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Livro “Ruth contra Hitler” resgata histórias de jornalista da resistência que viveu na Alemanha nazista

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Ruth Andreas-Friederich foi uma jornalista e escritora que viveu no tempo da Alemanha nazista. Seus diários trouxeram à tona outra perspectiva da barbárie da época, a do cidadão alemão que resiste ao regime. A partir dos diários, artigos e livros da autora alemã, a também jornalista e escritora Luciana Rangel escreveu “Ruth contra Hitler”.

Ruth Andreas-Friederich, jornalista alemã que viveu em Berlim durante toda a Segunda Guerra Mundial é o eixo do livro "Ruth contra Hitler", de Luciana Rangel.
Ruth Andreas-Friederich, jornalista alemã que viveu em Berlim durante toda a Segunda Guerra Mundial é o eixo do livro "Ruth contra Hitler", de Luciana Rangel. © Hess
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Por Patrícia Moribe, da RFI

Durante o dia, Ruth Andreas-Friederich trabalhava para a imprensa sob censura nazista, escrevendo artigos bem-comportados para o público feminino. De noite, ela abrigava pessoas que eram perseguidas. Durante toda a guerra foi como se vivesse uma vida dupla. Nos diários, ela exprimia o que vivia, o que sentia. Sabia que, se afrontasse o regime, seria sua sentença de morte.

“Ruth contra Hitler” vai além de uma biografia. O livro faz paralelos constantes com a realidade contemporânea de Berlim, onde mora Luciana Rangel. A autora também esmiúça os escritos da jornalista alemã, fazendo contrapontos entre o que ela escrevia para artigos e as entradas do diário. “É um livro híbrido, um livro reportagem”, explica Rangel.

“Ele funciona como um almanaque da Segunda Guerra Mundial. Eu acho importante falar isso, porque é importante a gente relembrar e é dar informações. Mas ele também fala da biografia da Ruth Andreas-Friedrich, que é uma jornalista que viveu todo o período da Segunda Guerra Mundial em Berlim”, diz.

“A história de Ruth é uma linha, digamos. Mas, para mim, é muito importante falar também sobre o papel do jornalismo em períodos em regimes ditatoriais, que repreendem ou que vão de encontro à democracia”, acrescenta.

Luciana Rangel e "Ruth contra Hitler".
Luciana Rangel e "Ruth contra Hitler". © Luciana Rangel

Monumentos para a memória

A memória do Holocausto tem marcos concretos em Berlim. “A gente tem os monumentos, as sinagogas, escolas e instituições judaicas cercadas por policiais. É uma lembrança diária”, conta. Mas ela lembra que crimes antissemitas ainda acontecem, citando um incêndio criminoso em uma cabine telefônica transformada em biblioteca, ao lado da Plataforma 17, memorial de onde famílias inteiras foram deportadas.

O livro lembra a necessidade de se falar do Holocausto para não esquecer os horrores da guerra. “Por um lado, eu acho que a Alemanha trabalha isso através de livros, literatura dentro da sala de aula. O tema Holocausto é trabalhado, mas, ao mesmo tempo, me dá a sensação de que é uma perspectiva muito distante do tema. Foi uma coisa que aconteceu e não uma coisa que está acontecendo. Então, às vezes falta para mim esse vínculo com o presente. Falta, por exemplo, falar sobre o partido de extrema-direita, discutir isso, discutir por que a gente está caminhando para esse lado”, analisa a jornalista.

Luciana Rangel tomou conhecimento da história de Ruth quando procurava um tema de mestrado em torno do jornalismo exercido por uma mulher. Para o livro, ela escolheu extrapolar, pesquisar, entrevistar especialistas, sobreviventes e até uma neta de Ruth Andreas-Friederich.

“Eu também bato muito na questão do testemunho, de você ouvir pessoas. Isso aproxima a gente da história. A Ruth é importante porque ela era uma pessoa comum, não era uma celebridade, nada disso. Por isso que eu acho que a história dela é tão interessante. Ela é uma pessoa comum, que usou da coragem civil dela que viu que aquilo não estava certo e fez o que ela podia enquanto cidadã”, argumenta Rangel.

Uma nova perspectiva

Em suas pesquisas, Luciana Rangel se deparou a perspectiva masculina dos relatos a respeito da jornalista Rute Andreas-Friedrich, que também desafiou os cânones morais da época, ao ser mãe solteira, ter um companheiro sem ser casada, além de outros relacionamentos.

“Por que isso é relevante na perspectiva profissional dela ou no que ela fez? Por que ela tem que ser validada ou analisada? As mulheres passam por isso, os homens não passam”, explica a escritora.

“A gente estuda a história da perspectiva masculina, do homem europeu, hétero, branco e então está na hora de ouvir outras narrativas, ouvir outras perspectivas para a gente ter uma visão mais ampla da história”, frisa Luciana Rangel.

“A gente está revisando a história no mundo inteiro, no Brasil também. E é muito importante a gente rever a história e buscar novos relatos, novos depoimentos de outros caminhos”, arremata a autora.

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