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Rendez-vous cultural

A ironia de Paul Klee é tema de retrospectiva em Paris

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Prolixo, irreverente, experimentalista, Paul Klee, passou por vários movimentos, como o cubismo, o dadaísmo, o surrealismo e o construtivismo. Um dos maiores nome da arte do início do século 20, ele é tema de uma grande retrospectiva no Beaubourg, o Centro Georges Pompidou, em Paris.

A obra de Paul Klee está em exposição no Beaubourg, em Paris.
A obra de Paul Klee está em exposição no Beaubourg, em Paris. Centre Pompidou
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Desde 1969, ou seja, quase meio século, o artista não era tema de uma exposição tão abrangente na França.

À primeira vista, seus trabalhos parecem simples, de fácil percepção. Mas logo se revelam intricadas e com múltiplas leituras. As técnicas, sutis e delicadas, são de extrema sofisticação. O fio condutor para guiar o visitante pelas diversas fases do artista é a ironia, como explica a curadora Angela Lampe:

“Klee tinha um caráter bastante irônico. Ele escreve em seu diário, em 1904: ‘Ninguém precisa fazer ironia comigo, eu mesmo faço’. Era portanto uma faceta de sua personalidade e isso nos ajuda a compreender como ele se posiciona diante de seus contemporâneos, de movimentos como cubismo, dadaísmo e o construtivismo. Klee também parodia Picasso, que ele conheceu pessoalmente em 1937. “

Klee usa sátira para se exprimir

Apesar de ter nascido (em Berna, em 1879) e morrido (em Locarno, em 1940) na Suíça, Paul Klee era cidadão alemão. Ele estudou na Academia de Belas Artes de Munique, sul da Alemanha. Uma viagem à Itália, em 1901, faz o jovem artista refletir sobre sua condição de imitador forçado a perpetuar um idealismo clássico que ele julga ultrapassado. Ele passa a usar a sátira como modo de expressão para exprimir as relações entre os sexos, sua relação com a sociedade e sua posição como artista. Ainda no início da carreira, ele desconstrói nus, deformando grotescamente o corpo humano.

Com o cubismo, Klee faz pesquisas pictóricas, mas sem deixar o sarcasmo de lado. Ele também recorta suas composições uma vez prontas, que se tornam obras autônomas ou são recombinadas em um novo suporte. O artista mostra uma força criadora cujas raízes se encontram paradoxalmente no ato destruidor.
O dadaísmo e as imagens de figuras mecanizadas são a fase seguinte, junto com um período em que dá aulas na Bauhaus. Klee realiza também uma série de fantoches para o filho, apaixonado pelo “Kaspertheater”, um teatro de bonecos para crianças.

Os dogmas do construtivismo dos anos 20 também provocam o espírito irônico de Klee, que integra alguns elementos formais modernistas, brincando ao mesmo tempo com a rigidez e o racionalismo do movimento. A obra de Klee também dialoga com a de Picasso, com quem descobre o surrealismo. O artista alemão retoma as figuras femininas distorcidas do espanhol, sempre com uma pitada de ironia.

Hitler no poder força Klee ao exílio na Suíça

A chegada de Hitler ao poder leva Klee ao exílio na Suíça. A angústia do artista é transposta para as obras, que a princípio parecem inocentes e alegres. Como em “Danças sob o império do medo”, de 1938, em que figuras minimalistas, como traçadas por uma criança, dançam alegremente espalhadas pelo quadro.
O analista de mercados Mickael diz que essa foi a parte da exposição que mais o impressionou:

“Fiquei impressionado por essa última fase, com a crise e a chegada de Hitler ao poder, a mistura dos tons escuros dessa época com itens que emitem luz. Ele mistura sua própria dor da doença que limita seus movimentos da mão. Também gostei do tom satírico, de desconstrução, isso também é bem interessante. A ironia está sempre presente, orgânica, feito um quebra-cabeças. Acho que no final tudo é mais apurado, construído, há um conceito que se vê em todas as obras de grande formato. É uma exposição muito extensa, com muitos períodos, muito rica.”

O artista sofria de esclerodermia, doença autoimune que enrijece o tecido conjuntivo do corpo.

A retrospectiva de Paul Klee fica em cartaz no Beaubourg, o Centro Georges Pompidou de Paris, até 1° de agosto de 2016.
 

Veja abaixo alguns exemplos da obra de Klee:

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