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Um pulo em Paris

Franceses apoiam visto de trabalho para estrangeiros em setores com escassez de mão de obra

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Na semana em que ONGs denunciam a remoção de migrantes de Paris para outras localidades da França, a fim de deixar a cidade mais bonita para os turistas durante o Mundial de Rugby e os Jogos Olímpicos de 2024, pesquisa revela que franceses apoiam a criação de um visto de trabalho para estrangeiros em setores que enfrentam dificuldades de recrutamento de mão de obra. 

Imigrantes dormem embaixo de uma ponte no bairro de Stalingrad, em Paris. 12 de julho de 2023
Imigrantes dormem embaixo de uma ponte no bairro de Stalingrad, em Paris. 12 de julho de 2023 AFP - JULIEN DE ROSA
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Como aconteceu no Rio de Janeiro, em Londres e outras cidades que acolheram grandes eventos esportivos, o governo francês tem executado um plano para remover de Paris as pessoas em situação de rua. Na capital, a maioria dos sem-teto são migrantes.

Desde março, o Ministério da Habitação fechou acordos com municípios de dez regiões do país para que colocassem à disposição estruturas temporárias de acolhimento de migrantes. Várias cidades rejeitaram a proposta, outras aceitaram, e nos últimos seis meses cerca de 1.600 migrantes foram transferidos de Paris para Bordeaux e Marselha, entre outras localidades. 

Entretanto, nesta semana, ONGs que atendem essa população foram à imprensa protestar contra essa tentativa de esconder a miséria e denunciar, mais uma vez, que o Estado francês protela o quanto pode uma solução à crise da imigração.

Alguns migrantes em situação de rua em Paris já possuem os documentos de asilo, só não conseguem trabalho com carteira assinada ou salário suficiente para pagar um quarto na região parisiense. Muitos são jovens isolados. Por isso, dormem nas calçadas, assim como franceses pobres e pessoas com transtornos mentais. O motivo da revolta das ONGs é a falta de acompanhamento global do Estado na integração do estrangeiro. 

Novo projeto de lei sobre imigração

Atualmente, existem milhares de vagas não preenchidas na França nos chamados "setores profissionais sob tensão". Falta pessoal para trabalhar em cozinhas de restaurantes, hotelaria, atendimento de idosos a domicílio, casas de repouso, hospitais, enfim, em uma série de atividades abandonadas pelos franceses por causa da baixa remuneração ou por ser um trabalho que exige sacrifícios em relação aos horários. As empresas francesas não conseguem preencher essas vagas e também procuram outros profissionais mais qualificados para a indústria e o setor de saúde, principalmente médicos e enfermeiros.  

Para abrir esses postos a estrangeiros, discute-se atualmente o novo projeto de lei sobre asilo e imigração, apresentado pelo governo no início do ano. O texto teve a tramitação suspensa durante alguns meses, por causa dos protestos contra a reforma da Previdência. Agora, voltou ao debate público.

A nova legislação propõe mecanismos para facilitar a expulsão de estrangeiros delinquentes do território francês e dispositivos que facilitem a concessão de visto de trabalho para estrangeiros em setores com dificuldades de recrutamento de pessoal.  

No início da semana, deputados de esquerda e também do partido governista publicaram uma carta aberta em apoio à legalização dos estrangeiros que moram e trabalham há anos na França, sem documentos ou com vistos temporários, exatamente nesses setores sob tensão. Mas esse tema da regularização maciça de imigrantes é explosivo, principalmente para eleitores de extrema direita, que somam pouco mais de um terço do eleitorado do país.

Para superar as resistências, o que se negocia atualmente é a lista de profissões sob tensão e as condições que serão atreladas a esses recrutamentos: contrato por tempo determinado – um ano, dois anos, cinco anos – ou sem prazo para a pessoa retornar ao seu país de origem? 

Pesquisa

Uma pesquisa Odoxa Backbone publicada na quinta-feira (14) no jornal Le Figaro mostra que a maioria dos franceses, 60% a 80% da população, dependendo da filiação partidária, vê com bons olhos a criação desse visto de profissões sob tensão, que daria uma autorização de residência para "ocupações com falta de pessoal". A maioria dos entrevistados apoia inclusive a regularização dos trabalhadores sem documentos que já estão no território francês e fazem esses trabalhos que enfrentam grave escassez de mão de obra. Por outro lado, a mesma maioria prefere que o Parlamento, e não o governo, decida em votação anual a quota de estrangeiros admitidos nesse programa.

De acordo com a sondagem, 64% dos franceses defendem acabar com o período de espera que impede os solicitantes de asilo de trabalhar durante seus primeiros seis meses de vida na França.

Essa pesquisa também revelou que mais de 80% dos franceses querem que o governo seja mais duro com os estrangeiros envolvidos em crimes e atos de delinquência. Para 73% das pessoas consultadas, os requerentes de asilo deveriam fazer a solicitação em seu país de origem ou em um terceiro país. Por fim, 75% defendem que o texto final dessa reforma, que deve ser debatida em novembro no Senado francês, seja submetida a um referendo. 

Há debate entre especialistas se antes de abrir o mercado de trabalho para estrangeiros, o governo francês não deveria pressionar por um aumento de salários e melhoria de condições de trabalho nos setores sob tensão, a fim de atrair os franceses que estão desempregados – atualmente cerca de 5 milhões de pessoas. 

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