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Chef defende candidatura do queijo minas artesanal como Patrimônio da Humanidade da Unesco

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Poucos produtos representam tão bem a cultura de Minas Gerais e do interior do Brasil, como o queijo artesanal. Por isso, um grupo de mineiros quer que os modos de preparo da iguaria sejam reconhecidos pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. A chef Bruna Martins defende a candidatura e, junto com outros cozinheiros e instituições, busca internacionalizar a culinária de Minas.

A chef Bruna Martins que defende a candidatura dos modos de preparação do queijo minas artesanal como Patrimônio Imaterial da Humanidade da Unesco.
A chef Bruna Martins que defende a candidatura dos modos de preparação do queijo minas artesanal como Patrimônio Imaterial da Humanidade da Unesco. © RFI
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“O queijo já é uma representação da nossa cultura gastronômica e isso tem sido perpetuado e alimentado dentro do circuito da gastronomia, que está se aquecendo muito em Minas Gerais, principalmente da alta gastronomia. Isso acaba convocando todos, inclusive os micro produtores”, conta Bruna Martins, que está à frente de dois restaurantes em Belo Horizonte e foi chefe da delegação que apresentou o queijo minas artesanal na 17ª Sessão do Comitê Intergovernamental para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco, em Rabat, no Marrocos, que terminou no último sábado (3).

Ela lembra que, no passado, o produto sofreu preconceito em relação a seus modos de preparo, o que chegou a atrapalhar sua comercialização em outros estados, principalmente o queijo minas artesanal, que é feito com leite cru.

“Uma forma de a gente conseguir facilitar processos de comercialização e ainda crescer mais como um polo gastronômico é realmente esse reconhecimento internacional”, completa.

Com esse objetivo, uma comitiva, composta pelas secretarias de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e de Cultura e Turismo (Secult), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e por produtores, esteve no evento para a promoção dos “Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal”. Este foi o primeiro passo no caminho do reconhecimento da candidatura, que será votada em 2023.

Sensibilização e cozinha doméstica

Para sensibilizar as delegações presentes, Bruna realizou uma degustação de queijos apresentados pelos próprios produtores de diferentes microrregiões, além de vários pratos e quitutes, que levaram o sabor de Minas para dentro do plenário da UNESCO.

A chef confessa que organizar a logística para convencer os delegados não foi fácil. Além de viajar com quase 150 quilos de queijo, teve que se adaptar a uma cozinha menor e menos equipada.

“Foi uma loucura, porque a gente teve que viajar com algumas coisas prontas e outras tivemos que preparar”, conta. “A gente arrumou um apartamento com uma cozinha doméstica. Estamos muito acostumadas a cozinhar em cozinhas profissionais, bem equipadas e a gente teve que se virar com essa estrutura”, conta rindo.

“Foi uma experiência importante e bem intensa, mas a gente conseguiu de fato entregar a nossa comida, até porque ela é uma comida muito caseira, que é feita muito dentro de casa, então não tivemos muito problema. Não era uma comida tecnicamente de um restaurante”, relativiza a chef, que defende uma cozinha afetiva e não poupa palavras para defender a candidatura da especialidade de seu estado.

Para ela, o prêmio perpetuaria uma tradição e um conhecimento empírico que deve ser preservado. “Desenvolver uma técnica (culinária) é muito difícil.  Mas o conhecimento empírico, a tradição genuína de modos de fazer, que passa de pai para filho, também é técnica. Isso tem que ser preservado, ser valorizado e reconhecido. Isso é a demonstração mais bonita das nossas tradições não visuais”, defende.

Tradições que, segundo ela, se mesclam com a hospitalidade mineira. “A gente tem esse carinho, esse afeto de receber, de colocar uma broa, colocar um queijo, passar um café. É o modo de fazer o queijo. É a história que é a relação mais bonita do homem com a terra, com os bichos que ele cria”, completa.

Nessa tradição ela destaca a simplicidade da matéria-prima usada no preparo – leite cru, sal e “pingo”, como é chamado o fermento – misturada com a sabedoria do produtor, e a importância do "terroir" para produzir queijos diferentes e de excelência.

“É muito legal a gente perceber que, apesar de não termos ainda o título e não estamos de fato exportando o queijo, vários produtores ganharam prêmios em concursos europeus, inclusive franceses. Não é uma novidade para gente que o nosso queijo é de qualidade, de excelência. A gente tem queijos incríveis e com diferenças muito grandes de sabor, de massa, de densidade, de sal, de cremosidade, de casca”, explica. “Eu tenho segurança para falar que estão entre os melhores queijos do mundo”.

Centro de referência do queijo artesanal

Os esforços da comitiva brasileira na Unesco tiveram frutos. "Os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal" preencheram os critérios de prioridade para candidaturas à lista de Patrimônio Imaterial da Humanidade. Isso significa que em março de 2023, a candidatura pode ser depositada.

A chef foi ao Marrocos a convite do Centro de Referência do Queijo Artesanal, um espaço que promove a cultura e a gastronomia mineiras, além de promover o encontro entre produtores e chefs, além de um dos principais impulsionadores da candidatura do queijo artesanal na Unesco.

Para reforçar a ideia de que a culinária mineira quer ultrapassar as fronteiras do Brasil, Bruna está em Paris para promover parcerias entre instituições de gastronomia francesas e de Minas. Ela participa da iniciativa do chef Leo Paixão, que fundou o Instituo de Hospitalidade e Artes Culinárias, o INHAC, em Belo Horizonte, uma escola de alto padrão de gastronomia para formação de jovens em situação de vulnerabilidade social. A escola está em negociação com a francesa Ferrandi, um dos principais centros de formação culinária da França, para realizar um intercâmbio de professores e de alunos.

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