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Trump/peça

Peça com ator parecido com Trump causa polêmica em NY

Uma versão de “Júlio César”, de William Shakespeare, está criando polêmica em Nova York, onde estreou nesta semana em um festival dedicado ao bardo inglês. Em cena, o personagem-título é um empresário loiro, fazendo uma clara alusão a Donald Trump. Segundo a história e o clássico inglês, o líder romano foi vítima de intrigas políticas e acabou assassinado. E na versão nova-iorquina,  o Júlio César-empresário-Trump também morre. 

Versão de "Júlio César", de Shakespeare, causa polêmica em Nova York.
Versão de "Júlio César", de Shakespeare, causa polêmica em Nova York. https://www.publictheater.org/Free-Shakespeare-in-the-Park/
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Depois de protestos enfurecidos da Fox News, vinculada aos conservadores americanos, e do filho mais velho do presidente americano, Donald Trump Jr., nas redes sociais, a Delta Airlines e o Bank of America, duas grandes empresas que patrocinavam o Public Theater e o festival "Shakespeare no parque", do diretor Oskar Eutis, anunciaram no domingo (11) a retirada de seu apoio.

O texto da peça teatral originalmente escrita em 1599 - e que na versão atual o protagonista é esfaqueado por mulheres e outras minorias -, "não reflete os valores da Delta", declarou a companhia aérea em um comunicado. "Sua direção artística e criativa ultrapassou a linha do bom gosto", considerou.

Para o Bank of America, a obra pretendia "provocar e ofender". "Se tivessem nos comunicado esta intenção, teríamos decidido não patrociná-la", declarou o banco.

"Um César petulante"

A Fox News noticiou no domingo que a obra parece representar o presidente americano - que é muito impopular em Nova York -, "sendo brutalmente esfaqueado até a morte por mulheres e minorias". E, em um tuíte, Donald Trump Jr. se questionou sobre o financiamento da obra.

Julio César veste na obra a roupa típica de Trump - calças e paletó escuros, camisa branca e gravata vermelha. Sua esposa na obra tem sotaque eslavo, como Melania Trump. "Sua representação como um César petulante de terno azul, com banheira de ouro e uma esposa eslava que faz caretas eleva os ataques a Trump no palco a um outro nível surpreendente", escreveu o jornal The New York Times na sexta-feira passada.

A American Express, que também patrocina o teatro, emitiu um comunicado na qual esclarece que não deu dinheiro para esta produção. Mas paralelamente, nova-iorquinos pediram nas redes sociais que se fizessem doações ao Public Theater.

Comediante demitida pela CNN

A polêmica recorda o ocorrido no fim de maio, quando a comediante Kathy Griffin divulgou um vídeo em que levanta uma falsa cabeça de Trump decapitada, fazendo com que ela fosse difamada e demitida pela CNN, onde ela apresentava tradicionalmente a transmissão de Ano Novo.

O teatro defendeu-se, afirmando que "de nenhuma maneira defende a violência contra ninguém". "A obra de Shakespeare e nossa produção têm o argumento contrário: aqueles que tentarem defender a democracia por meios não democráticos pagam um preço terrível e destroem a mesma coisa que estão lutando para salvar", afirmou.

O teatro admitiu que a representação gerou "discussões acaloradas", mas insiste em que "esta discussão é exatamente a meta do nosso teatro comprometido civilizadamente, este discurso é a base de uma democracia sadia".

Chelsea Clinton opina

A obra de Shakespeare, que se passa no ano 44 a.C., "nunca foi tão contemporânea", destacou o Public Theater em seu site na internet. Julio César possui "uma personalidade magnética, irreverente" e está "obcecado pelo poder absoluto", explica. "As instituições com as quais crescemos, que herdamos da luta de muitas gerações de ancestrais, podem se esvair a qualquer momento", alerta o diretor, Oskar Eutis.

O democrata Scott Stringer, auditor das contas da cidade de Nova York, um cargo eletivo, também entrou na discussão. Stringer tuitou as cartas escritas aos presidentes da Delta Airlines e do Bank of America, com a mensagem "Que erro. Na verdade Julio César ajudaria no futuro".

Até Chelsea Clinton, filha da rival democrata derrotada por Trump, Hillary Clinton, e do ex-presidente Bill Clinton, também deu sua opinião: "Iria vê-la? Provavelmente não. Protestaria ou me queixaria disso? Definitivamente não", respondeu a um internauta que lhe perguntou o que faria se Julio César fosse representado como seu pai ou sua mãe, e eles fossem assassinados.

A peça é representada em Nova York desde 23 de maio e continuará em cartaz até 18 de junho.

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