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Prisão de Barbosa surpreende família de Marielle, que enfrentou milícias ao defender moradia à população carente

Prisão de Rivaldo Barbosa, delegado do Rio Janeiro que prometeu à família da vereadora esclarecer o caso, surpreende e reforça avanço de grupos organizados em postos chave do estado.

Monica Benicio, companheira de Marielle Franco, chega à sede da Polícia Federal, neste domingo, onde estão detidos os acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco
Monica Benicio, companheira de Marielle Franco, chega à sede da Polícia Federal, neste domingo, onde estão detidos os acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco AP - Silvia Izquierdo
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

A Polícia Federal diz que chegou aos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, bem como às razões que levaram ao crime que chocou o país, há seis anos.

A operação de prisão do delegado Rivaldo Barbosa e dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão começou às 6h da manhã deste domingo (24) dia em que raramente ocorrem operações desse tipo. A razão seria o risco de vazamento e a possível tentativa de blindagem política.                                                  

A preocupação não era à toa. A elucidação policial do caso escancarou como o crime organizado conseguiu penetrar em postos decisivos do estado brasileiro.

Neste caso em particular, um dos orquestradores do assassinato era um delegado da polícia civil do Rio de Janeiro que comandou por vários anos a delegacia de homicídio e que assumiu o posto de chefe da corporação um dia antes do crime.

Na decisão, Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal e que autorizou a operação deste domingo, diz que o crime foi “meticulosamente planejado” por Rivaldo Barbosa.

Além dele, Chiquinho Brazão, que é deputado federal (União Brasil/RJ), e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do estado, são apontados comos os mandantes do assassinato.

“O que este relatório policial e as longas investigações revelam, antes de mais nada, é o modus operandi das milícias no Rio de Janeiro, que é bastante sofisticado, complexo e que se espraia, infelizmente, por todo o Estado e por várias atividades. Eu tenho a impressão que a partir deste caso nós podemos talvez desvendar outros ou pelo menos seguir o fio da meada de um novelo cuja dimensão ainda não temos clara”, afirmou o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.

O assassinato de Marielle Franco, em 2018, chocou o Brasil e o Mundo
O assassinato de Marielle Franco, em 2018, chocou o Brasil e o Mundo AP - Silvia Izquierdo

Prisão surpreende família

A prisão de Barbosa surpreendeu a família de Marielle, mas ajuda a explicar por que a polícia do Rio arrastou a investigação durante tanto tempo. "Se por um lado, o nome da família Brazão não nos surpreende tanto, o nome de Rivaldo Barbosa sem dúvida foi uma grande surpresa, em especial considerando que ele foi a primeira autoridade que recebeu a família no dia seguinte, dizendo que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso”, afirmou a vereadora Monica Benício (Psol), viúva de Marielle.

 "Hoje saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu tem envolvimento nesse mando é para nós entender que a Polícia Civil não foi só negligente. Não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. A Polícia Civil não apenas errou, mas foi também cúmplice desse processo", ressaltou Benicio.

Segundo as investigações da PF e do Ministério Público, a atuação de Marielle em defesa do uso social de áreas em comunidades carentes, com forte presença de milícias, afrontou interesses comerciais dos irmãos Brazão, inclusive em torno de um projeto de lei que tratava de regularização fundiária de terras na cidade. Um dos trabalhos da vereadora era ampliar espaços e assegurar terrenos para suprir a carência de moradia da população.

Trechos do relatório da Polícia Federal, incorporados na decisão do ministro Alexandre de Moraes, diz que “este cenário recrudesceu justamente no segundo semestre de 2017, atribuído pelo colaborador como sendo a origem do planejamento da execução hora investigada. Ocasião na qual ressaltamos a descontrolada reação de Chiquinho Brazão à atuação de Marielle na apertada votação do projeto de lei na Câmara”.

Outro trecho do relatório da PF diz ainda que, “no mesmo sentido, apontando diversos indícios no envolvimento do irmãos Brazão, em especial de Domingos, com atividades criminosas, incluindo-se nesse diapasão as relacionadas com milícias e grilagem de terras. E por fim, ficou delineada a divergência no campo político sobre questões de regularização fundiária e defesa do direito de moradia.” 

O colaborador em questão é Ronnie Lessa, ex-policial que está preso acusado de ter sido o executor do crime. A delação premiada dele é considerada pelas autoridades crucial no esclarecimento do caso.

“Então, nesse momento, a Polícia Federal encerra essa fase da investigação, apontando não só os mandantes, mas também apontando aqueles executores e aqueles intermediários e que de alguma maneira tem alguma relação com o crime. E isso não anula, não invalida, que eventuais outras ações possam ser adotadas”, disse o delegado chefe da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.

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