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Brasil ratifica liderança regional ao participar de processo de paz na Colômbia

Um dos principais assuntos a serem discutidos na IV cúpula de chefes de Estado e de Governo da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), nesta quarta-feira (27), em Quito, deve ser o processo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O Brasil, que ratificou na semana passada seu apoio ao país vizinho para o desarmamento da região ocupada pela guerrilha, deve participar ativamente das discussões sobre a questão, marcando sua presença como líder regional.

Brasil deve enviar militares à Colômbia para missões de desminagem humanitária das regiões ocupadas pelas Farc.
Brasil deve enviar militares à Colômbia para missões de desminagem humanitária das regiões ocupadas pelas Farc. AFP Photo/Raul Arboleda
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“O Brasil tem interesse em participar deste processo de paz não só na parte da cooperação técnica como diplomática”, afirma o professor de Relações Internacionais da UFRJ, Diogo Dario, especialista em estratégias em políticas latino-americanas. Para ele, ter um papel na estabilização da Colômbia demonstra liderança regional do Brasil.

As Farc e o governo colombiano se comprometeram a assinar o tratado final de paz antes do dia 23 de março. No mês de dezembro passado, as duas partes assinaram um pacto inédito a favor das vítimas do conflito armado, um passo considerado fundamental nas discussões de paz que acontecem há três anos em Cuba.

Esse era o ponto mais complicado das negociações entre as Farc e o governo colombiano. Com ele, quatro dos seis tópicos de um acordo definitivo estão resolvidos, restando apenas o fim das hostilidades - que inclui o desarmamento da guerrilha - e a implementação efetiva dos termos de paz. Os acertos anteriores diziam respeito à questão agrária, ao cultivo e tráfico de drogas, além da participação política das Farc depois da deposição das armas.

Cooperação do Brasil deve ser estendida a outras áreas

Na semana passada, o subsecretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe, Paulo Estivallet de Mesquita, já havia adiantado a iniciativa do país em fornecer apoio ao processo de paz. A ajuda já havia sido discutida na visita da presidente Dilma Rousseff à Colômbia, em novembro de 2015.

A colaboração do Brasil se daria, segundo o embaixador, no desarmamento e na desminagem humanitária, uma atividade que o país já vem exercendo há algum tempo. “Boa parte da desminagem na América Central foi feita por tropas brasileiras. Na Colômbia também estamos colaborando há vários anos”, lembrou.

O embaixador também adiantou que o país deve contribuir na elaboração de programas de agricultura familiar, de aquisição de alimentos e de merenda escolar nos territórios ocupados pelas Farc e que devem voltar ao controle do governo colombiano nos próximos meses.

“O Brasil tem uma visão ampla deste processo de reconstrução da paz na Colômbia e pretende não só avançar na cooperação militar como em outros âmbitos”, sublinha o professor de Relações Internacionais da UFRJ. 

Dario lembra que quando o projeto de paz começou a ser idealizado, na época em que o atual presidente colombiano Juan Manuel Santos era ministro da Defesa do governo de Álvaro Uribe, o Brasil se dispôs a atuar como facilitador das negociações entre as duas partes que são realizadas em Cuba. “No momento em que esse projeto começou a ser idealizado, a diplomacia brasileira imediatamente se mobilizou para construir essa posição [de liderança] através da construção do diálogo entre as partes”, diz.

O professor ressalta, no entanto, que a participação brasileira se dá dentro de um acordo específico de cooperação técnica, de "desminagem humanitária", como é denominada essa atividade, que não faz parte do acordo de paz entre as Farc e governo da Colômbia. “O Brasil pretende enviar militares para ajudar tanto as forças colombianas quanto os guerrilheiros a desativar um conjunto de minas terrestres em algumas áreas ocupadas pelo movimento”, diz.

Colômbia busca apoio financeiro para o processo de paz

Segundo o especialista, a iniciativa do Brasil em apoiar as negociações entre o governo colombiano e as Farc não partiu do país. A demanda, como o próprio embaixador Estivallet de Mesquita já havia adiantado, veio de Bogotá. “A Colômbia tem um grande interesse em angariar apoio internacional para esse processo e a Celac é apenas um dos vários fóruns onde o país buscou esse suporte”, sublinha Dario, lembrando que o assunto foi tema do discurso de Santos na ONU e em suas viagens pela Europa.

Isso porque o custo da implementação prática de uma reconstrução pós-conflito é caro. Não é à toa que o principal objetivo das últimas visitas de Santos à Europa foi entrar em contato com os governos visando empréstimos ou doações. “Exige um conjunto de preparações e toda a logística para viabilizar o desarmamento dos grupos. Uma grande preocupação do governo colombiano é de como financiar esse projeto”, explica Dario.

A participação do Brasil como financiador da paz não é inédita. Entre os países latino-americanos, o governo brasileiro e uruguaio são os que mais enviaram tropas para missões de paz da ONU. Brasília destina atualmente 0,58% de orçamento anual a este propósito ou seja, R$ 33,8 bilhões até julho de 2016.

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