Berlinale : o festival onde todos os tipos de cinema encontram seu lugar
Além da dimensão política, presente em seu DNA desde que foi criada em 1951, a Berlinale também é conhecida, principalmente em suas mostras paralelas, por abrir as portas para formas alternativas de cinema. Alguns diretores brasileiros encontram no evento alemão a oportunidade de apresentar linguagens e abordagens diferentes a um público de cinéfilos atento e quase sempre ávido de novidades.
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Enviado especial a Berlim
Apesar das críticas de alguns puristas, que acusam a Berlinale de não ser tão ousada quando deveria, o festival alemão continua sendo a vitrine de praticamente todos os tipos de cinema, desde o mais mainstream – como Isle of dogs, de Wes Anderson, que abriu a competição oficial – até o mais alternativo. As propostas mais inovadoras e originais são frequentemente apresentadas na mostra paralela “Forum Expanded”, que esse ano trouxe mais de 30 filmes e 15 instalações. Nessa categoria são exibidas produções como Eu sou o Rio, de Gabraz Sanna e Anne Santos, que conta as lembranças pessoais do músico e artista plástico carioca Tantão.
Mas as experimentações cinematográficas estão espalhadas por toda a programação da Berlinale. É o caso de Unicórnio, do brasileiro Eduardo Nunes, que conta, durante duas horas, a vida de Maria (Bárbara Luz), uma adolescente que vive nas montanhas com sua mãe, interpretada por Patrícia Pillar. As imagens são belíssimas, mas mostradas em planos bem mais longos que o habitual, impondo ao público uma outra temporalidade. Como quando o cineasta filma, durante quase dez minutos, a personagem principal tentando dormir.
“Eu acredito muito num tempo de reflexão durante o filme. Unicórnio tem, propositalmente, planos mais longos, pouquíssimos diálogos, e faz com que as pessoas tenham uma experiência sensorial durante a projeção. É quase uma imersão em um outro universo”, conta Nunes.
Eduardo Nunes, diretor de Unicórnio
Unicórnio, que se inspira no livro da paulista Hilda Hislt, é apresentado na Berlinale na mostra "Generation 14plus", voltada ao público infanto-juvenil. Mas poderia muito bem fazer parte da lista do “Forum”, ressalta o diretor. “Acho que existe aqui em Berlim, mas do que nos outros festivais, um espaço para tratar de assuntos de maneira mais experimental”, afirma o diretor, que havia investido no mesmo tipo de narrativa cinematográfica em Sudoeste, seu filme anterior.
Nessa lista de “OVNIs da 7ª arte”, o público da Berlinale também pode entrar, de maneira inesperada e não sem ironia, no universo das igrejas evangélicas no Brasil, com o filme Terremoto Santo, da brasileira Bárbara Wagner e do alemão Benjamin de Luca, na seleção de curtas do festival.
Barbara Wagner, diretora de Terremoto Santo
Os dois diretores, que se apresentam pela segunda vez em Berlim, vêm construindo uma trajetória em torno de fenômenos da música popular, seja o Brega do Recife, abordado em Estás vendo coisas, ou o Schlager alemão, tratado em Bye Bye Germany! A Life Melody.
Em Terremoto Santo, os diretores mostram cantores evangélicos interpretando músicas inteiras, em cenários inusitados e com uma estrutura narrativa que surpreende. Um bom exemplo de ousadia típica da programação de um festival como a Berlinale.
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