Acessar o conteúdo principal
Brasil / Jair Bolsonaro / Eleições 2018

“Tento moderar os discursos inflamados que Bolsonaro faz”, diz Janaina Paschoal

Em entrevista exclusiva à RFI, a advogada e agora deputada estadual pelo PSL, Janaína Paschoal, relativizou as declarações de Jair Bolsonaro. A poucos dias da eleição, a jurista, que é contra boa parte das propostas do candidato, afirma que, ainda assim, ele representa um risco menor para a democracia no Brasil, quando comparado com o Partido dos Trabalhadores (PT)

A jurista e deputada estadual Janaína Paschoal e o candidato à presidência Jair Bolsonaro. Fotomontagem RFI
A jurista e deputada estadual Janaína Paschoal e o candidato à presidência Jair Bolsonaro. Fotomontagem RFI Bolsonaro: REUTERS/Ricardo Moraes / Paschoal:AFP / EVARISTO SA
Publicidade

Achim Lippold, enviado especial da RFI

Um candidato que elogia a ditadura pode ser eleito presidente no próximo domingo (28). Você decidiu apoiá-lo. Por quê?

Em primeiro lugar, eu não comungo dos pensamentos do candidato, em relação, por exemplo, à ditadura. Como não comungo da visão do PT, que apoia a ditadura de Maduro. Eu critico tanto as ditaduras de direita, de esquerda, as civis, as militares, as de hoje e as de ontem. Agora, nós temos um grupo forte ainda no Brasil, que faz parte do que eu chamo de petismo. Não é só o petista, é o petismo. É aquela pessoa que se declara de esquerda, que na dúvida, vai sempre votar no PT. Nós precisávamos identificar algum candidato que pudesse enfrentar essa força petista, e que não estivesse envolvido em escândalos de corrupção. Infelizmente, as nossas opções não eram tantas. Porque os escândalos colheram o PT, que, de todos, foi o pior mesmo, mas também alcançaram o PSDB, o PMDB fortemente, que era aliado do PT, inclusive no governo. Com isso, ficamos com poucas alternativas. Havia o Bolsonaro, o Álvaro Dias e o Amoedo. Vou citar esses três, que não têm uma ligação com o petismo, também não estavam envolvidos em corrupção. O Álvaro Dias, muito embora fosse um bom quadro, é muito regional, no Estado do Sul. Eu, nas minhas várias visitas, não senti um apoio a ele, que pudesse efetivamente surtir efeito. Eu conversei também com o pessoal do Novo, não com João Amoedo propriamente, mas com seus apoiadores, o presidente do partido, e percebi neles um viés muito economicista. A crença de que privatizando se resolve tudo. Pelos meus estudos, de direito penal, de criminalidade, de violência, eu tenho a convicção de que o problema no Brasil é muito mais complexo do que um problema meramente econômico. O candidato Jair Bolsonaro, apesar dos arroubos dele, dos excessos verbais, está consciente que nós temos um problema com a criminalidade, seja de massa, seja política. Ele está disposto a enfrentá-la. Nós estamos em um momento que o próximo presidente precisa estar comprometido com a manutenção da Operação Lava-jato. De todos, o que mais se posicionou favoravelmente a Lava-jato, foi ele. Então temos que escolher prioridades. Na medida em que o país está atravessando um processo, que eu batizei de “depuração”, nós temos que escolher quem é o líder que vai se comprometer com esse processo. Mesmo que você não concorde com tudo que ele pense e fala.

Podemos dizer então que a sua escolha em apoiar o Bolsonaro é mais uma rejeição ao PT?

Principalmente. Uma rejeição ao PT, porque o Bolsonaro tem um apoio popular muito grande. É raro isso. O brasileiro ter alguém que ele apoie, não é algo comum. O PT tem aquelas pessoas que são fiéis. Eu precisava encontrar alguém do outro lado que já tivesse um núcleo, um grupo fiel. Bolsonaro tem admiradores mais fiéis. Os outros, não. Então pensei que precisava me unir a ele para somar forças. Na medida em que eu sou bem mais ponderada, eu tento moderar esses discursos, vamos dizer, mais inflamados que ele faz. Discursos, inclusive, que não têm nenhuma aprovação dos formadores de opinião. Os mesmos que não se intimidam quando os discursos autoritários vêm do pessoal do PT. Isso é uma coisa importante de deixar esclarecida.

Há, no entanto, pessoas no Brasil e no exterior, que têm medo de um presidente como Jair Bolsonaro. Você que o conhece, pode dizer que ele é um democrata?

Olha, eu não o conheço tão bem. Eu o encontrei pela primeira vez há pouco tempo. Nós tivemos um contato bastante intenso durante 20 dias, porque ele havia me convidado para ser vice em sua chapa. Eu sou muito detalhista, então eu queria entender o que ele esperava de um vice, qual era o projeto para tudo. Então eu acabei tendo essa aproximação por um curto período de tempo. Foi um contato muito positivo. Ele foi muito respeitoso. Mudou de opinião em alguns pontos, por força das minhas observações. Me tratou de igual para igual. Por isso, fiquei com uma boa impressão dele. Agora, eu penso que o Brasil tem instituições fortes. O Congresso, o Supremo, Ministério Público, a sociedade civil. Eu não acho que um Bolsonaro, por mais entusiasmadas que sejam essas frases dele, as vezes exageradas demais, que ele represente risco para democracia. As próprias Forças Armadas já se manifestaram várias vezes, que querem apenas seguir a Constituição Federal. Então nós temos hoje uma institucionalidade que nos garante. Com relação ao PT, que desviou bilhões, essa máquina demorou muito para funcionar. Então, depois de tudo que a gente levantou, dos desvios de bilhões, por parte do PT, se esse partido voltar, aí sim, a democracia estará correndo risco.

Você concorda que Jair Bolsonaro deve seu sucesso político às redes sociais?

Não. Eu acho que o único candidato que verbalizou o que a população queria ouvir, foi ele. Além da rejeição ao PT, ele é o candidato mais próximo do povo. O pessoal do PT, PSDB, do Novo, é um pessoal que tem uma visão deles próprios de superiores. Eles já perceberam uma coisa que a população não percebeu. O mais popular dos candidatos, no sentido de ser próximo do sentimento da população, é o Bolsonaro. Ele percebeu que a população não quer só o posto de saúde. Ela quer poder chegar ao posto de saúde sem tomar uma bala perdida. Que a criança não quer correr o risco de levar um tiro dentro da escola. Foi o único candidato que notou, lá atrás, que não é a economia que está preocupando a população. Porque o brasileiro, ele é simples por natureza. Não é dinheiro que o brasileiro quer. Ele quer tranquilidade, quer segurança, quer poder ter sua vida. Então, eu não vejo que é uma questão só de rede social. O que ele fala, é o que o povo quer ouvir.

Qual sentimento você tem dessas eleições?

Eu estou feliz, porque eu vejo a população feliz. Eu não fiz uma campanha pela internet. A minha campanha foi na rua. Eu fui conversar com as pessoas, entregar panfletos, e elas, pela primeira vez na vida, adotaram um candidato. Se você pegar a prestação de contas, você verá que foi o candidato que menos gastou dinheiro. As pessoas mandaram fazer a sua própria camiseta, para poder fazer propaganda para ele. As pessoas vinham me abraçar, eu estou com presentinhos para levar para ele, ursinho de pelúcia, cartinha de criança. É um candidato que a população gosta muito. Sente que é um candidato que representa a população. Eu, como uma democrata, fico feliz. Agora, como sou uma estudiosa da teoria do Estado, eu sei que nós nunca podemos ficar tranquilos. Feliz, mas vigilante. Mas eu acho que está sendo uma eleição bem mais democrática. As eleições anteriores, foram muito norteadas por muito dinheiro, campanhas milionárias, ouso dizer bilionárias. Muito marketing na televisão. A gente não sabia o que o candidato era, o que ele pensava, era só marketing, marketing e marketing. O Bolsonaro é aquilo ali. Ame ou odeie, é o que ele é. O brasileiro estava muito carente dessa veracidade, estava faltando isso para o brasileiro.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.