Acessar o conteúdo principal
Cannes/Godard

Em Cannes, Godard surpreende e faz entrevista coletiva por vídeo de celular

Ninguém esperava muito que ele aparecesse em Cannes na sessão de gala de sexta-feira (11) para apresentar seu mais novo filme, Le Livre d’Image. Tanto que não veio. Mas na coletiva de imprensa programada para este sábado (12), o cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, de 87 anos, conseguiu surpreender: conversou com os jornalistas por vídeo, através de um celular.

Jean-Luc Godard dá entrevista coletiva virtual em Cannes, em 12 de maio de 2018.
Jean-Luc Godard dá entrevista coletiva virtual em Cannes, em 12 de maio de 2018. REUTERS/Regis Duvignau
Publicidade

Enviada especial ao Festival Internacional de Cinema de Cannes

De algum lugar da Catalunha, Godard respondeu a perguntas durante 45 minutos. “O cinema, tal como eu o concebo, é como uma pequena Catalunha que tem problemas para existir”, declarou o cineasta quando questionado sobre uma imagem do filme com uma frase homenageando a região espanhola. Ele explicou que se tratava de uma alusão a George Orwell e à recente crise separatista catalã.

A projeção de Le Livre d’Image foi cercada de suspense. Sabia-se apenas que seria uma reflexão sobre a questão árabe. A sinopse no catálogo oficial do festival era um poema e o trailer era um videoclipe com palavras correndo pela tela e uma música ao fundo. O que se viu foi uma grande compilação de imagens de filmes, documentários e algumas filmagens originais.

Inclassificável

O livro de Godard traz uma montagem frenética que oferece várias leituras: o bombardeio de informações, de imagens, as tragédias humanas, guerras, holocausto, bomba atômica, atentados. Se às vezes o espectador se dispersa, ele logo volta ao filme, pois o mosaico é magnético. Godard permanece impossível de ser classificado.

Interrogado se ainda pretende fazer filmes, ele respondeu positivamente. “Acho que sim, se eu puder. Não depende muito de mim, mas das minhas pernas, muito das minhas mãos e um pouco de meus olhos”, declarou com voz cavernosa, charuto no canto da boca.

Godard também não deu o ar de sua graça das últimas duas vezes em que foi indicado à Palma de Ouro, em 2010 e 2014. No total, ele concorreu sete vezes, mas ganhou o prêmio do Júri em 2014, por Adieu au Langage, outra obra da linha filme-poema.

Nouvelle Vague e Maio de 68

O diretor foi um dos principais nomes da chamada Nouvelle Vague, ao lado de François Truffaut, desafiando as normas vigentes, explorando outras linguagens cinematográficas, como se vê em Acossado (À Bout de Souffle), de 1960. Ele também apoiou o movimento estudantil e grevista de Maio de 68, participando das históricas reuniões em Cannes que levaram à suspensão do festival naquele ano.

Nascido em Paris no dia 3 de dezembro de 1930, Godard vive recluso na Suíça desde os anos 1970. Como se vê no filme Visages, Villages (seleção oficial fora de competição em Cannes no ano passado), a cineasta e artista plástica Agnès Varda vai até sua casa, mas ele não recebe nem a amiga. O cartaz do Festival de Cannes deste ano é uma cena de seu filme Pierrot le Fou, com Jean-Paul Belmondo e Anna Karina, com quem Godard foi casado.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.