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Brasil/Impeachment

Deputados aprovam processo de impeachment de Dilma Rousseff

Após uma sessão que durou mais de oito horas, a Câmara dos deputados aprovou o processo de impeachment da presidente brasileira Dilma Rousseff neste domingo (17). Com 367 votos a favor, 137 contra e 7 abstenções, o pedido de destituição da chefe de Estado segue agora para o Senado.

Deputados comemoram em Brasília o resultado do voto pelo prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Deputados comemoram em Brasília o resultado do voto pelo prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Luciana Marques, correspondente da RFI em Brasília

O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), admitiu a derrota antes do fim da votação. "Nós perdemos porque os golpistas foram mais fortes", declarou. "Mas a luta continua no Senado". Marcaram presença 511 deputados e apenas Aníbal Gomes (PMDB-CE) e Clarissa Garotinho (PR-RJ) estavam ausentes. 

A comunicação da Câmara deve ser lida no plenário do Senado até terça-feira. A partir da leitura, em 48 horas, os partidos vão indicar os integrantes de comissão especial que vai analisar se aceita o pedido de instauração de processo contra Dilma Rousseff. Nos bastidores já se discute o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS) como relatora e Antônio Anastasia (PSDB-MG) como presidente da comissão. Porém, os senadores ainda vão se reunir para definir os nomes.

Se o parecer for favorável, a expectativa é que a votação no plenário do Senado ocorra até o dia 11 de maio. Se aprovado, a presidente Dilma será afastada do cargo por 180 dias enquanto os senadores analisam o mérito da questão.

Votação

Por questões médicas, o deputado Washington Reis (PMDB -RJ) foi o primeiro a votar - e deu o primeiro voto a favor do impeachment. Depois votaram deputados de estados das regiões Norte e região Sul, alternadamente.

Cada deputado anunciou seu voto ao microfone. Muitos falaram em nome de seus eleitores, de seus estados, de suas cidades e de suas famílias. Nos votos a favor do impeachment, se ouviu expressões como "Viva Moro", "Basta na roubalheira", "Pela libertação do povo brasileiro", "Pela esperança ao Brasil", "Tchau, querida", "Contra a corrupção", ou ainda "Avante polícia federal".

Do lado a favor de Dilma, deputados gritavam "Contra o golpe", "Contra o acordão de Cunha", "Fora Cunha", "Hipocrisia votar colocando Temer no poder", "Pela democracia", "Pelo Minha Casa, Minha Vida", "Em defesa da Constituição e do povo pobre do Brasil". Já os que votaram pela abstenção disseram: "Nem Dilma nem Temer nem Cunha", "Em respeito à decisão do meu partido".

O deputado Alfredo Nascimento (PR-AM), aproveitou o momento do voto, a favor do impeachment, para renunciar à presidência do PR. Ele foi ministro dos Transportes no primeiro mandato de Dilma e foi demitido em 2011 depois de seu nome aparecer em denúncias de corrupção.

Ex-ministro das Cidades da presidente Dilma, o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), também votou pelo impeachment, acompanhando a decisão do seu partido. Já o ministro da Saúde licenciado, Marcelo Castro (PMDB-PI), disse que a presidente Dilma "não matou, não roubou, não tem conta no exterior" e votou "não".

Na hora de votar, o deputado Wladmir Costa (Solidariedade-PA), que optou pelo "sim", estourou uma chuva de confetes no plenário e causou alvoroço no lado da oposição. Já a deputada Flávia Morais (PDT-GO) também votou "sim", contrariando a decisão de seu partido, e saiu chorando.

O deputado Wladmir Costa (Solidariedade-PA) estourou uma chuva de confetes no plenário.
O deputado Wladmir Costa (Solidariedade-PA) estourou uma chuva de confetes no plenário. Marcelo Camargo/ Agência Brasil

O presidente da casa, Eduardo Cunha, também se exprimiu a favor do impeachment, dizendo: "Que Deus tenha misericórdia dessa nação, voto sim". Ele foi criticado por vários deputados durante todo a sessão, mas ouviu as acusações em silêncio. 

Depois de votarem, vários deputados a favor do impeachment assinaram uma bandeira do Brasil que estava no plenário.

O voto "sim" ficou à frente no placar durante todo o rito, o que deixou os governistas desanimados e alguns de braços cruzados na maior parte da votação. Já a oposição estava animada e aos gritos. Durante cada voto se ouvia vaias e aplausos de cada lado.

Bastidores

Dentro do plenário, foi instalada uma televisão com imagens da manifestação do lado de fora do Congresso. Assim, os parlamentares puderam acompanhar ao vivo o protesto e reafirmar seus votos de acordo com o tamanho dos movimentos.

Durante a sessão, deputados gravavam vídeos pelo celular, faziam selfies e se abraçavam em bandeiras do Brasil e dos estados. Muitos carregavam cartazes com suas posições, na tentativa de aparecer nas câmeras da imprensa. O único momento em que deputados pró e contra se uniram foi na hora de cantar o hino nacional instantes antes da votação, de forma espontânea.

Enquanto os deputados discutiam na Câmara, a presidente Dilma se reunia com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada. Vários senadores, entre eles do PT, PMDB e DEM, acompanharam a sessão no plenário da Câmara.

Tumulto

A sessão começou às 14h em ponto. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou no plenário que a segunda chamada para deputados que chegassem com atraso ocorreria ao fim da votação de cada estado e não ao fim de toda a primeira chamada dos estados, como queriam os governistas. "Quem não quer votar e estar ausente, assuma sua ausência", declarou Cunha.

Neste momento houve confusão quando o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) foi impedido de falar. Ele ficou frente a frente de Cunha e começou o bate-boca. Depois foi a vez do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) subir e discutir com Cunha. Ele foi retirado por seguranças e houve confusão e empurra-empurra entre deputados.

Logo depois, uma faixa "Fora Cunha" foi estendida atrás do presidente e ele reclamou. "Será retirada qualquer faixa no plenário", declarou.

Antes mesmo da sessão começar, houve tumulto do lado de fora. Grupos de deputados do governo e da oposição chegaram juntos entoando gritos de guerra. "Democracia", pelo lado do governo, e "Impeachment", do lado da oposição. Diante da confusão envolvendo deputados, cinegrafistas e jornalistas, a segurança foi reforçada. Policiais legislativos formaram, às pressas, uma linha de isolamento na frente do Plenário da Câmara.

Debates

Os líderes discursaram antes da votação. O deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) disse esperar dias melhores. "Não é possível que ambições políticas continuem a levar o país até onde trouxe nesse momento", afirmou.

O líder do PT Afonso Florence (BA) disse que o partido vai conclamar todas as forças políticas para unificar o país a partir de segunda-feira (18). "A chapa Michel-Cunha não passará nesse plenário", disse.

Já o líder tucano Antonio Imbassahy (PSDB-BA) questionou: "Que Brasil vocês acham que os brasileiros merecem, o Brasil do mensalão, do petrolão, dos pixulecos?". E atacou: "A presidente permitiu que o maior escândalo de corrupção do planeta se desenvolvesse embaixo do seu nariz e nada fez".

Antes dos líderes, o relator Jovair Arantes (PTB-GO) discursou em defesa do impeachment. "Nenhum agente político precisa de aviso prévio para cumprir a lei e a Constituição Federal", declarou. "Devemos autorizar a instauração do processo e que Deus nos ilumine".

Manifestantes

Vários protestos foram organizados durante o dia no país e o ápice da manifestação na capital federal foi às 20h, quando 53 mil manifestantes a favor e 26 mil contra o impeachment ocupavam a Esplanada dos Ministérios. Os dados são da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social.

Um total de 3 mil homens e mulheres da Polícia Militar, 320 bombeiros e 75 agentes do Detran fizeram a segurança na Esplanada. Nenhuma ocorrência de violência entre os manifestantes foi registrada.

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