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"Cinema é minha casa", diz Bárbara Colen, convidada de honra de festival na França que celebra o Brasil

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A atriz Bárbara Colen está na França como convidada de honra do Festival de Cinema Reflets du Cinéma, que este ano homenageia o Brasil. No programa desta edição, 35 longas-metragens de ficção, animação e documentários, mas também curta-metragens, foram selecionados para contar o plural e diverso cinema brasileiro. 

Bárbara Colen, atriz
Bárbara Colen, atriz © RFI
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"Eu fiquei surpresa com a curadoria do festival, porque acho que eles fizeram uma programação super completa do cinema brasileiro. Eu senti essa preocupação de mostrar uma diversidade da cinematografia brasileira, mostrar que são vários cinemas", disse a atriz em entrevista à RFI, sobre sua participação no evento que vai até 19 de março.

Bárbara conta que o tamanho do festival, que acontece nas pequenas cidades de Mayenne, Evron e Laval, a aproximadamente 200 km a oeste de Paris, permitiu um contato mais próximo com o público. 

"Foi muito gostoso poder ter essa troca e também falar sobre os filmes. Eu senti que tanto nas sessões do 'Bacurau' quanto de 'Fogaréu', tem essa importância de você explicar algumas questões culturais. No caso de 'Bacurau', só de falar da questão do cangaço já fazia com que a percepção das pessoas mudasse um pouco sobre a história", diz se referindo ao filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que ganhou o prêmio do júri do festival de Cannes na França, onde a atriz vive Teresa. 

"Cara" do cinema brasileiro atual

Com vários filmes premiados internacionalmente, entre eles "Aquarius", "Bacurau" e "Fogaréu", Bárbara Colen se transformou na "cara" do cinema brasileiro atual. Mas ao ser questionada sobre esse rótulo, a atriz, como boa mineira, ri e diz que "fica envergonhada", mesmo se reconhece que o cinema é sua casa. 

"Fico muito feliz, principalmente porque considero que o cinema de fato é a minha casa. Foi onde eu comecei e a linguagem com a qual eu mais trabalho. E eu tenho uma verdadeira paixão pelo cinema. Acho que todo processo cinematográfico me apaixona muito", diz. "E depois tem toda essa parte de poder sair para encontrar o público, levar o Brasil para os lugares, nos festivais, poder falar da minha gente, do meu país. Eu fico muito feliz mesmo de ser um encontro recíproco", afirma. 

Bárbara Colen em imagem do filme Bacurau, de 2019, onde dá vida ao personagem de Teresa.
Bárbara Colen em imagem do filme Bacurau, de 2019, onde dá vida ao personagem de Teresa. Victor Jucá

Apelo social 

Os filmes que Bárbara Colen trabalhou têm um forte apelo social e saíram em salas em contextos politicamente importantes para o Brasil. "Tanto o 'Aquarius' quanto o 'Bacurau' saíram em momentos muito emblemáticos. 'Aquarius' era um filme que tratava justamente da resistência de uma mulher contra um sistema imobiliário e ela tendo que sozinha fazer frente a tudo aquilo. E aí o filme vem naquele momento do impeachment da Dilma, então dialogava muito nesse lugar", diz. 

"Bacurau" foi lançado no início do governo de Jair Bolsonaro, quando "tudo estava sendo destruído", lembra. "Extinção de Ministério da Cultura, suspensão dos editais, a gente estava muito sem perspectiva. E eu acho que talvez esse tenha sido um dos fatores que fizeram com que o Bacurau tivesse tanta ressonância como um símbolo de resistência, naquele momento", analisa. 

"Toda aquela campanha contra a cultura que a gente estava vendo, de dizer que cinema não servia para nada, e nesse momento em que o discurso interno era nesse sentido, super agressivo, você tinha um filme em Cannes, ganhando um prêmio do júri inédito, um reconhecimento internacional. Então esse contraponto entre o que estava acontecendo dentro do país e aqui fora, acho que foi muito importante para poder legitimar o que a gente estava fazendo", diz.

Novos gêneros e novela

Sobre o lado combativo e de resistência de suas personagens no cinema, ela diz que não é uma exigência prévia para aceitar um trabalho. "Eu acho que tem um processo muito natural sobre o que você atrai, os convites que chegam. E eu tenho muito prazer de fazer esse tipo de cinema, porque eu acho que ele fala muito sobre o Brasil e sobre um Brasil que eu acredito que é real", explica. 

Ela diz que acha muito bom receber este tipo de convite, mas está aberta a tentar novos gêneros. "Inclusive, agora eu estou doida para fazer uma comédia", diz rindo.

Exatamente para testar novas experiências, a atriz decidiu se aventurar nas telinhas, aceitando um convite para viver a personagem Rose, na novela "Quanto mais vida, melhor!", da rede Globo, que foi ao ar em 2021. 

"Eu pensava: preciso fazer novela, porque o Brasil é da novela. A novela é o produto nacional por excelência. E eu, como atriz, ficava com muito desejo de ter essa experiência. Foi muito bom o meu processo, porque foi uma novela com uma equipe e colegas muito parceiros", conta.

"A única coisa que eu senti realmente de diferente do cinema era a questão do ritmo de trabalho, que na novela é uma coisa impressionante. Você trabalha de segunda até sábado, 11 horas por dia. Eu senti que tinha que estar preparada quase como um atleta", diz. 

Planos para o futuro

"A gente está com um pouco mais de paz e de esperança, mas ainda não é um relaxamento, porque todo mundo sabe que não tem nada garantido", diz a atriz sobre o momento político que o Brasil atravessa. "Quatro anos passam muito rápido e a gente sabe o tanto que foi apertada essa vitória do Lula. Então eu acho que a gente ainda está nesse estado muito precário de fazer as coisas, especialmente no cinema", diz. 

Mas o clima de otimismo na cultura a motiva a tentar novas possibilidades. "Eu estou com uma coisa de querer escrever, estou com ideias de roteiro o tempo todo", diz. "Quando você assume a escrita e o seu roteiro, você pode contar a sua história e sair desse lugar da espera de alguém que vai te chamar e da espera de um outro que vá compreender o que você quer falar para o mundo", diz.

Mas a atriz tem outros projetos para este ano. Ela anunciou, nesta semana, sua gravidez em redes sociais. "Eu sou super cuidadosa com a vida pessoal, mas gravidez não tem jeito, né? Chega uma hora que você precisa falar", diz. "E eu estou muito feliz assim. Acho que chegou num momento muito bom da vida, convergindo com a carreira", afirma.

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