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Ataque ao Capitólio foi "tentativa de golpe" de Trump, denuncia relatório

A comissão que investigou o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, em janeiro de 2021, afirmou nesta quinta-feira (9) que o ex-presidente Donald Trump estava por trás de uma "tentativa de golpe" para se manter no poder e incitou os manifestantes a invadirem o local.

A vice-presidente da comissão de investigação parlamentar, Liz Cheney, durante o discurso de abertura sobre o ataque ao Capitólio
A vice-presidente da comissão de investigação parlamentar, Liz Cheney, durante o discurso de abertura sobre o ataque ao Capitólio AP - J. Scott Applewhite
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A audiência sobre as conclusões da investigação foi transmitida pela TV e acompanhada por milhões de americanos, inclusive em telões instalados em parques, como mostrou o jornal The New York Times. Os integrantes da comissão parlamentar, formada por sete democratas e dois republicanos, apresentaram evidências de que o ataque ao Capitólio teria sido organizado pelo ex-presidente americano Donald Trump, para reverter o resultado da eleição de 2020, vencida por Joe Biden. Em um ano, foram ouvidas mil testemunhas e analisados 140 mil documentos.

"O presidente Trump convocou a multidão, reuniu e botou lenha na fogueira para que esse ataque ocorresse", declarou a vice-presidente republicana do painel, Liz Cheney, em seu discurso de abertura. "Durante meses, Donald Trump supervisionou e coordenou um plano sofisticado para reverter os resultados da eleição presidencial e impedir a transferência do poder. Os invasores do Capitólio, que combateram os policiais durante horas, agiram motivados pelo que Trump havia dito para eles: que a eleição havia sido roubada e ele era o presidente legítimo", declarou.

Pouco antes, ao abrir a primeira audiência pública, o presidente democrata da comissão, Bennie Thompson, acusou Trump de estar "no centro da conspiração". "O dia 6 de janeiro (2021) foi o ponto alto de uma tentativa de golpe, uma tentativa descarada para derrubar o governo. A violência não foi um acidente", defendeu. No dia do ataque, os manifestantes invadiram o Capitólio por "incentivo do presidente dos Estados Unidos", acrescentou Thomson.

Para corroborar a  versão de que Trump sabia que a acusação de fraude eleitoral não tinha fundamento, os parlamentares obtiveram depoimentos a portas fechadas de alguns dos conselheiros mais próximos e confiáveis do magnata, incluindo o ex-ministro da Justiça Bill Bar e o genro e principal conselheiro do ex-presidente, Jared Kushner. Em um trecho transmitido durante a audiência, Barr declarou que "havia dito a Trump que não achava que a eleição tivesse sido roubada". Sua filha, Ivanka Trump, corrobora a versão de Barr.

Jacob Chansley, do grupo QAnon, entra no Capitólio em Washington, em 6 de janeiro de 2021
Jacob Chansley, do grupo QAnon, entra no Capitólio em Washington, em 6 de janeiro de 2021 © AFP - SAUL LOEB

Conspiração

Além disso, foram divulgadas imagens, algumas inéditas, da violência que tomou conta do parlamento, que deixou cinco mortos. "A democracia continua em perigo", advertiu Thompson. "A conspiração para frustrar a vontade do povo não acabou. Há aqueles que têm sede de poder neste país, mas não têm amor ou respeito pelo que tornam os Estados Unidos grandes", disse.

A comissão também divulgou imagens inéditas, na véspera do ataque, em 6 de janeiro, de um encontro em uma garagem subterrânea perto do Capitólio, entre os dois líderes dos grupos de extrema direita Prouds Boys e Oath Keeps. Eles são acusados de terem guiado os manifestantes para dentro do Capitólio.

O objetivo da comissão parlamentar, com as provas, é tentar obter a abertura de um inquérito na Justiça penal contra os responsáveis pelo ataque. Essa decisão,como envolve um ex-presidente americano, depende do ministro da Justiça, Merrick Garland, o único que pode autorizar o processo. 

invasão dos partidários de Trump ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021
invasão dos partidários de Trump ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021 AP - John Minchillo

Caça às bruxas

Durante a sessão desta quinta-feira e nas cinco audiências seguintes, os advogados mostrarão textos, fotografias e vídeos para esclarecer supostos planos do governo Trump, antes das eleições. O ex-presidente americano qualificou a investigação de uma "caça às bruxas" sem fundamento. 

Em sua rede social, a Truth Social, defendeu a insurreição, que classificou como "o maior movimento na história do país" para fazer com que os Estados Unidos "voltassem a ser uma grande nação". "Foi uma eleição fraudada e roubada, e o país estava prestes a ir para o inferno", acrescentou.

O líder republicano na Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, afirmou nesta quinta-feira que esta comissão é "a mais política e a menos legítima da história dos Estados Unidos". "Não vejo uma sessão no horário nobre sobre o preço da gasolina, sobre como combater a inflação, alimentar nossas crianças e tornar nossas ruas mais seguras", disse ele, em entrevista coletiva. Seu partido já prometeu enterrar o trabalho da comissão se ela assumir o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato, em novembro.

Apoiantes de Trump invadiram o Capitólio para tentar reverter o resultado das presidenciais de 2020.
Apoiantes de Trump invadiram o Capitólio para tentar reverter o resultado das presidenciais de 2020. AP - John Minchillo

"Atores ilegais"

A comissão deverá agendar as próximas audiências a partir das 10h locais, nos dias 13, 15, 16 e 21 de junho. O grupo analisará diferentes esquemas ilegais que, segundo assegura, foram orquestrados pelo governo Trump para mantê-lo no poder. Os investigadores querem examinar em detalhes por que os policiais demoraram 187 minutos para entrar no Capitólio e entender a lacuna de quase oito horas nos registros telefônicos das ligações feitas da Casa Branca, no meio da violência.

Um dos principais desafios dos parlamentares será demonstrar a existência de uma relação direta entre a suposta conspiração para reverter a eleição, o discurso de Trump que incentivou os manifestantes a marchar até a sede do Congresso e a posterior "tomada" do Capitólio. "O dia em que Donald Trump não fará mais parte deste mundo vai chegar, mais sua desonra vai ficar", resumiu a vice-presidente republicana do painel, Liz Cheney.

(RFI e AFP)

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