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Para imprensa estrangeira, revelações de Jucá reforçam tese do complô contra Dilma

A imprensa internacional repercutiu com destaque as gravações de áudio de Romero Jucá e seu afastamento do cargo de ministro do Planejamento. O Le Monde disse que “em menos de 15 dias de existência, o novo governo brasileiro é pego na tormenta da corrupção”. Jucá é mais um na lista das personalidades brasileiras sem escrúpulos, aumentando o mal-estar dentro do gabinete que tomou posse após o afastamento de Dilma Rousseff, escreve o vespertino francês.

RFI
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O diário reproduz trechos da conversa publicada pelo jornal Folha de S. Paulo entre Jucá e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Na gravação, Jucá explica, “sem ambiguidade ao seu interlocutor” a necessidade de efetuar uma “mudança” de governo para “estancar a sangria” provocada pela operação Lava Jato. O jornal diz ainda que Temer decidiu afastar o ministro das suas funções para que a questão seja esclarecida.

De acordo com Le Monde, a divulgação das conversas de Jucá reforçam a tese sustentada por Dilma Rousseff e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), de que Temer orquestrou um “golpe de Estado” contra a presidente afastada fazendo uso de “acusações polêmicas de manipulações fiscais como um pretexto para chegar ao poder”.

Segundo o vespertino francês, o novo escândalo só agrava o “sentimento de revolta” que toma conta do país. Le Monde finaliza o texto citando Carlos Melo, professor do Insper (Instituto de Estudos Superiores): “Pensar que o impeachment resolveria alguma coisa era uma ilusão. Todo o sistema político está ruindo”.

“Revelações explosivas”

Le Figaro segue a mesma linha e afirma que “o escândalo da Petrobras já atinge o novo governo”. Foram necessárias menos de duas semanas para que o caso atingisse a equipe de Temer, segundo o jornal, que classificou como “explosivas” as revelações feitas pelas conversas reproduzidas pela Folha de S. Paulo.

O jornal francês relatou ainda a reação imediata dos aliados de Dilma Rousseff, que classificaram as revelações da conversa de Juca como “vergonhosas”. Para Le Figaro, o novo episódio “cai muito mal” para Michel Temer, que havia declarado que não travaria o andamento das investigações do escândalo da Petrobras. Mas esta intenção teria sido colocada em dúvida quando o presidente interino nomeu sete ministros investigados pela Justiça, analisa Le Figaro.

O Libération também destacou os novos acontecimentos da política brasileira e evidenciou o papel de Jucá no governo de Temer, descrito como “um homem de confiança” do presidente interino. O jornal relembrou ainda que Jucá assumiu recentemente a presidência do PMDB, “partido que está completamente afetado pelo escândalo da Petrobras”. Libération disse ainda que Jucá admitiu a veracidade das conversas, mas acusou a Folha de S. Paulo “de tirá-las do contexto”.

Novo governo tem credibilidade abalada

Na Inglaterra, The Independent, The Telegraph e The Guardian também repercutiram o novo escândalo. The Guardian disse que a credibilidade do governo interino foi abalada depois que “um ministro sênior do novo governo teve de ser afastado após a revelação de um complô maquiavélico contra a presidente Dilma Rousseff”.

O Telegraph destaca o fato de Jucá ser apenas um dos sete ministros do novo governo envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras. Já The Independent classificou como “mais alarmante” o fato de Jucá ter “recorrido aos militares para receber garantias de apoio para afastar Dilma do poder”. Qualquer noção de conivência com os militares para derrubar um presidente vai espalhar um temor entre os brasileiros, que ainda não esqueceram o longo período de ditadura militar vivido e que terminou apenas em 1985, publicou o diário inglês.

Arquiteto do impeachment

A rede de televisão britânica BBC classificou Jucá como “um dos principais arquitetos do impeachment da presidente Dilma Rousseff” e destacou as observações da correspondente da emissora em Brasília, Julia Carneiro. Segundo a jornalista, o novo escândalo “aumentou o ceticismo dos brasileiros no novo governo de Temer”.

Nos Estados Unidos, a rede de televisão CNN disse que “a agitação política continuou a perturbar o Brasil na segunda-feira”. The Wall Street Journal também relatou o episódio envolvendo Jucá e relembrou que a terça-feira (24) promete ser decisiva para o governo interino, já que está previsto para hoje o anúncio das novas medidas econômicas.

The New York Times argumentou que “as novas acusações (contra Jucá) são suscetíveis de levantar mais perguntas sobre os motivos por trás do impeachment de Dilma Rousseff, além de poder aumentar o controle sobre os demais ministros que também enfrentam problemas legais”.
 

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