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Ataque em Brasília é risco para a democracia em toda a região, dizem líderes latino-americanos

Ao condenarem a "tentativa de golpe” no Brasil, os governos da América Latina pressionam por uma reação ativa dos órgãos e dos blocos regionais, advertindo para o risco de uma réplica do exemplo brasileiro pela vizinhança.

A reação dos países vizinhos aconteceu assim que milhares de seguidores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram os prédios dos três poderes do Brasil.
A reação dos países vizinhos aconteceu assim que milhares de seguidores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram os prédios dos três poderes do Brasil. © Ricardo Stuckert/Handout via REUTERS
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

As manifestações pela América Latina de repúdio ao ataque contra os três poderes do Brasil e de solidariedade com o presidente Lula não escondem o temor de que um "abalo" na democracia brasileira possa atingir a região. Contra esse risco, líderes regionais procuram amparo na comunidade internacional.

“Para nós, a vigência da democracia e do ordenamento institucional brasileiro é fundamental. O que aconteceu é um golpe contra a institucionalidade democrática do Brasil e, portanto, afeta toda a região. Por isso, precisamos ser muito nítidos nas nossas manifestações de repúdio porque precisamos preservar a democracia na nossa região. Não minimizemos o que aconteceu”, indicou Jorge Faurie, ex-ministro das Relações Exteriores da Argentina (2017-2019).

O governo argentino foi o mais ativo contra o ataque às instituições no Brasil, a ponto de o presidente Alberto Fernández oferecer ao governo brasileiro, através do ex-chanceler Celso Amorim, viajar imediatamente a Brasília para oferecer apoio ao presidente Lula de forma pessoal.

Argentina convoca a CELAC e o Mercosul

Alberto Fernández tem, neste momento, uma tripla representatividade como presidente do país mais estratégico para o Brasil e vice-versa, como presidente da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), um foro que reúne os 33 países, e como presidente temporário do Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

“Aqueles que tentam não ouvir a vontade das maiorias, atentam contra a democracia e merecem não só uma sanção legal, mas também a rejeição absoluta da comunidade internacional. Como Presidente da CELAC e do Mercosul, alerto os países membros para que nos unamos contra esta inaceitável reação antidemocrática que se tenta impor no Brasil”, advertiu o presidente argentino, nas redes sociais.

No próximo dia 23 de janeiro, o presidente Lula estará na capital argentina para inaugurar, com uma reunião bilateral, as suas viagens internacionais. No dia seguinte, reúnem-se também em Buenos Aires os líderes da CELAC. O ataque às instituições democráticas brasileiras deve ser o assunto central do debate regional.

“Estamos juntos do povo brasileiro para defender a democracia e para não permitir nunca mais o regresso dos fantasmas golpistas que a direita promove”, acusou Alberto Fernández, convocando os países latino-americanos a uma reação em conjunto.

“Demonstremos com firmeza e com união a nossa total adesão ao governo eleito democraticamente pelos brasileiros, liderado pelo presidente Lula”, pediu.

Colômbia pressiona a OEA

Em linha com as palavras do seu presidente, a própria CELAC comunicou o seu apoio ao governo do Presidente Lula perante as ações violentas contra os três poderes brasileiros.

“A Presidência pro tempore da CELAC manifesta o seu apoio ao governo Lula, eleito pelo povo do Brasil, e rejeita as ações violentas contra as instituições democráticas brasileiras”, posicionou-se institucionalmente o foro regional, criado para incluir Cuba às discussões regionais e, ao mesmo tempo, excluir a influência dos Estados Unidos, dominante na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Enquanto o presidente argentino enfatizava o peso da CELAC para defender a democracia no Brasil, o presidente colombiano, Gustavo Petro, convocava uma “urgente reunião da OEA” para repudiar a “tentativa de golpe” no Brasil, promovida pelo “fascismo”.

“O fascismo decidiu dar um golpe. É hora urgente para uma reunião da OEA se quiser continuar viva como instituição e aplicar a carta democrática”, disse, através das redes sociais, o presidente colombiano, recordando que “o seu governo defendeu fortalecer o sistema interamericano de Direitos Humanos”, diante dos “golpes parlamentares ou golpes violentos da extrema-direita”.

“O que aconteceu no Brasil é de extrema gravidade porque gera uma crise de governabilidade que afeta diretamente o presidente Lula. Mas este não foi um golpe. Foi um movimento insurrecional de convocados em desafio à autoridade presidencial de Lula que conseguiu capturar as sedes dos três poderes e que contou com a passividade ou com o apoio ativo das forças de segurança. A crise de governabilidade se manifesta na impossibilidade de Lula exercer o poder político diante das forças de segurança”, avalia o analista internacional Jorge Castro, uma referência na Argentina.

“As próximas horas serão fundamentais para o futuro do governo Lula e, ao mesmo tempo, para o futuro da nossa região. Os dois destinos estão atados”, reforça o ex-chanceler Jorge Faurie.

Ataque contra a democracia 

O Presidente do Chile, Gabriel Boric, classificou como “covarde e vil o ataque à democracia” no Brasil.

“Inapresentável ataque aos três poderes do Estado brasileiro por parte de ‘bolsonaristas’. O governo do Brasil conta com todo o nosso apoio perante este covarde e vil ataque à democracia”, anunciou Gabriel Boric, através das redes sociais.

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, um governante de direita, também condenou “as ações de vandalismo contra as instituições” e que “atentam contra a ordem democrática e contra a segurança da cidadania”.

“Expresso o meu apoio ao regime de Lula, legalmente constituído”, manifestou Lasso.

A reação dos países vizinhos aconteceu assim que milhares de seguidores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram os prédios dos três poderes do Brasil. Os radicais manifestantes querem a intervenção das Forças Armadas para derrubar o presidente Lula, há uma semana no cargo.

Mesmo sem provas, alegam uma suposta fraude nas recentes eleições brasileiras que, em 30 de outubro passado, deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva por 50,9% dos votos válidos contra 49,1% do ex-presidente Jair Bolsonaro, candidato derrotado à reeleição.

“Esses grupos veem Lula como um presidente ilegítimo e passam a atacar a democracia representativa, justamente a forma como é definida a missão constitucional de governar. Esse fenômeno tem-se repetido pela América Latina: quando o resultado das urnas não é o desejado, as lideranças manipulam as pessoas para que façam justiça pelas próprias mãos, passando da democracia representativa a uma suposta democracia direta que enfraquece as instituições”, conclui o analista internacional Juan Battaleme.

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