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Desconhecido no Brasil, Antonio Santana é apontado na França como sucessor de Villa-Lobos

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O pianista e compositor brasileiro Antonio Santana mora em Paris desde 1985. Suas obras são executadas por orquestras e intérpretes europeus de renome e o músico tem boa visibilidade na França, em outros países europeus e Estados Unidos. Apontado por alguns críticos musicais como “o sucessor de Villa-Lobos”, Antonio Santana, no entanto, é praticamente desconhecido no Brasil.

Antonio Santana, compositor
Antonio Santana, compositor © RFI/ Adriana Brandão
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Antonio Santana veio a Paris aperfeiçoar o piano com a mestra, também brasileira, Anna Stella Schic e nunca mais voltou. Na França se dedicou principalmente à composição e criou toda a sua obra melódica: oratório, suítes, peças para quartetos, réquiens e sinfonias. Ritmos populares brasileiros, mas também sons da floresta e da natureza têm forte presença na música erudita do compositor.

“Entre música clássica e música popular, para mim não há diferença. O que interessa é a qualidade do trabalho que é feito. Evidentemente, que a minha visão é mais erudita, mas não seletiva. (...) Utilizo também toda a cultura brasileira e todo o entusiasmo do povo brasileiro, que me inspira muito”, conta o compositor.

A primeira obra de Antonio Santana, de 1995, foi o oratório “Um Canto para o Planeta Terra”. Sua suíte sinfônica "A Voz dos Oceanos", criada em 2018 em parceria com Pierre Mollo, um pesquisador francês especialista em plâncton, acaba de ser interpretada, em 12 de março, pela orquestra de Saint-Nazaire, em Pornichet, no oeste da França. A música é executada ao mesmo tempo que imagens do fundo dos oceanos são projetadas.

O compositor acredita na capacidade da música clássica de ajudar a conscientizar para os riscos da destruição da natureza. “As pessoas, vendo essa beleza através das imagens e da música, podem se sensibilizar e dizer: ‘ah, a gente tem de preservar os oceanos, que é o futuro da humanidade’”, espera.

Homenagem às vítimas do voo Rio-Paris

O compositor reflete em sua música o que acontece no mundo. Em 2009, ele escreveu o réquiem “Canto de Luz”, em homenagem às vítimas do voo AF 447 Rio-Paris. A obra foi apresentada na Igreja da Trindade em Paris, em 2014, para um público de mais de 1.000 pessoas, entre elas vários familiares de vítimas.

“Foi um momento de muita emoção. Talvez um dos momentos mais importantes da minha vida de ver essas pessoas que estavam lá me dizendo 'que beleza, temos esse conforto com esse réquiem'”, lembra.

Outro momento inesquecível foi o incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris. Antonio Santana se inspirou na tragédia que destruiu parcialmente o monumento e criou uma música para coro infantil, piano e violino, que foi lançada mundialmente no mês de dezembro de 2022. “Há uma possibilidade que essa obra seja executada em Notre-Dame. Seria para mim uma grande alegria”, antecipa.

A produção de Antonio Santana é intensa. Ainda neste mês de março ele deve lançar “Cenas Brasileiras”, uma obra para quarteto em seis movimentos, inspirada no folclore brasileiro, e o CD “Olhar Masculino”, com a participação de grandes intérpretes europeus.

Sucessor de Villa-Lobos?

O compositor se formou com grandes nomes do piano, como Magda Tagliaferro e Anna Stella Schic, pianistas brasileiras que também se aperfeiçoaram em Paris. Mas depois de alguns anos dando recitais, abandonou os palcos para se dedicar exclusivamente à composição. “Se eu não escrever essa música, ninguém pode escrever por mim. Eu reivindico também esse espaço de música erudita (brasileira) na Europa”, explica.

Muitos críticos apontam o compositor-pianista como “o sucessor de Villa-Lobos”. Mas ao contrário de Villa-Lobos, que veio a Paris em busca de fama internacional e ganhou grande reconhecimento no Brasil, Antonio Santana é praticamente desconhecido em seu país natal, o que para ele é motivo de muita tristeza.

“Talvez (seja) a tristeza maior, porque se a gente não for reconhecido no seu país, é como uma criança que não é reconhecida por seus pais. E não é por falta de tentar. Eu não sei por quê? Talvez não haja interesse. Não sei. Mas continuo tentando. Quem sabe um dia?”

O compositor conclui a entrevista agradecendo à RFI pela oportunidade de mostrar “ao povo brasileiro que eu estou aqui também, como outros brasileiros, defendendo a alma brasileira e o talento brasileiro no exterior”.

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