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JMJ: Em Lisboa, Papa tentará mobilizar jovens católicos para mudar o mundo, diz sociólogo brasileiro

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A 16ª edição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) tem início nesta terça-feira (1°) e será realizada até o próximo domingo (6). O papa Francisco, grande estrela do evento, tem a missão de mobilizar os jovens para fazer do engajamento religioso um caminho para um mundo mais solidário e ecológico. A RFI conversou sobre o assunto com o professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás Flavio Sofiati, especialista em Sociologia das Religiões.

Uma faixa do lado de fora de uma igreja de Lisboa anuncia a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), de 1º a 6 de agosto, em Portugal, com a presença do papa Francisco.
Uma faixa do lado de fora de uma igreja de Lisboa anuncia a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), de 1º a 6 de agosto, em Portugal, com a presença do papa Francisco. AP - Armando Franca
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Criada em 1986 por iniciativa do papa João Paulo II, a Jornada Mundial da Juventude é o maior evento católico do mundo, reunindo, a cada edição milhões de fiéis católicos de todo o planeta. A edição de Lisboa ocorre com um ano de atraso, adiada devido à pandemia de Covid-19.  

Para Sofiati, o encontro é realizado há quase 40 anos dentro da mesma perspectiva: "reacender o catolicismo para reorganizar a evangelização, principalmente entre os jovens". No entanto, desde que começou a ser liderado pelo papa Francisco, a partir de 2013, no Rio de Janeiro, os encontros adquiriram outra dimensão.

"Em todas as Jornadas, seus discursos são para motivar a juventude a se mobilizar a mudar o mundo", afirma o sociólogo. Sofiati aponta que essa mensagem é coerente com o pontificado de Jorge Bergoglio, no qual tenta estabelecer mudanças internas na igreja católica, engajando-se contra as violências sexuais e a pedofilia dentro da instituição e fazendo propostas de uma nova economia, mais justa e verde.

"O papa tem pregado uma 'igreja em saída'. Para mim, é o resumo de tudo o que ele tem falado nesses últimos dez anos: uma igreja que se mobiliza internamente não só para evangelizar o mundo, mas para transformar a realidade na qual nós estamos inseridos", aponta o professor da Universidade Federal de Goiás.

"Na concepção do papa, é preciso mudar a sociedade, do ponto de vista social, econômico, cultural, ecológico, e repensar a nossa civilização, porque a gente está próximo de um momento que não tem mais como voltar atrás", reitera.

O professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás, Flávio Sofiati, especialista em Sociologia das Religiões.
O professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás, Flávio Sofiati, especialista em Sociologia das Religiões. © Arquivo Pessoal

Violências sexuais

A realização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa ocorre alguns meses após a divulgação, em fevereiro, de um relatório realizado por uma comissão de especialistas independentes, que apontou que quase cinco mil menores foram vítimas de violências sexuais dentro da igreja católica portuguesa desde 1950. Embora tenham sido condenadas, houve muita resistência em Portugal para afastar religiosos envolvidos nas denúncias.

Sofiati destaca que o sumo pontífice escolheu não deixar passar em branco a polêmica, prevendo encontrar vítimas desses abusos durante sua visita a Portugal. "É um grande problema que a igreja tem enfrentado hoje mas, do meu ponto de vista, o papa Francisco tem se colocado à frente desta situação, no sentido, inclusive, de criar políticas internas na igreja para se evitar algo que tem acontecido há muitas décadas e que é uma vergonha", avalia.

No entanto, mesmo diante desses escândalos, que resultou na perda de fiéis nas últimas décadas, o especialista indica que a Igreja Católica continua sendo a instituição religiosa mais poderosa do planeta. "Se você contabilizar o número de cristãos no mundo, são em torno de 2,2 bilhões, e a Igreja Católica representa cerca de 50% deste número."

Além disso, em muitos países, ainda que haja uma queda na quantidade de seguidores, a religião continua tendo uma forte influência cultural. É o caso do Brasil, segundo o especialista. Já Portugal consegue concentrar as duas características, contando com cerca de 80% da população católica - um número alto se comparado com outras nações europeias ou até mesmo superior a muitos países latino-americanos, onde o catolicismo ainda é majoritário.

Meninas dançam ao som de músicas cristãs antes de participar de uma vigília à margem da Jornada Mundial da Juventude, em Almada, em Portugal, em 28 de julho de 2023.
Meninas dançam ao som de músicas cristãs antes de participar de uma vigília à margem da Jornada Mundial da Juventude, em Almada, em Portugal, em 28 de julho de 2023. AP - Armando Franca

Engajamento de jovens brasileiros

O Itamaraty calcula que 20 mil brasileiros participarão da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, um número classificado como "significativo" pelo sociólogo. Ele lembra que os jovens do Brasil vêm marcando presença nas últimas edições do evento.

Entretanto, para Sofiati, o envolvimento da juventude brasileira na Igreja Católica tem sido cada vez mais "negociada". "Mesmo aqueles que a gente poderia chamar de jovens institucionalizados - que se declaram católicos, são praticantes, vinculados a uma paróquia, diocese ou pastoral - têm negociado cada vez mais a sua adesão. Eles assumem algumas coisas que a igreja prega, mas de outras eles se distanciam um pouco mais. Esse é um resultado bem estabelecido da própria lógica da secularização", explica.

Para Sofiati, o atual contexto social faz com que a instituição religiosa não seja mais determinante ao que as pessoas consideram como regras. "Esses jovens católicos institucionalizados ainda respeitam muito o que a igreja tem a dizer. Mas estão cada vez mais tomando isso como uma referência, não como um dogma definidor da própria vida" aponta.

Grupos vindos da Itália e do Brasil posam para foto antes de uma vigília à margem da Jornada Mundial da Juventude, em Almada, Portugal, em 28 de julho de 2023.
Grupos vindos da Itália e do Brasil posam para foto antes de uma vigília à margem da Jornada Mundial da Juventude, em Almada, Portugal, em 28 de julho de 2023. AP - Armando Franca

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