente do Banco Central austríaco e membro do conselho do Banco Central Europeu, disse claramente que os países que se beneficiam de ajuda financeira europeia devem renunciar a uma parte da sua soberania. É uma avaliação pertinente, na sua opinião?
Não está escrito em lugar nenhum que um Estado em dificuldades financeiras, quando ajudado pelo FMI e seus parceiros europeus, deve perder qualquer parte da sua soberania, por menor que seja. Acontecem negociações, há condições para a liberação dos fundos. Havia um tempo em que o Fundo Monetário Internacional impunha programas de ajustes orçamentários de uma forma muito arbitrária, mas ainda assim, eram totalmente negociado e todos os envolvidos estavam a par de tudo. Os países que recebiam fundos não perdiam nem a soberania política, nem monetária, nem orçamentária, nem fiscal. Cada país decide, de uma forma clara e transparente, se vai aceitar a ajuda ou não, sob tais e tais condições.

O senhor acha que a formação de um governo favorável ao plano de socorro da economia grega é fundamental para a manutenção do país na zona do euro?
Eu acho que certamente atenuaria as tensões nos mercados financeiros e nos governos europeus. Na minha opinião, é necessário que três coisas aconteçam. Primeiro, que o futuro governo da Grécia não renuncie aos compromissos assumidos, feitos para salvar o país da falência. Segundo, que os europeus façam declarações de solidariedade com a Grécia, que continuem fazendo como já fizeram muito no passado: é preciso parabenizar os gregos pelos esforços realizados. Mas sobretudo, eu acho que será necessário ajustar o programa de austeridade orçamentária às condições econômicas atuais. Essas condições mudaram ao longo do ano: o futuro se anuncia bem sombrio para o conjunto da zona do euro. Isso não significaria dar mais fundos para a Grécia, mas sim rever um pouco as condições drásticas da liberação dos fundos já acertados.

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