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Escritora brasileira e americana publica na França romance inédito no Brasil e nos EUA

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Naná Howton nasceu no Brasil, mas mora nos Estados Unidos desde 1989. Seu primeiro romance, “Saisons des feux”, (“Temporada de queimadas”), escrito em inglês e ainda inédito nos Estados Unidos e no Brasil, acaba de ser publicado em francês pela prestigiosa editora Des Femmes.

A escritora Naná Howton nos estúdios da RFI, em Paris.
A escritora Naná Howton nos estúdios da RFI, em Paris. © RFI
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Naná Howton publicou em inglês e em revistas americanas a maioria de seus ensaios e textos de ficção. “Saisons des feux”, seu primeiro romance, é resultado de seu mestrado em Ficção na Columbia University. O título original do livro, “pensado em português, mas escrito em inglês, é “Burning Seasons” e a tradução para o francês foi feita por Isadora Matz.

A escritora, que veio a Paris participar do lançamento do livro, explica que nos Estados Unidos, país onde mora há mais de 30 anos, é muito complicado publicar um romance sem um agente literário “que é a coisa mais difícil de conseguir”. Por isso, ela enviou o manuscrito à editora Des Femmes e conseguiu “vender primeiro para a França”. Depois dessa primeira publicação, o caminho ficou mais fácil.

“Agora, eu tenho um agente que já vendeu em inglês para a Austrália, para o Reino Unido e para o Commonwealth”, antecipa. A tradução em português e a publicação no Brasil deve ser o próximo passo. “A agente está esperando a publicação em inglês para começar a espalhar pelo mundo”.

Biografia

O romance se passa durante a ditadura militar, em uma cidade de uma região produtora de cana-de-açúcar no interior paulista. “Temporada de queimadas” narra a vida de duas irmãs, mestiças, ainda adolescentes, em meio a muita violência e miséria. Elas vivem divididas entre um pai abastado, mas violento; e uma mãe que se prostitui para garantir o sustento das filhas e sua independência. A história é narrada na primeira pessoa pela irmã mais velha, que sonha em ser escritora e em ir para Paris.

Naná Howton assume que sua história pessoal inspirou o romance. “A gente sempre escreve o que a gente lembra. Eu sempre digo que tudo o que a gente escreve tem um fundo biográfico”, detalha.

A narradora/escritora tem origem indígena, negra e judaica e a questão do pertencimento, de etnia e de classe, são centrais no livro. “Eu queria mostrar isso porque no Brasil existe bastante racismo, mas não é só o racismo do branco contra as (outras) etnias. Você pode ver na História que os índios não gostam muito dos negros, que não gostam muito dos indígenas, que não gostam do branco, que acusam os judeus de terem comido criancinhas. O racismo no Brasil é meio generalizado. É uma coisa que a gente tem que aprender a superar. E eu acho que a gente supera muito mais rapidamente quando admite que é meio geral, que não é só uma (etnia) contra todas”, analisa.

Violência contra as mulheres

Outra questão central do romance é a violência contra as mulheres. Naná Howton militou muito cedo no movimento feminista. No Brasil, foi “uma das sócias fundadoras do S.O.S. Mulher, que está na origem das delegacias de Mulheres”. Na França, onde morou antes de ir para os Estados Unidos, atuou no Movimento de Liberação de Mulheres (MLF). O movimento conquistou muitos avanços, acredita, mas também muitos recuos recentemente, como o aumento dos feminicídios, no Brasil e no México, por exemplo.

Fazendo uma comparação entre a busca pela democracia nos Estados Unidos pós-Trump, com invasão do Capitólio, e no Brasil pós-Bolsonaro, com o ataque à Praça dos Três Poderes, a militante ressalta a importância de se continuar batalhando. “Temos de estar conscientes de que a luta nunca acaba.” Ela espera que nos dois países o debate e a defesa pela democracia “continuem fortes” e que no Brasil o povo “sobreviva”, pois os brasileiros pertencem à “raça dos sobreviventes”.

“Independentemente dos problemas do país, das dificuldades, é um povo que sobrevive. Eu não acho que é um exagero dizer que é em parte por essa mistura de culturas, de ter ganho força de várias histórias, de várias etnias”, pontua.

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