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Saúde em dia

Cientistas brasileiras concorrem a prêmio na Espanha com biocurativo em impressão 3D

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As pesquisadoras brasileiras Carolina Caliari e Adriana Manfiolli se conheceram quando ainda eram estudantes de Biologia na Universidade Federal de Uberlândia e se reencontraram na pós-graduação na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), de Ribeirão Preto (SP).

Impressão em 3D do biocurativo da In Situ, que concorre, em 26 de outubro, à 22ª edição do Global eAwards, em Madri, na Espanha.
Impressão em 3D do biocurativo da In Situ, que concorre, em 26 de outubro, à 22ª edição do Global eAwards, em Madri, na Espanha. © Divulgação
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Taíssa Stivanin, da RFI

As duas pesquisadoras brasileiras estão à frente da startup In Situ Terapia Celular, que desde 2016 desenvolve, entre outros projetos, o de um biocurativo em impressão 3D.  

Graças a essa invenção, realizada com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a empresa concorre, em 26 de outubro, à 22ª edição do Global eAwards, em Madri, na Espanha.  

Pelo menos 17 startups de vários países participam do prêmio, que promove o empreendedorismo de projetos que melhoram a qualidade de vida e respeitam o meio ambiente. 

A In Situ já havia sido vencedora do eAwards Brasil 2023, na etapa Brasil da mesma competição. A recompensa valeu a vaga na final, diz Carolina Caliari, uma das sócias da empresa. "Conseguimos ótimos contatos no Brasil e vamos com a missão de trazer ainda mais contatos e parcerias da Europa também”, diz.

O projeto inicial do biocurativo, fabricado com células-tronco coletadas de cordão umbilical, começou durante os estudos de mestrado e doutorado de Carolina, iniciados em 2006. O biocurativo é aplicado diretamente na pele para acelerar o processo de cicatrização de feridas complexas ou crônicas, que podem aparecer em doenças como o diabetes, por exemplo.

“De lá para cá, além de avaliarmos o funcionamento da célula-tronco, transformamos aquilo que fazíamos na bancada do laboratório, aqui na Universidade de São Paulo, em um produto factível para o mercado”, diz Carolina.

“Hoje, a gente imprime as células derivadas do cordão umbilical humano para fabricar o curativo, que fica com o aspecto muito parecido com uma lente de contato gelatinosa. É um gelzinho, de fácil aplicação, que contém as células vivas e será colocado sobre as feridas desses pacientes”, explica.

As pesquisadoras brasileiras Carolina Caliari e Adriana Manfiolli , que estão à frente da startup In Situ Terapia Celular, de Ribeirão Preto
As pesquisadoras brasileiras Carolina Caliari e Adriana Manfiolli , que estão à frente da startup In Situ Terapia Celular, de Ribeirão Preto © Divulgação

O foco agora é tornar o biocurativo viável para o mercado. “Para isso, é muito importante que esse produto seja reprodutível. Toda vez que usarmos o curativo, ele tem que funcionar da mesma maneira. Também temos que conseguir fabricar muitos de uma vez para conseguir tratar, por exemplo, cinco milhões de pacientes que temos no Brasil e tantos outros espalhados pelo mundo”, ressalta.

Impressão em 3D do biocurativo da In Situ, que concorre, em 26 de outubro, à 22ª edição do Global eAwards, em Madri, na Espanha.
Impressão em 3D do biocurativo da In Situ, que concorre, em 26 de outubro, à 22ª edição do Global eAwards, em Madri, na Espanha. © Divulgação

Células-tronco

Como o biocurativo funciona? Segundo a pesquisadora Adriana Manfiolli, sócia da empresa, tudo começa na maternidade, onde as cientistas têm acesso aos cordões umbilicais após o parto e de onde serão extraídas as células-tronco. Em seguida, elas são levadas para o laboratório da In Situ. O biocurativo é então desenvolvido com um biomaterial conhecido como hidrogel de alginato.

“Aqui no laboratório, a gente isola essas células, e em seguida, multiplica. Produzimos dezenas de milhões delas no laboratório. Depois associamos essas células ao alginato, que é um polissacarídeo – um açúcar derivado de algas e um material simples, muito usado no setor da saúde. Tem muitas análises mostrando que ele é biocompatível e biodegradável.  Associamos as células ao alginato, misturamos, formamos o que chamamos de biotinta (hidrogel de alginato+células) e realizamos a bioimpressão", detalha Adriana.

Segundo a pesquisadora brasileira, a escolha do biomaterial foi muito importante, porque a célula deve continuar “viva, viável e cumprindo todas as funções que são esperadas dela”.

Todas essas características, frisa, foram validadas em laboratório. Carolina explica que, nos testes iniciais com animais, ou estudos in vivo, o produto era aplicado com uma seringa na borda da ferida dos camundongos, o que não seria o mais adequado para pacientes muitas vezes fragilizados. Por isso, elas buscaram, e encontraram, uma solução mais adaptada.

O tamanho padrão do biocurativo de hidrogel é de 80 cm2, mas esse tamanho pode ser modificado rapidente em função da necessidade do paciente, acrescenta Adriana.

O produto deverá ser entregue diretamente nos hospitais, detalha Carolina. "Quando o paciente é atendido, o hospital faz o pedido e o biocurativo é aplicado no próprio estabelecimento”, explica Carolina, salientando que não se trata de um produto de prateleira, mas um medicamento biológico. “No futuro, a farmácia não será a única fonte de medicamentos”, observa.

Aval da Anvisa

Adriana Manfiolli lembra que a empresa já produziu todos os dados de segurança e eficácia in vitro, em estudos pré-clínicos e em modelos animais. O produto também está em fase de submissão à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Agora estamos em uma fase de submissão para a Anvisa de um dossiê para a realização de um estudo clínico. O biocurativo entra no rol de medicamentos especiais, que são os produtos de terapias avançadas, que incluem terapia gênica, celular e engenharia de tecidos”, diz.

Ela explica que, para este tipo de produto, são necessárias a autorização do comitê de ética em pesquisa e dos testes clínicos pela agência. “Estamos nesta fase, de submissão da Anvisa, para em seguida iniciarmos um estudo de fase 1 e 2, para comprovar a segurança e a eficácia. ”

Outros projetos

A In Situ também está desenvolvendo um outro projeto, que ainda está em fase pré-clínica. Segundo Adriana Manfiolli, diferentemente do biocurativo, esse produto poderá ser encontrado nas farmácias.

“A ideia é que esse seja um produto de prateleira. Durante o processo de crescimento da célula, ela produz biomoléculas que são importantes para sua função terapêutica”, explica. “Muitas delas estão empacotadas em pacotinhos de tamanho nano, chamadas de nanovesículas. Neste projeto, purificamos essas nanovesículas e incorporamos em um biogel.”

A ideia, diz, é que o biogel seja usado para tratar feridas menos complexas, como no caso da cicatrização de uma cirurgia, por exemplo, ou ainda para melhorar o aspecto de uma cicatriz. Mais um produto que mostra o potencial que a nova startup brasileira tem para se desenvolver em um setor ávido por novidades.

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