O que você ainda não sabe sobre a menopausa? Professora de Medicina da USP tira dúvidas sobre o tema
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Nesta quarta-feira, dia 18 de outubro, é comemorado o Dia Mundial da Menopausa, que corresponde ao último ciclo menstrual da mulher. Trata-se de um processo natural, mas ainda cercado de dúvidas e tabus. Em geral, ele é acompanhado de muitos sintomas, de intensidade variável.
Taíssa Stivanin, da RFI
Quando a menopausa chega e a mulher para de menstruar, ocorre também a queda brusca de dois hormônios femininos: o estrogênio e a progesterona. Em média, ela acontece em torno dos 50 anos, mas a idade varia em função do modo de vida ou de outros fatores individuais.
A professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Isabel Cristina Esposito Sorpreso, criou há três anos o site Menopausando, um projeto que visa aproximar os futuros médicos das pacientes e facilitar a comunicação sobre o tema.
“Existem ainda muitos mitos e dúvidas sobre o que é climatério, menopausa, transição para a menopausa ou pós-menopausa e o que é a menopausa propriamente dita”, explica a ginecologista. “As pacientes então mandam perguntas que são transformadas em textos e entrevistas, com profissionais da USP ou de fora. Em seguida, o estudante deve fazer uma transcrição e responder a essa pergunta de uma maneira coloquial, sempre se baseando em evidências científicas. É um aprendizado muito grande."
As mudanças da menopausa são psicológicas, sociais e corporais. A fase de transição para esse novo capítulo na vida da mulher, explica, correspondem aos dois últimos períodos reprodutivos. A menopausa é constatada quando a mulher fica mais de 12 meses consecutivos sem menstruar.
A partir daí começa a pós-menopausa, o período não-reprodutivo. Os sintomas, ressalta Isabel Cristina Esposito Surpreso, podem começar três ou quatro anos antes do fim das menstruações, que são em geral mais espaçadas, mas há ovulação e risco de gravidez.
Nessa fase, o corpo da mulher passa por alterações que predispõem a fogachos, alterações de humor, cansaço, sudorese e insônia. Mas há ainda muitos outros sintomas, que dependem de diferentes fatores, como a prática de uma atividade física, a alimentação e até o índice de massa corporal.
“Os sintomas principais são os calores, as sudoreses e os fogachos, os mais comuns, que se iniciam da cintura para cima e acometem o tórax, pescoço e couro cabeludo. Em seguida, pode vir ou não uma sensação de sudorese fria", descreve a ginecologista.
"Dependendo da intensidade, a mulher terá outros sintomas vasomotores, como taquicardia, sensação de desmaio, vertigens e até zumbido no ouvido. Eles podem começar três ou quatro anos antes, mas perduram até cinco anos depois da menopausa”, completa.
“O mais importante é as mulheres reconhecerem que não são as únicas a sentirem esses sintomas. Elas não estão sozinhas”, diz a ginecologista, que media grupos de orientação. “Por isso, no fim das nossas rodas de conversa, as mulheres estão sempre sorrindo. Chegam incomodadas e acabam dando risada.”
Quanto tempo vai durar?
Não há regra, mas os sintomas da menopausa duram em média de oito a dez anos. Alguns deles, como as alterações de humor e a insônia, diz a médica, ocorrem porque o processo fisiológico da menopausa é pilotado pelo sistema nervoso central, onde estão os receptores do estrogênio, o hormônio feminino que para de ser produzido com o fim das menstruações.
“O sistema nervoso tem que entrar em equilíbrio com a queda progressiva da produção de estrogênio ovariano, provocada por uma insuficiência ovariana fisiológica permanente da mulher”, frisa.
Quando chega a última menstruação e com ela a menopausa, os primeiros sintomas reduzem progressivamente, mas surgem outros, também relacionados ao sistema nervoso central. Eles envolvem a pele, as articulações e a produção de fibroblasto, que forma a célula do tecido conjuntivo.
O câncer, ou neoplasias, além das doenças cardiovasculares, se tornam também mais comuns depois da menopausa, por influência da idade e pela queda do estrogênio. Associados, esses dois fatores aumentam os riscos de desenvolver tumores.
Por isso a menopausa é um processo fisiológico natural, mas que exige acompanhamento médico, diz a especialista. Se a paciente tiver doenças ginecológicas pré-existentes, como o ovário policístico, outros exames e cuidados podem ser necessários. As mulheres com o problema são mais propícias a terem doenças no endométrio, por exemplo.
Apostando na prevenção
Isabel Cristina Sorpreso ressalta a importância de ter um estilo de vida saudável desde a adolescência para se chegar à menopausa sem grandes sobressaltos, garantindo, por exemplo, uma boa massa óssea, prevenindo a osteoporose, por exemplo.
Além da atividade física, garantir uma alimentação saudável no cotidiano é essencial. “O ideal é ter uma alimentação minimamente processada. Tudo isso acaba interferindo na intensidade desses sintomas.”
Novos medicamentos disponíveis também poderão tornar essa fase mais confortável para a mulher. Um deles é o Vezoah, aprovado recentemente pela FDA, a agência americana de medicamentos, e que poderá ajudar a diminuir alguns sintomas.
“Ele age nas vias de regulação cerebral e no sistema termorregulador. É uma boa notícia, porque é mais uma opção”, conclui Isabel Cristina Esposito Supreso. O impacto a longo prazo, entretanto, ainda deverá ser avaliado, observa. Em geral, diz, a terapia clássica de reposição hormonal ainda é a mais recomendada, e deverá ser avaliada em função de cada caso.
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